Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

Intelectuais que traem

Precisamos de líderes que resistam às bajulações e aos agrados do poder

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O debate de ideias no Brasil de hoje é marcado pela polarização. Em geral se crê que aquele que diverge não merece respeito nem ser ouvido. O adepto de determinada ideologia prefere o xingamento ou o recolhimento ao conforto de suas protegidas câmaras de reverberação nas redes sociais a se engajar em discussões civilizadas com adversários.

Muitos intelectuais se tornaram metralhadoras de “lacração” e xingamentos. Ontem mesmo no Twitter, um novo queridinho da extrema esquerda denuncia os organizadores de um painel sobre Previdência por terem escolhido apenas homens, brancos e ricos.

O detalhe é que ele fez parte do painel e se incluía na descrição. A essa grave acusação de preconceito, é inevitável que haja contestações similarmente histéricas, e assim caminha o debate público. 

Como chegamos a esse ponto?

Em seu paper “The Intellectuals and Socialism”, F.A. Hayek explica que esses intermediários de ideias têm o poder de moldar a opinião pública. É uma classe formada por jornalistas, músicos, profissionais do rádio, escritores, comediantes e por reais especialistas em seu campo de atuação, como cientistas e médicos, que passam a ter espaço para opinar em assuntos nos quais são amadores.

Os intelectuais não precisam ser particularmente inteligentes nem deter real conhecimento; basta que se familiarizem com novas ideias previamente à sua plateia e que sejam hábeis em prontamente opinar sobre temas variadíssimos.  

Segundo Hayek, em leitura similar a Gramsci, quando parcela relevante dos intelectuais mais ativos chega a um consenso sobre certa visão de mundo, é apenas questão de tempo até que tais ideias se convertam em políticas públicas.

Julien Benda em seu livro “A Traição dos Intelectuais” (“La Trahison des Clercs”, 1927) argumenta que no século 20 os intelectuais deixaram de se guiar pela verdade e pela razão de forma desinteressada e atemporal; se renderam às paixões do momento e se imiscuíram na política. Foram demovidos a gurus de militantes fanáticos de causas de classes, gêneros, “raças”, ou da nação.

Em traição a seu dever, os intelectuais promoveram pseudo-especialistas com visões minoritárias a cientistas de alta reputação, apenas por possuírem posições políticas progressistas. O marxismo se tornou hegemônico. 

Porém, a intelligentsia se distanciou demais dos anseios do povo e a reação chegou. As massas não engolem os fetiches de que tudo é “construção social” em conflitos de poder, que culturas bárbaras e civilizadas são igualmente idôneas, que crianças de cinco anos devem escolher seu gênero, que o globalismo político deve suplantar as nações, que “lugar de fala” serve como argumento.

E o povo quer emprego, saneamento, segurança, honestidade e não hermetismo de elite desconectada que se identifica melhor com cidadãos globais frequentadores da ONU e de congressos internacionais em universidades.

Isso ajuda a explicar a rebelião das massas representada por Trump, Bolsonaro e brexit.

A polarização exacerbada é resultado da ascendência de uma nova intelligentsia que vem confrontando a hegemonia socialista. Há duas vertentes: a primeira foca ideias atemporais e a busca do que funciona melhor, formada por liberais e conservadores, e a segunda está comprometida com os erros e acertos do governo, que estigmatiza adversários e críticos como inimigos do povo e da nação, buscando silenciá-los.

Hayek conclui seu paper com a recomendação de que “precisamos de líderes intelectuais que resistam às bajulações e aos agrados do poder e que trabalhem por um ideal puro, por menor que seja a chance de sua efetiva realização”. E eu complemento: não de deslumbrados por esse ou aquele governante.

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