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ivan finotti

 

21/10/2012 - 06h39

A pátina do tempo

Alex Brazales, 40, foi punk na juventude e continua a despertar ódio, agora dos antigomobilistas: os amantes de carro antigo não conseguem atinar por que ele trata seu Galaxie 1967 tão mal.

Por mal, entenda-se: quando bateu a frente, há alguns anos, mandou arrumar o capô, mas não deixou pintarem. No restante, a pintura está "queimada", após mais de 40 anos de uso. Pontos de ferrugem pipocam. Perdeu o retrovisor externo e nunca colocou outro.

Simon Plestenja/Folhapress
Brazales tirou as calotas para deixar o Galaxie mais feio
Brazales tirou as calotas para deixar o Galaxie mais feio

Está sem para-choques dianteiro. As calotas moram no porta-malas, para ele mostrar que tem, mas optou por não usar o enfeite. Lavagem? Quase nunca.

"Acho legal assim mesmo. Tenho um pouco da rebeldia contra o antigomobilismo, que só valoriza o carro perfeito e superbonito. Meu carro é um 'survivor' [sobrevivente]", diz ele, que trabalha como guia de turismo levando brasileiros endinheirados para fazer a mítica Rota 66, nos Estados Unidos, com Harley-Davidsons ou Camaros alugados.

Brazales é constantemente cobrado nas ruas. "Já reclamaram da placa preta, disseram que não merecia. Fui proibido de participar de encontro de carro antigo: 'Ou você lava ou não entra'."

O Galaxie preto, com belo interior vermelho e com mecânica em perfeito estado, está com Brazales há 18 anos. "Meu lance é valorizar a passagem do tempo", diz o incompreendido.

Para tirar a foto ao lado, exigiu escolher o local: "Não quero rua arborizada com florzinhas, prefiro uma quebrada na Vila Romana, onde moro".

Desde pequeno ele gosta de carrões gigantes. "Fui criado pelo seriado CHiP's [1977-1983]", lembra, aquele em que dois guardas se envolviam em diversas aventuras nas estradas californianas.

O problema seria cruzar com os patrulheiros John Baker e Frank Poncherello. Eles certamente interromperiam a viagem de Brazales por falta do retrovisor ou do cinto de segurança. "A polícia realmente já me parou algumas vezes. É que parece carro de bandido. Quem gosta são as crianças e os opaleiros."

ivan finotti

Ivan Finotti é editor da revista semanal 'sãopaulo' e jornalista cultural há 20 anos. Recebeu o prêmio Esso de criação gráfica como editor do 'Folhateen' em 2008. Passou por jornais como 'O Estado de S.Paulo', 'Diário de S.Paulo' e 'Notícias Populares' e revistas como 'SuperInteressante'. É co-autor da biografia 'Maldito', sobre Zé do Caixão.

 

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