Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

joão pereira coutinho

 

23/08/2010 - 00h01

A mesquita de Nova York

Eis os fatos: nove anos atrás, cerca de 3.000 pessoas foram massacradas nas torres gêmeas do World Trade Center por fanáticos islamitas.

Passaram nove anos e agora uma associação religiosa e cultural islâmica, inegavelmente "moderada", deseja construir uma mesquita a dois quarteirões do ataque. Os Estados Unidos racharam ao meio. Pior: a maioria dos americanos não quer uma mesquita na zona. Ponto final.

Acompanhei o debate. Escutei muito. Li idem. Respeito, com reverência impoluta, a Constituição americana e a liberdade de culto que ela concede aos filhos da República.

Mas, com a dévida vénia aos legalistas, eu estou com a maioria dos americanos. A lei é inútil, e por vezes nociva, quando é insensível a qualquer bom senso.

E antes que me insultem ou ameacem com os emails habituais, reafirmo três evidências: sim, a religião islâmica é uma religião de paz; sim, os muçulmanos não são todos terroristas; sim, extremistas e fanáticos existem em todos os credos.

Mas, curiosamente, ninguém estaria a debater o assunto se os planos de construção para a zona lidassem com uma igreja ou uma sinagoga. Motivo simples: nove anos atrás, Manhattan não amanheceu com fundamentalistas cristãos ou judeus a derrubarem as torres gêmeas com interpretações fundamentalistas da Bíblia ou da Torah.

Discutimos a mesquita porque, goste-se ou desgoste-se da realidade, Manhattan amanheceu com terroristas muçulmanos -uma tragédia para o mundo, sem dúvida, mas também para a religião islâmica. Porque são os próprios terroristas, e não qualquer tipo de "islamofobia histérica", quem mancha o islã com as cores da morte e da jihad.

Tivessem as autoridades americanas mostrado bom senso desde o início do processo e a mesquita seria construída em Manhattan, sim; mas nunca nas proximidades do Marco Zero, onde a memória da cidade ainda está em carne viva.

Esquecer o óbvio e discutir a beleza da Constituição, como Barack Obama tentou fazer, é prova de cegueira, ou de cobardia, ou de uma triste combinação de ambas.

joão pereira coutinho

João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do 'Correio da Manhã', o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro 'Avenida Paulista' (Record). Escreve às terças na versão impressa e a cada duas semanas, às segundas, no site.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página