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julia sweig

 

04/07/2012 - 03h00

O Brasil pode ter tudo?

Do ponto de vista de Washington, preocupada com suas próprias questões, a crise política no Paraguai poderia igualmente estar acontecendo em Marte.

Depois do ferimento em grande medida autoimposto que Obama sofreu em Cartagena --e do escândalo decorrente da débâcle envolvendo o Serviço Secreto--, esta administração quer distância de mais um golpe, impeachment ou interrupção constitucional nas Américas.

O pensamento é o seguinte: com história, dinheiro, energia e liderança em jogo, o Paraguai é um problema para o Brasil resolver, e graças a Deus por isso.

Deixando de lado comparações com Honduras, o drama mais interessante é como o Brasil usará a crise em Assunção para institucionalizar a afirmação --que vem sendo feita desde o primeiro mandato de FHC-- de que a América do Sul é a âncora estratégica do país em sua política externa, que desde então se tornou verdadeiramente global.

O timing pode mesmo ser tudo. Em questão de semanas, o Brasil ampliou em muito seu potencial comercial e diplomático. Ao assumir a presidência rotativa do Mercosul, a deposição de Lugo e a suspensão do Paraguai deram ao Brasil (e à Argentina) uma oportunidade espantosa para buscar a entrada formal da Venezuela no Mercosul.

Puxar a Venezuela para dentro da tenda do Mercosul é mais "realpolitik" que ideologia. A analogia é imperfeita, mas em 1950 houve oposição considerável na Europa ocidental à sugestão de Jean Monnet de que a França formasse uma união siderúrgica com a Alemanha.

Mais de 60 anos depois, a ideia de que a integração econômica pode servir para abrandar conflitos, de que trazer o "bad boy" da região para dentro da tenda é mais administrável que deixá-lo atirar pedras do lado de fora, com certeza faz parte do cálculo de Brasília.

A lógica: o Mercosul é menos patronagem ou recompensa política que fonte de influência de caráter estabilizador. E isso também é bom para os negócios, e não só os brasileiros.

E, contando com a presidência do Mercosul até o final de 2012, o Brasil será obrigado a focar na América do Sul durante a transição delicada pré e pós-eleições da Venezuela, em outubro.

Com a eleição americana apenas algumas semanas mais tarde, Washington vai contar com o Brasil (e também com a Colômbia) para prever e administrar quaisquer problemas decorrentes de potenciais tumultos em Caracas.

Nesse moto-contínuo de idealismo e realismo na política externa, o Brasil parece estar buscando um equilíbrio frágil: opondo-se a forças políticas antidemocráticas em um ambiente multilateral, protegendo seus interesses econômicos consideráveis e afirmando seu peso diplomático na América do Sul.

Qual é o preço a pagar por querer tudo --princípios, lucro e poder? A impressão inevitável é que, por trás da abordagem consensual à liderança, característica do país, oculta-se a afirmação aberta de hegemonia que inevitavelmente acompanha a assimetria econômica.

Conseguirá Brasília encontrar o ponto de equilíbrio sem sofrer a reação contrária enfrentada por Washington no passado? Só podemos esperar que sim.

@JuliaSweig

Tradução de CLARA ALLAIN

julia sweig

Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas.

 

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