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marcos caramuru de paiva

 

01/12/2012 - 06h01

Os EUA e o projeto chinês

Os dez países do Sudeste Asiático mostram regularmente o peso que têm no mundo ao atrair para as reuniões anuais da sua associação, a Asean, os líderes dos EUA, da China, do Japão e, frequentemente, de outras nações.

A localização estratégica justifica o interesse pela região. Acresce-se a isso que o modelo de diálogo montado pela Asean com os países de fora ""Asean + EUA, Asean + China, Asean + Japão, Asean + Coreia, Asean + 3 (China, Japão e Coreia)"" funciona direito.

Ao longo da última década, a China aumentou sua importância no Sudeste Asiático, enquanto Japão e, sobretudo, EUA perderam espaço. É natural. A China ampliou sua presença econômica em toda parte.
Mas o sucesso da integração das cadeias produtivas entre o Sudeste Asiático e a China superou expectativas. Os fluxos comerciais também.

Ademais, a China tem investido na infraestrutura que a liga aos vizinhos do sul. Isso terá um impacto crescente, pois os custos de produção chineses estão aumentando e as empresas tenderão a transferir suas unidades dependentes de mão de obra barata para Laos, Camboja, Vietnã, Mianmar.

O problema é que a China tem disputas territoriais pela posse de pequenas ilhas com cinco países da região. E aí há ressentimentos.

O governo americano tem buscado reconquistar o terreno perdido. Tenciona reativar as operações militares conjuntas com os países do Sudeste Asiático e parece querer energizar as instâncias de cooperação econômica com a Asean.

Nada mais expressivo que o fato de a primeira viagem do presidente Obama após as eleições ter sido à região. O presidente começou o tour pela Tailândia, país que os americanos sempre trataram como uma espécie de "hub" para as suas operações militares e diplomáticas.

E, em Bangkok, na entonação suave que lhe é peculiar, mas ao mesmo tempo num tom firme, Obama definiu o propósito americano: "sempre fomos uma potência na Ásia do Pacífico" afirmou. Tal afirmação foi a ponte para justificar o fortalecimento da cooperação para a segurança e a revitalização dos vínculos econômicos com a região.

Não é de surpreender que, em seguida ao presidente Obama, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, tenha também se deslocado para a Tailândia. Foi a primeira visita de uma autoridade chinesa desse nível na última década.

Nos anos que se seguem, a China tem tudo para ampliar o seu peso e o seu grau de integração econômica com os membros da Asean. Se, ao lado disso, puder reforçar os laços com os vizinhos na fronteira marítima oriental (Japão e Coreia), vai-se criar no leste asiático uma região de extraordinário peso, que tem potencial para mudar o equilíbrio das relações mundiais.

Os riscos, no entanto, estão no ar. Se a China confiar demais no poder econômico e em sua força militar para administrar disputas, faltará ambiente para uma integração que tenha, além do econômico, um veio político relevante. E, se os EUA se voltarem mesmo para a Ásia do Pacífico com mais interesse e motivação militar, como anunciou Obama, vão inevitavelmente criar problemas para o projeto chinês.

marcos caramuru de paiva

Marcos Caramuru de Paiva, diplomata, é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai, e vive há oito anos no Leste Asiático. Foi cônsul-geral do Brasil em Xangai, embaixador na Malásia, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington. Escreve a cada duas semanas.

 

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