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moisés naím

 

14/12/2012 - 04h30

Uma tragédia e uma esperança

A tragédia é que a América Latina é a região do planeta onde mais humanos assassinam seus semelhantes. A esperança é que em 2013 os latino-americanos comecemos a fazer algo para deixarmos de ser os campeões mundiais do homicídio.

Este ano a guerra no Afeganistão terá cobrado um total de 3.238 vidas. No ano passado houve 41 mil homicídios no Brasil. O conflito entre palestinos e israelenses no mês passado gerou mais ou menos o mesmo total de mortes que um fim de semana "quente" em Caracas.

Em todo o mundo os índices de homicídio ou vêm declinando ou não aumentaram. Na América Latina, vêm crescendo em ritmo acelerado.

El Salvador, Guatemala e Honduras têm os maiores índices de homicídio dos cinco continentes. E a morte também está amplamente presente em outros países da região. Em 2011 foram assassinadas 112 pessoas por dia no Brasil. No México, 71 por dia.

O que explica essa propensão da América Latina ao assassinato? As razões propostas pelos especialistas são muitas e variadas. E insuficientes. A pobreza é uma causa frequentemente citada. Mas, se fosse assim, a China deveria ter mais homicídios que o México.

Outros mencionam a democracia e o fato de que os governos autoritários podem reprimir os criminosos com mais impunidade. Mas a Índia --a maior democracia do mundo, e também um dos países mais pobres do mundo-- tem um índice de homicídios comparativamente mais baixo que o das democracias pobres da América Latina.

O consumo e tráfico de drogas também são assinalados como razões por trás da alta taxa de homicídios latino-americana. Mas nenhum país consome mais drogas que os Estados Unidos. E, se a razão é o narcotráfico, Marrocos é para a Europa o que o México é para os EUA: um país pobre que vende drogas a seu vizinho rico. Contudo, a taxa de homicídios do Marrocos é muito inferior à do México.

Isto não quer dizer que as drogas, a pobreza, a desigualdade ou a fraqueza dos governos não sejam fatores importantes. São, com certeza.

Mas há outros fatores menos evidentes e que não entendemos bem que influem sobre a sangrenta criminalidade latino-americana. Não sei quais são, mas sei que precisamos fazer algo para entendê-los melhor e combatê-los.

Minha esperança para 2013 é que a América Latina decida acabar com sua convivência pacífica com o homicídio. Não existe outra prioridade mais urgente, nem, com certeza, mais complexa e difícil.

Não é um objetivo que compita apenas ao governo ou aos políticos. A igreja, os sindicatos, os meios de comunicação e os empresários, os jovens, as universidades --enfim, o leque mais amplo possível de grupos e setores institucionais poderia mobilizar-se para se comprometer a reduzir o número de homicídios nos próximos anos. Talvez esta seja uma esperança ingênua. Mas mais ingênuo seria não fazer nada.

Esta é minha última coluna deste ano. Retorno em janeiro. Feliz 2013!

Tradução de CLARA ALLAIN

Moisés Naím

O escritor venezuelano Moisés Naím, do Carnegie Endowment for International Peace, foi editor-chefe da revista "Foreign Policy". Escreve às sextas na versão impressa de "Mundo".

 

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