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rita siza
Se vier aos Jogos Olímpicos... não beba?
Parece que os turistas que viajarem para Londres neste Verão a pretexto dos Jogos Olímpicos vão ter uma pequena (desagradável) surpresa. O caso será ainda pior para os locais, como alertava a rádio pública norte-americana NPR onde ouvi a notícia: é muito possível que toda a gente, britânicos e estrangeiros, tenha de desembolsar o dobro do que costumava pagar pelo prazer de saborear um copo de vinho no restaurante ou pelo privilégio de experimentar a cultura local e encher a cara com cerveja no pub mais próximo do hotel.
O preço das bebidas alcoólicas até pode parecer uma preocupação fútil ou trivial no quadro do trabalho preparatório do comité organizador da Olimpíada e restantes autoridades envolvidas no evento, mas ficamos a saber que é algo que o primeiro-ministro David Cameron leva muito a sério. Beber em demasia, declarou o líder conservador, "é um dos grandes escândalos da nossa sociedade". Não admira, por isso, que o chefe do Governo queira solucionar esse problema para não escandalizar demasiado os seus visitantes.
É uma verdade universalmente aceite que os britânicos gostam de beber, e muito. É uma tradição, uma questão cultural (que, diga-se, não é única e exclusiva às ilhas britânicas), uma fórmula identitária. É também um hábito que aparentemente custa milhões ao erário público - mais de quatro milhões de dólares anuais gastos pelo Serviço Nacional de Saúde, informou o primeiro-ministro. O seu Governo quer abater essa despesa, e porventura, ao mesmo tempo, arrecadar um pouco mais de receita para os depauperados cofres do Estado, recorrendo a uma medida polémica e de eficácia duvidosa para fazer o pessoal beber menos: subir o preço das bebidas, através da adopção de um sistema de preços mínimos para o álcool.
Como era de esperar, a ideia avançada por Cameron esbarrou num imenso coro de protestos. Falou-se de responsabilidade, e de direitos, de criminalidade e de uma visão classista da sociedade... Mas um dos argumentos mais poderosos evocados pelo sector das bebidas, pelas associações de bares e restaurantes e pelo lobby dos supermercados foi o dos Jogos Olímpicos. Os turistas que vieram a Londres para a festa esportiva "vão pagar mais 50% por uma garrafa de vinho do que nos seus países de origem", queixou-se a Wine and Spirits Trade Association.
E aparentemente o Governo esqueceu-se de avisar os organizadores da sua intenção de carregar nos preços do álcool. Não sabemos se a medida obrigará o comité a rever a sua recomendação para a população de Londres evitar as previsíveis complicações no trânsito e nos transportes resultantes das multidões olímpicas. "Não haverá problemas de maior se o pessoal passar pelo pub para beber uma cervejinha antes de ir para casa, evitando assim sobrecarregar os transportes nas horas de ponta", sugeriram os responsáveis pela mobilidade.
Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.
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