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rita siza

 

24/03/2012 - 03h00

Desejo de competição

DE SÃO PAULO

O nadador australiano e antigo super campeão mundial, Ian Thorpe, decidiu voltar aos treinos depois de cinco anos na "reforma" para participar nos Jogos Olímpicos de Londres. Há uma semana falhou a qualificação: aos 29 anos, acredito que seja um golpe duro, mas apesar de se confessar desiludido, o atleta disse que a experiência o tinha animado a fixar novos objectivos para a sua renascida carreira - o campeonato do mundo de Barcelona 2013, os Jogos da Commonwealth em Glasgow no ano seguinte e até, quem sabe, a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, quando já terá 33 anos.

Michael Phelps, o fenomenal norte-americano que ascendeu ao cume do panteão dos nadadores extraordinários já no último fôlego da carreira de Thorpe, lamentou a oportunidade perdida para um "tira-teimas" entre os dois em Londres. Em 2004, nos Jogos de Atenas, Thorpe venceu Phelps, na época ainda uma jovem promessa, na prova dos 200 metros livres: foi a única vez que o americano não conseguiu conquistar a medalha de ouro numa prova olímpica (individual).

Como é óbvio, Phelps terá muitos rivais à sua espera em Londres, e é certo que vamos ter duelos renhidos e emoção na competição (poderá o compatriota Ryan Lochte reclamar o seu pódio?). Mas compreendo o seu desejo em voltar a confrontar-se com o seu antigo ídolo - apesar do antigo "torpedo" australiano ameaçar manter-se no circuito, Phelps já fez saber que abandonará a natação quando constatar que já não pode competir ao mais alto nível. "No dia em que acabar, acabou. Não haverá nenhum retorno para mim", garantiu.

Talvez Phelps queira evitar que outros sintam a que ele próprio disse ter sentido ao ler as declarações de Ian Thorpe. "No passado, ele nunca admitiria a possibilidade de falhar. Quando li no jornal que ele não ficaria surpreso se não conseguisse entrar para a equipa, fiquei um pouco triste", admitiu.

Fiquei a pensar como a motivação pode ser algo tão "volátil" para um super atleta. Se fosse comigo, será que eu abandonaria a competição a tempo de evitar a queda do pedestal? Ou seria incapaz de resistir perante a possibilidade da glória, por mais fugaz que fosse? Será que um campeão não consegue deixar de pensar como um campeão?

Foram conhecidos (e sobejamente explorados pela imprensa sensacionalista) os problemas que Phelps sentiu no rescaldo de Pequim, quando se tornou o atleta com mais medalhas de ouro da história dos Jogos Olímpicos. Provavelmente foi a crítica - e o desejo de provar a todos os críticos como estavam enganados - que o motivou a voltar à piscina. As suas últimas entrevistas, nesta fase de treinamento para Londres, mostram um atleta bem mais relaxado e confiante. "Só preciso de fazer o que eu faço, sem soluços", resumiu.

Já Ian Thorpe descobriu, ao voltar à piscina, que ainda possuía um desejo de nadar - uma coisa instintiva, até primordial, que permanece independentemente dos resultados competitivos. "Quando recomecei, o que eu queria era competir. Queria treinar para voltar ao meu melhor nos Jogos Olímpicos.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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