Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

rita siza

 

07/04/2012 - 03h00

Esporte sim, terror não

O terrorismo não é um fenómeno estranho ao movimento olímpico (moderno). Esta semana, na Somália, o esporte não foi alvo, mas uma vítima colateral: um ataque suicida, durante a cerimónia de reabertura do Teatro Nacional da capital, que estava fechado há 20 anos, matou o presidente da federação de futebol e o director do comité olímpico do país - e mais oito pessoas. Dezenas sofreram ferimentos sérios na explosão.

Li na imprensa internacional que logo no dia seguinte ao ataque, reivindicado pelos militantes islamistas do al-Shabab, a vida voltara à normalidade em Mogadíscio. "A violência faz parte da vida quotidiana", assinalava a Associated Press, que depois citava um vendedor de hortaliças, na sua banca junto ao lugar do atentado: "Bombardeamentos e explosões não são nenhuma novidade para nós, quero lá saber disso".

Enquanto mulheres limpavam os vestígios do desastre no Teatro e os homens se dedicavam ao comércio, os atletas voltavam ao seu regime de treinamento pré-olímpico --correndo por toda a cidade. "Apesar da violência, os nossos atletas estão a treinar para regressar a casa com vitórias", explicou o vice da federação de Atletismo da Somália, Qadijo Aden Dahir. Mohamed Hassan Mohamed, um fundista que se prepara para a prova dos 5000 metros, está determinado a viajar para Londres. "Vivemos um dia muito negro. Perdemos dirigentes dedicados, que gastaram grande parte do seu tempo e energia a promover o esporte na Somália", lamentou.

Os esportistas são gente habituada à adversidade, mas esta resposta à violência na Somália é admirável. Aliás, a lidar com o terrorismo, o esporte é pródigo: mudar de vida, abandonar o treino, desistir da competição, é ceder ao horror, ao fundamentalismo, à irracionalidade, intolerância e discriminação. A parada é demasiado alta - a população em Mogadíscio prefere que as crianças possam correr ou jogar no parque, que equipas opostas se possam defrontar sem medo, sem ameaças.

É difícil de engolir, mas compreendo a verdadeira paranóia securitária em torno dos Jogos Olímpicos de Londres. Qualquer evento que reúna multidões e receba a atenção mundial - seja um torneio esportivo, uma cimeira política, uma peregrinação ou festival religioso - não pode mais deixar de ser considerado de "alto perigo", um alvo para terroristas, criminosos, activistas, um risco para organizadores, participantes, membros do público.

Esse é, infelizmente, o mundo em que vivemos hoje. Em poucos meses, a capital britânica vai transformar-se num verdadeiro estado marcial, com navios de guerra no Tamisa e porta-aviões ao largo, para que milhões de pessoas possam participar e assistir nos jogos olímpicos, que desde a sua génese simbolizam a capacidade de superação do espírito humano e a harmonia e paz entre os povos. Já sabíamos, mas a cada volta, lembramo-nos como a História do mundo é mesmo de uma suprema ironia.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página