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rita siza

 

14/04/2012 - 03h00

Reclamação contra o burburinho

Compreendo a vontade/necessidade dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres em espicaçar a curiosidade do público e gerar entusiasmo entre as massas, principalmente agora que o arranque do evento já está tão próximo. Mas não vale a pena entrar em exageros --acho difícil que alguém fique muito emocionado ou salte de entusiasmo e alegria com uma mensagem como esta, que recebi há uns dias na minha caixa de correio electrónico:

"Cara Rita, falta exactamente uma semana para celebrarmos 100 dias até ao início dos Jogos Olímpicos de Londres 2012."

Foi por instinto que comecei a redigir a resposta: "Excelentíssimos senhores, Muito obrigada pela vossa mensagem. Agradeço que, de futuro, me avisem só quando faltarem 100 dias, ou um mês, ou até mesmo quando faltar apenas uma semana para o início dos Jogos Olímpicos. Não é preciso incomodarem-se com todas as outras datas intermédias". Não enviei, claro, estas mensagens são automáticas e não há ninguém do outro lado para ler o correio. Também não queria correr o risco de alguém pensar que podia ser "uma boa ideia", e passar a ter avisos de que dentro de uma semana faltam dois meses, ou dentro de três dias faltam três semanas.

Além disso, se recebo mensagens dos organizadores que regularidade, só me posso culpar a mim própria: foi eu que voluntariamente forneci o meu endereço, pedindo para ser informada de todos os factos (importantes ou irrelevantes) relacionados com a Olimpíada. A informação não pára de chegar, mas devo dizer que quase toda é útil: quando e como concorrer para comprar bilhetes; quais os bairros e as ruas por onde vai passar a estafeta da chama olímpica a caminho do estádio; as datas dos múltiplos eventos da programação cultural paralela ao torneio esportivo...

Comunicar um evento deste calibre só pode ser uma tarefa hercúlea, imagino eu. Daqui, à distância, diria que o pessoal em Londres está a fazer um bom trabalho (mesmo que, de vez em quando, se deixem embalar por um excesso de voluntarismo). Para quem vive em Londres, a experiência será certamente muito diferente da minha. Há uns tempos, a BBC elencou as dez maiores razões de queixa dos londrinos com os Jogos Olímpicos --o caos na cidade, antecipavam, estimando que a circulação automóvel e as viagens nos transportes públicos vai ser uma constante dor de cabeça; a fortuna que vai ser gasta e que para muitos é dinheiro a mais, em tempos de crise e de cortes, para um acontecimento efémero; as dúvidas quanto à utilidade e manutenção de uma enorme quantidade de equipamentos construídos para o efeito e que correm o risco de transformar-se em elefantes brancos.

Mas em lugar de destaque no meio das reclamações, surgia o sentimento de "saturação", "fadiga","sobre-exposição", com os londrinos a sufocar com tanto apelo, mensagem, publicidade, referência aos Jogos Olímpicos. É impossível escapar ou ignorar, dizia um habitante da cidade, "devia haver um santuário, uma zona de silêncio, um lugar de refúgio de todo este burburinho".

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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