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rita siza

 

05/05/2012 - 03h30

Será que é desta?

Não foi preciso esperar muito, após o fim do sorteio que determinou a composição dos quatro grupos do torneio olímpico de futebol (masculino) de Londres, para se começar a discutir a dúvida que, comprovadamente, assola os adeptos do mundo inteiro: será que é desta que o Brasil ganha?

Vi reportagens na BBC e na CNN, li tratados na imprensa e todo o tipo de comentários na blogosfera , um batalhão de repórteres, comentadores e especialistas todos comprometidos com essa missão de esclarecer o público, cada qual enumerando as razões, repetindo as conjecturas ou simplesmente reconhecendo que não tem explicação, que a razão por que o Brasil, vencedor de oito Copas América e cinco Copas do Mundo, nunca foi capaz de se sagrar campeão olímpico - ao contrário dos rivais sul-americanos Argentina e Uruguai - é um mistério.

A pergunta deve ter sido feita por tantos milhões de fãs que até a wikianswers desistiu de encontrar uma resposta: "Acredita-se ou não, o Brasil nunca ganhou uma medalha olímpica de ouro no futebol". Nas onze participações olímpicas, o escrete ficou com a prata em 1984 e 1988 e com o bronze outras duas vezes, em 1996 e 2008.

Todos concordam que a medalha que ilude os brasileiros está perfeitamente ao alcance da selecção canarinha: está nas mãos (ou melhor, nos pés) de Neymar a responsabilidade de conseguir o que Dunga, Romário e Rivaldo não lograram, dizia uma dessas análises; sem dúvida estarão na final e só um louco arriscará apostar contra eles, observava outra; da maneira que o Brasil está a levar a participação olímpica a sério, com a federação a definir a vitória como a grande prioridade do seleccionador, será este o ano da glória, concluía outra.

De resto, tirando a especulação sobre o Brasil, o torneio olímpico que se avizinha só parece oferecer dois outros motivos de interesse a quem se dedica ao comentário esportivo.

Um tem a ver com a equipa do Reino Unido, e não é só por serem os anfitriões e beneficiários da onde patriótica. Apesar de já se terem sagrado campeões por duas vezes (em 1908 e 1912), os britânicos têm estado afastados da competição desde 1960 por causa do estatuto independente que cada uma das nações Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte goza junto da Fifa. O interesse vai ser ver como o "Team GB" se vai apresentar, reunindo as promessas de todos os diferentes países que compõem a Grã-Bretanha e sem nenhuma das estrelas participantes no Euro 2012.

O outro - e que ainda fará correr rios de tinta, antes, durante e depois do torneio acabar - diz respeito ao aparente desinteresse do futebol. O espectáculo esportivo que atrai multidões no mundo inteiro não é, claramente, cabeça de cartaz nos Jogos Olímpicos. Basta ver que, ao contrário do que aconteceu quando abriram as bilheteiras para todos os outros eventos, os ingressos do futebol (mais de um milhão deles) ainda continuam por vender.

É verdade que o calendário não ajuda. A paixão pela bola já terá sido testada, umas semanas antes, no Campeonato Europeu da Ucrânia e Polónia, e os fãs precisarão de descansar e reunir forças antes do início da Premier League, logo logo a seguir à olimpíada.

O resto do mundo pode estar atento, e até ávido, mas na terra do futebol, o entusiasmo de jogadores, treinadores e adeptos pelo futebol olímpico é como um pingo de leite morno na chávena de chá: o pessoal põe quando quer tornar a bebida mais fraca (ou disfarçar o sabor). Mas toda a gente sabe que quando é para ser a sério, o chá só leva água a ferver.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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