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rita siza

 

12/05/2012 - 03h30

Chama olímpica não é a luz ao fundo do túnel na Grécia

DE SÃO PAULO

A chama olímpica foi acesa e começou a circular esta semana por toda a Grécia, mas com o país em suspenso à espera da negociação de um governo, e sob a ameaça da bancarrota nacional lá para o fim de Junho, não censuro os gregos por não terem prestado atenção às cerimónias nas ruínas do templo de Hera, em Olímpia.

Os gregos estão mais para comícios e manifestações do que para festas. Ainda assim, não descurara os seus deveres de anfitriões. Todos os preceitos foram respeitados, como pudemos ver nas imagens do espectáculo: homens envergado uns trajes brancos e às pregas, contorcendo-se em poses reminiscentes (supostamente) das práticas esportivas dos heróis da antiguidade - os homens que originalmente desafiaram os deuses, ousando replicar as suas lutas, competindo durante um mês de tréguas, concórdia e harmonia, pela glória e domínio das suas cidades-estado.

Também lá estiveram as sacerdotisas responsáveis pelo atear do fogo, usando apenas um espelho e os raios do sol para, à semelhança de Prometeu nos tempos imemoriais, "roubar" aquele elemento divino aos deuses. Depois a tocha olímpica foi entregue a Spyros Gianniotis, um nadador grego apropriadamente nascido em Inglaterra, incumbido de correr os primeiros 300 metros de um itinerário com quase 3000 quilómetros que serão percorridos na Grécia antes da tocha voar para o Reino Unido - e ao longo de 70 dias cumprir uma nova ronda, de mão em mão, por todo país (previsivelmente atraindo maior entusiasmo na sua passagem pelas populações), até entrar no estado olímpico de Londres na cerimónia de abertura da competição.

A indiferença dos gregos não retirou emoção à cerimónia no Monte Olimpo. Apesar da tradição da viagem da tocha olímpica ter sido inventada nos tempos de má memória do nazismo, com o objectivo original de fazer propaganda aos abomináveis valores do nacionalismo, imperialismo e da promoção de uma pureza racial, a história foi capaz de reinventar este momento como uma celebração do multiculturalismo que Hitler tanto desprezava.

Tanto o presidente do comité organizador londrino, Sebastian Coe, como o líder do Comité Olímpico Internacional, Jacques Rogge, evocaram o "apelo eterno e universal" do esporte como meio de promoção da paz, do respeito e da excelência. "Os valores olímpicos transcendem a história e a geografia, e em momentos de dificuldades e desafios como os que se vivem actualmente, são mais relevantes do que nunca, em particular para as gerações mais jovens em todo o mundo", lembrou Coe.

Palavras simpáticas, ainda que sirvam de pouco consolo para os gregos. No meio da instabilidade política e caos financeiro, imagino que poucos acreditem que o fogo olímpico traga, como diz a lenda, a paz e salvação do país. Desta vez, nem serve como luz ao fundo do túnel.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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