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rita siza

 

26/05/2012 - 03h30

Confiança e intimidação

O velocista jamaicano Usain Bolt anunciou esta semana que, se chegar a Londres na sua melhor forma, nenhum concorrente neste mundo será capaz de o vencer e, prosseguindo o raciocínio, prometeu que muitos recordes absolutos cairão nos Jogos Olímpicos. Se o atletismo fosse cinema, e a vida de Usain Bolt fosse um filme, bastaria este pequeno "preview" para eu correr para a bilheteira e certificar-me que estaria presente na estreia.

Bolt, que é o recordista olímpico em título nas provas dos 100 e 200 metros, dizia que ia demonstrar a sua superioridade --e invencibilidade-- já estes dias, na competição Golden Spike de sexta-feira em Ostrava, na República Tcheca.

Depois de uma participação decepcionante no Campeonato do Mundo de Atletismo de Daegu, Coreia do Sul, no ano passado, em que foi incapaz de defender o seu título por ter sido desclassificado por falsa partida, Bolt mostrou a sua determinação em provar o seu valor: até agora, pertence-lhe o melhor tempo do ano nos 100 metros (9,82 segundos) que, segundo o próprio, só pode melhorar uma vez que tem trabalhado para resolver as fragilidades detectadas na sua performance --principalmente o arranque. "Sei o que preciso de fazer para ser um campeão e é isso que tenho feito. Tenho melhorado na transição e outros aspectos técnicos. Se estiver em boa forma, não há ninguém que me ganhe", insiste.

Mais do que um extraordinário atleta, o corredor da Jamaica é um verdadeiro mestre na exploração e aproveitamento dramático da sua própria personagem, já quase uma caricatura que ele próprio construiu. São as suas roupas, as suas frases, toda a sua postura quando entra em pista, os sorrisos para a câmara, com gestos que só os mais distraídos não associam a uma poderosa tormenta... Usain Bolt assumiu-se como um relâmpago humano, e desafia a lei das probabilidades que diz que um raio desses não cai duas vezes no mesmo sítio. Ele garante que a sua luz eléctrica vai brilhar, uma e duas e se for preciso três ou mais vezes, no estádio olímpico de Londres.

Sei que há pessoas que acham detestável (e dispensável) todo o jogo psicológico que por vezes tem apenas como objectivo acicatar os ânimos ou desestabilizar os nervos dos adversários antes das grandes competições. É uma mera afirmação de confiança pessoal ou é uma intimidação dos restantes competidores? A minha posição é que se tudo for feito num ambiente de lealdade e respeito --pelas pessoas, pelas instituições, pelo esporte, pelo fair-play e, no limite, pela lei-- é absolutamente válido e legítimo. É, aliás, uma razão acrescida de interesse e de emoção; é o que faz o público querer comprar bilhete e assistir ao espectáculo. Eu já disse, mal posso esperar que suba o pano e o filme comece.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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