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rita siza

 

09/06/2012 - 03h30

Boas intenções

Com o relógio da contagem decrescente a bater nos cinquenta dias até aos Jogos Olímpicos de Londres, os senhores organizadores escrevem-me com uma lista de sugestões: ideias e actividades que eu posso fazer nestes próximos dias - todos os dias - para ficar devidamente preparada, manifestamente entusiasmada e seguramente ansiosa pelo momento em que a chama olímpica entrar no estádio para dar início à competição.

Uma das sugestões parece-me bastante válida. Avisam eles que ainda estou a tempo de procurar, na bilheteira online, ingressos para as partidas de basquete, vólei ou futebol que pelos vistos não esgotaram e ainda têm lugares disponíveis. Depois de tanta celeuma com o processo da venda, e de tanta reclamação por causa da falta de bilhetes, até custa a acreditar que ainda sobram muitos - afinal, não é só na Europa do Sul que os organismos lidam com "imponderáveis" e se vêem forçados a "dar um jeitinho" à última hora...

Outras propostas também me agradam. Por exemplo, churrascos no jardim, pic-nics no parque, copos nos pubs locais - enfim, tudo o que envolva comer e beber e conviver, que é o que se faz numa festa e é bem verdade que os Jogos Olímpicos são uma festa gigante não só para os londrinos como para todos os que os vão visitar e para aqueles que só vão ficar a assistir à distância, pela televisão.

Aproveitar os muitos eventos culturais paralelos é outra ideia bem-vinda. Os Jogos Olímpicos foram o pretexto para a produção de obras de cinema, música e escultura; haverá concertos de música erudita e pop, exposições de artes plásticas, festivais de teatro e ateliers variados abertos à participação de todos. O mais provável é que os visitantes dos Jogos Olímpicos não tenham entrada em todos os eventos esportivos, e é muito bom que a cidade tenha preparado uma programação tão rica para acrescentar à sua tradicional oferta turística.

Mas há coisas que me irritam, sobretudo esta mania dos senhores do marketing de querer ensinar-me quais as emoções que devo sentir e quais as coisas que devo fazer para as exteriorizar. Por isso há sugestões - fazer uma grinalda de flores com as cores nacionais, pendurar uma bandeira à janela, comprar o "merchandising" oficial - que me soam artificiais e descabidas.

Era bem melhor que a organização não assumisse essa postura paternalista. Admito que tenham boas intenções, mas podiam também ter boas ideias. Já sabemos que o objectivo é vender e fazer dinheiro, e mostrar ao mundo imagens de pessoas felizes em estádios e pavilhões repletos. Se tudo tiver sido bem planeado, essas coisas acontecerão naturalmente. Como se viu agora nas celebrações do Jubileu da rainha Isabel II, nem o mau tempo consegue parar a festa, se a intenção do pessoal for festejar.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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