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rita siza

 

14/07/2012 - 03h30

Tempo para os planos de contingência

Com a construção do estádio olímpico a terminar bem antes do prazo, como também aconteceu com o centro aquático, os pavilhões para o basquete ou o ciclismo, os relvados para o hóquei, os circuitos equestres, a aldeia para os atletas e o centro para a mídia; com as faixas de rodagem e os corredores especiais de trânsito marcados nas estradas; com a rede de transporte público reforçada; com as lotações esgotadas e os ingressos distribuídos; com os guias turísticos impressos e com tudo o que é loja (oficial ou não) a rebentar de mercadoria olímpica... ninguém imaginaria que o pessoal do comité organizador de Londres andasse agora, freneticamente, a fazer planos de contingência para responder a "imprevistos", duas semanas antes do arranque da competição.

Lá se vai o mito do planeamento e organização perfeita.

Um desses imponderáveis, tão prosaico e caricato, tem a ver com o tempo, isto é, com o frio, o vento e os aguaceiros que ameaçam estragar o barato dos atletas e do público que viajou para a capital britânica. Resolvidos a proporcionar a todos uma experiência inesquecível - apesar do que os mídia, num golpe de ironia genial, designaram como o "inclemente verão britânico"--, os organizadores já encomendaram milhares de ponchos para proteger da chuva os espectadores que previsivelmente demorarão horas para entrar nos recintos.

A chuva intensa nos últimos dias já obrigou a adiar a realização de jogos de ténis, concertos de música e outras actividades ao ar livre. As previsões meteorológicas são bem desanimadoras, perspectivando mais chuva até ao fim do mês. O comité organizador teme que a situação possa afectar o espectáculo da cerimónia de abertura, as provas de canoagem ou de vólei de praia e BMX - será que vão avante debaixo de tempestade?

Já em relação ao outro plano de contingência discutido nos últimos dias, e que implica a apressada entrada em cena de 3500 militares para assumir o posto do pessoal que a empresa responsável pela segurança não conseguiu contratar/treinar/destacar a tempo, não tem nada a ver com a imprevisibilidade mas sim com a incompetência.

Parece difícil de acreditar, mas a G4S, que ganhou o contrato para prestar a segurança nos recintos olímpicos, no valor de 284 milhões de libras, acaba de informar que poderá não ser capaz de satisfazer todos os critérios estabelecidos para o sucesso dessa operação, particularmente em termos do pessoal disponível para as tarefas vigilância.

A confissão obrigou o ministério da Defesa do Reino Unido a "solicitar" a ajuda do Exército: soldados que estão prestes a partir ou então acabaram de regressar da guerra do Afeganistão, militares que ficarão com as suas licenças de férias canceladas, vão preencher o vazio dos "guardas olímpicos" que a G4S falhou em providenciar: dos 13 mil prometidos, só 4 mil estão já preparados para entrar ao serviço.

O recurso ao pessoal de guerra inflamou ainda mais o coro de críticas que já berravam contra o uso excessivo de equipamentos militares (mísseis, tanques de guerra, fragatas) na operação olímpica. Todo o mundo que participa nos Jogos Olímpicos precisa de se sentir seguro, mas ninguém quer viver a festa do esporto debaixo de um estado de alerta policial.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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