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rita siza

 

30/07/2012 - 15h45

O terceiro mistério de Londres

DE SÃO PAULO

Se os mistérios vêm em conjuntos de três, como no caso dos segredos que a Nossa Senhora de Fátima revelou aos três pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco lá em Portugal, pergunto-me se vamos ficar já a conhecer o terceiro mistério dos Jogos Olímpicos de Londres, ou pelo contrário, temos pela frente anos de espera e especulação.

O primeiro mistério dos Jogos de Londres, naturalmente, dizia respeito ao sucesso ou fracasso do espectáculo criado por Danny Boyle para a cerimônia de abertura. As críticas não foram unânimes, mas quase todas apontavam para um rotundo sucesso (eu confesso que fiquei rendida quando o James Bond entrou no palácio para ir buscar a rainha).

O segundo mistério também já está desfeito: os recordes continuam a cair na capital britânica, apesar de muitos acreditarem --e insinuarem, ainda por cima com certezas científicas-- que era impossível aos atletas da atualidade suplantar as marcas já sobre-humanas dos seus antecessores. Segundo este raciocínio, só haveria duas formas de ultrapassar os limites do corpo humano: ou com recurso ao doping, ou através de mudanças tecnológicas (nos equipamentos, por exemplo).

A discussão não é nova e nem original das Olimpíadas. A cadeia ESPN fez o favor de lembrar antes dos Jogos que devia haver uma "razão" para que, por exemplo, o fenomenal nadador Michael Phelps se tivesse revelado incapaz de melhorar os seus tempos (sete dos quais são recorde mundial) desde 2009. Ou que em modalidades como o salto em distância ou o lançamento do disco, os recordes do mundo se mantenham imbatíveis há mais de uma década.

Mas eis que logo no primeiro dia da competição em Londres apareceu logo um novo recorde mundial, do insuspeito e extraordinário Im Dong Yun, da Coreia do Sul, um atleta do tiro com arco que é legalmente cego.

E de então para cá, já se registraram várias novas marcas mundiais no remo, no halterofilismo, e na natação, onde já ninguém usa aqueles fatos inteiros LZR da olimpíada de Sydney... E alguns dos recordes batidos já tinham mais de dez anos, como o que a dupla de remadores neozelandeses conhecidos como "Os Intocáveis" obliterou, retirando-lhe quase seis segundos logo à primeira tentativa.

Em Londres, tudo parece ter a ver com indivíduos verdadeiramente sobredotados ou equipes incrivelmente laboriosas e preparadas. Mas isso não quer dizer que o espectro do doping não paire sobre a competição. Até agora, foram suspensos sete atletas por casos relacionados com o uso de substâncias dopantes (quase tantos como os que foram impedidos de participar por frases ridículas e estúpidas nas suas contas do Twitter).

E não foi preciso esperar muito após a prova assombrosa da nadadora da China Ye Shiwen, de apenas 16 anos, para o seu novo recorde do mundo nos 400 metros estilos (4min28s43) ser posto em causa. "A história da natação mostra-nos que sempre que vemos algo que é inacreditável, acabamos mais tarde por saber que havia doping envolvido", especulou o director-executivo da Associação de Treinadores de Natação dos Estados Unidos, John Leonard.

A suspeita de algo menos próprio foi levantada pelo tempo de Ye nos últimos 50 metros da prova - a chinesa foi mais rápida do que o americano Ryan Lochte, que nadou (e venceu) a versão masculina da mesma corrida.

Se calhar, é esse o terceiro mistério de Londres.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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