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rita siza
Notícias do Afeganistão
DO PORTO
No meio de toda a histeria e especulação que ocupa a mídia mundial, e que diz respeito ao que andaram ou não andaram a fazer alguns generais dos Estados Unidos em Cabul nos seus tempos livres da guerra, deparei-me com uma história do Afeganistão que não tenha nada que ver com sexo, nem espionagem, e nem com conspirações e maquinações políticas.
É uma história que tem a ver com o amor dos afegãos pelo futebol: uma "loucura" nacional que esteve vedada à maior parte da população durante o regime taliban, e que recentemente despontou como uma "febre", segundo a descrição da revista Vanity Fair.
O repórter Tom Freston esteve em Cabul no mês passado e pode assistir a vários jogos de futebol, ao vivo e na televisão. O fenómeno é recente mas é um sucesso --trata-se do estabelecimento de uma versão de campeonato nacional de futebol, um torneio organizado pela primeira vez por uma organização profissional, a Primeira Liga Afegã, e consiste em oito equipas cujas partidas, além de encherem estádios, também podem ser acompanhadas na televisão (depois da queda dos taliban, que proibiam a música, o cinema e a TV, o Afeganistão ganhou 75 estações de televisão).
A Liga é puro esporte e pura diversão, mas a sua organização tem um óbvio contexto político. Num país devastado por mais de três décadas de guerra constante, massacrado por inimigos e ocupantes estrangeiros e por ódios internos, as oito equipas de futebol foram montadas para demonstrar que a unidade nacional é possível. Cada time tem jogadores de diversas etnias, para que o importante seja a habilidade no esporte e não a lealdade tribal.
Segundo constatou o correspondente da revista norte-americana, o ambiente no estádio era de festa e de paz. Nas bancadas havia homens, mulheres, novos, velhos, que se embalavam com a música debitada pelos altifalantes e que vibravam com o jogo.
Para ele, o facto de os afegãos poderem, pela primeira vez em muito tempo, assistir a um jogo no estádio ou discutir os seus times no café é um sinal --entre muitos outros-- de um grande avanço no país (o repórter cita outros dados para argumentar a sua tese: o aumento da esperança de vida, a integração das meninas no sistema educativo, a explosão do número de celulares...).
Pode ser uma visão ingénua, e é fácil contra-argumentar que em tempo de guerra um campeonato de futebol é coisa supérflua. Mas quando um país luta para reerguer-se entre tanta destruição e dificuldades, o esporte pode ter um papel tão importante como o parlamento, as escolas, os mercados, os tribunais. Uma sociedade costura-se com muitas linhas de muitas cores, e fiquei agradada por saber que vai ter gol no quadro final.
Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.
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