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rita siza

 

30/11/2012 - 16h42

Pobre tatu-bola

DO PORTO

Curiosa com a última polémica da Copa de 2014, resolvi fazer um exercício teórico e fui à procura de uma definição para "fuleco" no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa.

Não encontrei nada que servisse o meu propósito. Deliberadamente não fui consultar as entradas relativas nem a futebol nem a ecologia, como parece que fez quem decidiu construir uma nova palavra composta para designar a mascote do mundial brasileiro.

O mais aproximado que por lá havia era "fulista": operário têxtil que trata da fula dos feltros para a confecção de chapéus. Nada que ver, portanto, com um tatu-bola estilizado para representar um campeonato de futebol.

Por causa do famoso acordo ortográfico que enlouquece meio mundo em Portugal e no Brasil, até procurei com um O, foleco, mas o resultado foi o mesmo -- nada. A não ser, claro, "foleiro", que tanto pode ser a pessoa que faz ou vende foles, como uma pessoa vil e desprezível ou a pessoa que demonstra mau gosto na forma de vestir, de se expressar, de agir...

Entretanto, uma outra busca num dicionário informal de Português disponível online, produziu 28 definições para "fuleco". As primeiras entradas, criadas pouco tempo após o baptismo oficial da Fifa, remetiam a explicação para o processo levado a cabo pelo organismo directivo do futebol mundial: " Fuleco não tem significado pois foi um nome criado para designar o mascote da Copa do Mundo de 2014", escreveu uma alma caridosa. Já as entradas mais recentes revelavam como a escolha tinha provocado fúria e descontentamento, apontando significados para o nome que prefiro não reproduzir aqui.

Pobre tatu-bola! Ainda agora nasceu e já carrega tanta discórdia aos ombros. A esta hora que escrevo, nem arrisco prever quantas mais assinaturas já ganharam as várias petições que correm pela internet para mudar o nome ao bicho. Aqui deste lado do Atlântico, já recebi pelo menos três -- será que todos vão chegar ao milhão de assinaturas? E já agora, uma pergunta inocente: vai adiantar o quê?

Para aqueles que não se conformam com o nome Fuleco, aqui fica uma palavra de consolo. O nome da mascote pode parecer algo terrivelmente importante quando não nos agrada a escolha, mas na realidade não é assim tanto: num esforço mental para recordar outras mascotes do passado, só me consegui lembrar do Mischa dos Jogos Olímpicos de Moscovo e do Naranjito da Copa da Espanha. Ah, e o ciclónico Wenlock de Londres (embora acredite que esse é um nome que vou rapidamente esquecer).

Precisei de ir ao Google para escrever que na Euro Copa de 2004, aqui em Portugal, a mascote era o Kinas. Não era só o nome que me escapava, era toda a figura do boneco, por sinal bem apagadinho. Mas os jogos desse Europeu, lembro quase do princípio ao fim. E final, é isso que importa.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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