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rita siza

 

14/12/2012 - 19h33

Um estádio de futebol não é um campo de batalha

DE SÃO PAULO

Na Holanda, uns delinquentes mataram um juiz de linha amador à pancada, depois de um jogo da liga de juniores. Na Argentina, o dia da torcida do Boca Juniors terminou em motins. Em França, o Bastia ficou impedido de jogar em casa após vários episódios de violência no estádio. E no Brasil os jogadores do Tigre queixam-se de ter sido atacados nos balneários do Morumbi durante o intervalo da final da Copa Sul-Americana com o São Paulo. O que é que se passa, será que a ansiedade da época natalícia está a deixar tudo doido?

A violência das multidões verificada durante a época de 2011-2012, que registrou um auge de mais de uma década, levou a Alemanha a rever os regulamentos relativos aos estádios e apertar as medidas de segurança - e também as punições para os transgressores. A federação alemã frisou que o país ainda não enfrenta uma situação de crise generalizada, mas justificou a necessidade de agir imediatamente (e responsavelmente) para prevenir uma escalada, de consequências sempre imprevisíveis.

A Alemanha é o país com maior taxa de ocupação dos estádios e com mais público nos estádios de futebol. As decisões não agradaram às torcidas, que têm organizado manifestações para protestar contra as alterações impostas na Bundesliga. Estragam a experiência do torcedor, dizem, prometendo continuar a lutar pelos seus "direitos". Mas que direitos são esses, pergunto, que degeneram em ataques, vandalismo, violência?

Nem o campo nem as bancadas de um estádio são terreno para batalhas campais, manifestações racistas ou xenófobas, vandalismo, hooliganismo. Nenhum amor ao esporte, ao clube ou ao país, justifica actos gratuitos de violência e insanidade.

Nem justifica que se tome a população de uma cidade por refém durante um dia inteiro - como aconteceu em Buenos Aires, que ficou literalmente paralisada pela festa da torcida do Boca Juniors. Aqueles que não participaram na festa, tiveram de suportar os engarrafamentos no trânsito, a destruição do mobiliário público, e ao cair da noite, os confrontos dos adeptos mais "animados" com a polícia de choque, que decidiu responder com bastões e canhões de água aos excessos do pessoal.

E a balbúrdia em São Paulo - que não tem nada a ver com o comportamento incorrecto, indisciplinado ou perigoso do público nas bancadas - é mais um exemplo lamentável de como uma festa do futebol pode rapidamente evoluir para uma situação de contornos duvidosos e que já não tem nada a ver com o esporte e a competição.

É difícil opinar sobre o sucedido sem que todos os factos estejam devidamente apurados: no meio de tantas afirmações, alegações, versões e opiniões contraditórias, corre-se sempre o risco de tomar como certa uma história errada. Por enquanto, o único facto objectivo é que o time argentino não regressou ao relvado para a segunda parte da partida, invocando falta de segurança dos seus jogadores. É preciso saber se tinham razões para usar esse argumento, e confirmar ou desmentir a existência de ameaças e agressões por parte de policiais e seguranças. Prolongar a dúvida e a confusão é a pior alternativa.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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