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roberto rodrigues

 

30/06/2012 - 03h00

Muito ou pouco?

DE SÃO PAULO

O melhor resultado da Rio+20 foi o fato de o tema sustentabilidade se tornar objeto de conversas e debates no mundo todo. Mesmo quem não entendia nada sobre isso foi obrigado a conhecer um mínimo, dada a ampla exposição, pela mídia, dos assuntos relacionados.

Por isso, de agora em diante qualquer pessoa terá a sustentabilidade no seu radar.

E o pior resultado foi a não discussão, em termos adequados --isto é, em profundidadeÐ da complexa questão da mudança do modelo de consumo.

Os ricos não querem diminuir seus padrões de vida e de consumo, e os pobres querem ficar iguais aos ricos. Isso será claramente insustentável e constituirá o grande desafio da humanidade: mudar os hábitos. E quanto custará isso? Ou melhor, o que custa isso?

Custa votos, milhões de votos pelo mundo todo e nenhum governo está disposto a perder votos.

Sobretudo no quadro da crise em que estamos metidos, na qual as dificuldades dos governos em gerar empregos --ou em pelo menos manter os atuais--, em conseguir investimentos produtivos, em ampliar o comércio internacional, em controlar a inflação (cuidando da moeda e do câmbio) e ainda seguir crescendo são as grandes batalhas no interior de cada país.

Até porque, não logrando isso, os governos perderão as próximas eleições para as oposições, como na França.

Por outro lado, a ambição inicial de uma monumental reunião como essa que a ONU organizou no Rio na semana passada é muito grande. Criou-se uma expectativa impossível de ser atingida.

Imaginemos essa ambição representada graficamente por um grande círculo, digamos, de dois metros de diâmetro. Aí vem um país e corta um pedaço do círculo; outro corta outro pedaço, um bloco de países articulados tira um naco maior, e assim, aos poucos, o círculo vai diminuindo, diminuindo.

Como o resultado final só pode ser obtido por consenso, ele acaba representado por um mínimo múltiplo comum pequenino, um anelzinho de dois ou três centímetros de diâmetro.

É claro que todo mundo que esperava um final negociado de pelo menos um metro de diâmetro (na nossa imagem gráfica) vai achar o resultado pífio, insuficiente.

É mesmo muito difícil o atual modelo das negociações multilaterais, e ele está sendo questionado. Afinal, de repente um grupo de países pequenos inibe uma decisão tomada pela grande maioria.

Mas por trás disso tudo está um item que tenho discutido neste espaço: o que falta mesmo são líderes de envergadura global. Falta quem tenha uma visão estratégica planetária para conduzir as negociações e apontar uma direção.

A morna discussão que deu origem ao documento final "O Futuro que Queremos" mostra isso: faltou comando! Felizmente, o Brasil se destacou nas discussões e deu o tom melhor possível ao acordo que, na verdade, joga as decisões para a frente. Para outros negociadores, inclusive.

E a agricultura? A versão final do documento em inglês tem 24.163 palavras. E a palavra "agricultura" aparece somente seis vezes (uma delas na digitação por extenso do nome da FAO). Só seis vezes! E todas elas acompanhadas do adjetivo "sustentável".

É muito pouco para um dos setores mais importantes do mundo para tratar do combate à pobreza, para resolver a segurança alimentar, para preservar recursos naturais, para se preocupar com a água etc.

Muito pouco. A palavra "rural" aparece mais vezes, 20 no total, mas sempre se referindo a algo ligado ao campo: mulher rural, comunidade rural, área rural, infraestrutura rural, desenvolvimento rural, pobreza rural. Tudo em tese, nada concreto.

E uma novidade: a palavra cooperativa aparece três vezes, embora apenas uma vez como cooperativa agrícola.

Esse é o documento da ONU, a mesma instituição que nomeou 2012 como o "Ano Internacional do Cooperativismo"? Muito ou pouco?

Bem, isso é página virada. Agora, vamos trabalhar para valer na construção de um moderno Código Agroambiental. Aí teremos nossa própria estratégia de desenvolvimento sustentável, a Brasil 21.

roberto rodrigues

Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp-Jaboticabal. Foi ministro da Agricultura (governo Lula).

 

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