Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Descrição de chapéu Todas Banco Central copom

Nosso crescimento continua vulnerável

Fundamentos fiscais são frágeis e há dúvidas sobre as políticas monetária e cambial

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Enquanto a atividade econômica traz notícias bastante positivas, como o crescimento do PIB acima do esperado no segundo trimestre, as dúvidas fiscais junto à sequência de sinais e ações emitidos recentemente pela autoridade monetária têm impactado os ativos brasileiros, com um aumento dos prêmios de risco.

Nos últimos 20 dias, o real foi a moeda emergente com pior performance (com exceção do peso mexicano), as expectativas de inflação aumentaram significativamente e a curva de juros de longo prazo abriu cerca de 65 pontos base (com o diferencial de juros de 10 anos do Brasil contra os Estados Unidos), alcançando seu maior valor nos últimos 12 meses.

A comunicação do Banco Central, marcada por frequentes discursos de seus diretores e presidente, tem provocado turbulências desde a divulgação da última ata. Apesar de tentarem transmitir uma mensagem de consenso sem fazer uma sinalização ("guidance") clara sobre a tendência da Selic, a instituição fez questão de reforçar na semana passada que, caso haja um aumento nos juros, este será gradual.

Esse importante sinal, inclusive, vai contra a ideia bastante repetida pela diretoria do BC de que farão o que for necessário para trazer a inflação à meta, sem nenhum tipo de preferência ou restrição.

Diante de tantas incertezas externas –em particular a extensão do ciclo de queda de juros nos EUA– e internas –como o grau de ociosidade da economia e a evolução da política fiscal–, a sinalização de gradualismo acaba sendo vista como um "guidance" incompatível com um futuro ainda bem imprevisível.

gráfico PIB no 2º trimestre de 2024
Variação do PIB no 2º trimestre de 2024 - Arte Folha

Em relação à política cambial, tivemos a primeira intervenção no mercado à vista desde abril de 2022. A justificativa foi evitar uma possível disfuncionalidade, diante de um fluxo específico de saída de capital de quase US$ 1,5 bilhão. Embora a motivação tenha sido técnica, o mercado esperava que esse fluxo fosse absorvido naturalmente, assim como ocorreu ao longo de ano passado com a primeira saída de cerca de US$ 50 bilhões, pela conta financeira.

Essa segunda intervenção, realizada via swap cambial, gerou desconforto, não ficando claro o seu real motivo.

No campo fiscal, a apresentação do Orçamento de 2025 incluiu a alta de dois impostos (CSLL e JCP) e a reoneração da folha de pagamentos e dos municípios —que enfrentam grande resistência no Congresso—, o novo programa do gás (que burla regras fiscais) e uma arrecadação extraordinária de aproximadamente R$ 160 bilhões.

Segundo o Ministério do Planejamento, reformas estruturais de desvinculação do gasto serão submetidas somente no segundo semestre do ano que vem e provavelmente não devem ser aprovadas tão perto de 2026.

Em resumo, o retrato da economia brasileira hoje é de crescimento elevado com inflação controlada.

Contudo, os fundamentos fiscais são frágeis e há muitas dúvidas sobre a condução das políticas monetária e cambial. Mais uma vez, estamos perdendo um ambiente externo favorável e aumentando nossa vulnerabilidade a ele.

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