Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Preço da mandioca dispara com redução na área de plantio

Aumento real é de 74% em um ano, e alimento perde espaço para culturas com demanda externa e rentabilidade melhores

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Mais um produto entra na lista dos alimentos básicos que têm preços com forte elevação neste ano e passam a pesar no bolso do consumidor de menor poder aquisitivo em um período de aperto de renda e inflação alta: a mandioca.

A tonelada da raiz, neste mês, está com valores 85% superiores aos de outubro de 2021. Descontada a inflação, o aumento real é de 74% no período, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Fábio Isaias Felipe, pesquisador do Cepea, afirma que esses preços, aos poucos, vão chegar aos consumidores. Em setembro, conforme dados da cesta básica da Esalq/Fealq, o aumento da farinha de mandioca já foi de 11%, em relação aos valores de agosto.

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Mandioca em feira livre do Jardim Aquarius, na zona oeste da cidade de São José dos Campos (SP) - Lucas Lacaz Ruiz - 26.abr.2019/Folhapress

Boa parte dessa aceleração de preços se deve à contínua redução de área de plantio, o que já vem ocorrendo com outros alimentos básicos, como arroz e feijão.

Esses alimentos perdem espaço para culturas com demanda externa e rentabilidade melhores. São os casos de soja e de milho.

Nas pesquisas da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em vista dessa perda de área interna por alguns produtos e de maior demanda externa por outros, a farinha de mandioca já acumula alta de 32% para os consumidores de São Paulo nos últimos 12 meses.

Nesse mesmo período, o consumidor também recebe a pressão de alta de 49% da farinha de milho; de 67% do fubá; e de 19% do feijão.

O arroz, após elevação de 77% nos supermercados em 2020, vem caindo e está com recuo de 3% nos últimos 12 meses. O cenário internacional para esse cereal, no entanto, não é bom.

O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta uma redução da produção e um aumento do consumo mundiais. Grandes produtores, consumidores e exportadores como Índia, Tailândia, Paquistão e China, têm safra ou estoques menores em 2022/23.

Felipe acredita que a alta de preços esteja associada à redução atual de área cultivada e à perda de competitividade da mandioca. Dados do IBGE mostram que, em 2021, a área semeada com mandioca foi 34% inferior à de 2010. Nesse mesmo período, a de feijão recuou 30%, e a de arroz, 42%.

Já o cultivo de soja aumentou 76%, e o de milho, 64%. Essas culturas ocuparam parte das áreas deixadas por mandioca, arroz e feijão.

Carlos Estevão Leite Cardoso, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, afirma que essa aceleração de preço precisa ser olhada de um ponto de vista de ciclos.

A entrada e saída de produtores nesse setor é fácil, e muitos aproveitam o momento de preços elevados para ganhar dinheiro. Quando a oferta aumenta, e os preços recuam, eles saem.

Neste período do ano, além de ser uma fase sazonal de alta para o produto, há a combinação de uma série de fatores que provocaram a queda na oferta e elevaram os preços, segundo o pesquisador da Embrapa.

Entre os principais motivos, ele cita os preços atrativos dos grãos; a alta da arroba do boi; condições climáticas prejudiciais às lavouras, o que afetou a produtividade; e a saída do produtor oportunista da atividade, quando os preços estavam baixos.

A conjugação desses fatores pode levar a alta de preços da mandioca e de seus derivados para além deste ano, continuando em 2023.

Cardoso afirma, ainda, que um dos principais problemas do setor é a falta de uma governança. Para ele, é necessária a ampliação das informações de mercado, principalmente quando se referem a preços, área plantada e produção. E essas informações têm de contemplar todo o mercado brasileiro.

Não só o consumidor sofre com essas alterações bruscas de valores mas uma cadeia ampla da indústria.

Além da utilização na produção de embutidos, biscoitos, panificados, tapioca e pão de queijo, a mandioca vai para as indústrias de papel e química.

Para Cardoso, esses ciclos de alta e baixa, que podem durar de três a quatro anos, afetam não só o bolso do consumidor mas retiram a competitividade da mandioca no processo industrial.

Felipe, pesquisador do Cepea, diz que a redução de oferta de matéria-prima e a ineficiência econômica nesses períodos provocam uma ociosidade superior a 60% nas indústrias.

Dentro da porteira, já foram feitos alguns avanços, segundo Cardoso. A produtividade média do Brasil, conforme o IBGE, é de 15 toneladas por hectare, mas Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo já estão próximos de 25 toneladas.

A mandioca começa a ganhar alguns nichos de mercados e com maior valor agregado, como produtos sem glúten e os usados em receitas fitness. A demanda, no entanto, ainda é pequena.

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