Descrição de chapéu Reforma tributária

Supermercados propõem taxar bets com 'imposto do pecado' para ampliar cesta básica na reforma

João Galassi, da Abras, diz que governo foi incoerente com decreto de Lula sobre cesta básica

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Brasília

O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, propôs ao Ministério da Fazenda a taxação das bets com o IS (Imposto Seletivo) na regulamentação da reforma tributária para garantir a ampliação da lista de produtos da cesta básica nacional com zero de imposto.

A proposta foi apresentada ao secretário Extraordinário de Reforma Tributária, Bernard Appy, após o projeto de regulamentação ser enviado ao Congresso, na quarta-feira (24), com uma lista muito enxuta de alimentos e sem nenhum tipo de proteína animal, como carnes e peixes.

Apelidado de "imposto do pecado", o IS foi criado na reforma tributária para coibir comportamentos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Itens da cesta básica em supermercado - Prefeitura de São Paulo

A regulamentação também estabelece uma lista dos produtos que poderão ser taxados pelo Imposto Seletivo. Entre eles, veículos, bebidas, cigarros, minérios, bebidas alcoólicas e açucaradas.

"Perguntei ao Appy: O novo mercado de apostas bet não poderia sofrer a incidência de imposto seletivo considerando o vício em jogos aliado à questão da saúde?", contou à Folha o presidente da Abras.

"Estamos falando de receitas absurdas arrecadadas pelos jogos. É uma questão de saúde pública e deveria constar como imposto seletivo", justificou Galassi.

Segundo ele, Appy respondeu que o IBS e a CBS (dois tributos criados pela reforma) já irão incidir sobre os jogos e acenou que avaliaria a sugestão.

Para o presidente da Abras, o governo apresentou uma cesta básica nacional mínima, que foge do que estabelece o texto constitucional. Para ele, a lista é incoerente também com o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de março, com diretrizes para sua composição.

Portaria do Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social que trata do decreto de Lula definiu dez grupos alimentares: feijões (leguminosas); cereais; raízes e tubérculos; legumes e verduras; frutas; castanhas e nozes (oleaginosas); carnes e ovos; leites e queijos; açúcares, sal, óleos e gorduras; e o grupo de café, chá, mate e especiarias.

"O texto constitucional é muito claro. A cesta tem que atender os preceitos da Constituição para combater a insegurança alimentar, ser saudável, nutritiva e com produtos regionais. Foge também do decreto. Isso me deixou espantado", disse Galassi. "Não respeitaram nem as diretrizes apresentadas pelo próprio governo e assinadas por Lula", acrescentou.

Para ele, a cesta básica nacional do projeto do governo traz um viés discriminatório, porque distancia ainda mais a população de baixa renda do consumo ideal. Ele citou fala do diretor de programa da secretaria Extraordinária de Reforma Tributária, Rodrigo Orair, que em entrevista coletiva para explicar o projeto informou que, em termos proporcionais, o consumo de carnes da pessoa mais pobre é o mesmo da rica.

O que diferencia um e outro é exatamente o tipo de consumo de carne. "Só que o problema é que nós não estamos falando do mais pobre que ganha R$ 600 reais apenas. Temos 64% da população brasileira pobre no país e uma classe média que ganha até R$ 2,5 mil", ressaltou.

Na entrevista, Orair defendeu a lista sem a proteína animal e ponderou que a medida provocaria um choque de alta na alíquota média de referência de 26,5%, calculada com base nas regras estabelecidas no projeto do governo. Os números apontam uma elevação de 0,7 ponto percentual da alíquota para os demais contribuintes. A alíquota média chegaria a 27,2%.

A reforma previu a possibilidade de redução em 60% da alíquota cheia para alimentos. As carnes entraram nessa lista.

"Quando ele diz que a carne é consumida tanto pela população mais rica como mais pobre na mesma proporção, um por um, deveria considerar que ela é um produto extremamente importante para ser alijada da cesta básica nacional", rebateu Galassi.

A estratégia da Abras é negociar o aumento da lista no Congresso com base na cesta básica de categorias de produtos incluídas em projeto apresentado pelas frentes parlamentares. "Vamos colocar, sim, a tapioca, o pão de queijo, que é o produto principal de Minas", afirmou. Segundo ele, a ampliação da lista terá apoio dos partidos "do PL ao PT" na votação do projeto Congresso.

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