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valdo cruz

 

14/08/2012 - 07h00

Brasília: semana quente

Início da fase de votação do julgamento do mensalão pelo STF; Dilma lançando pacote de concessões para viabilizar investimentos de R$ 90 bi nos próximos cinco anos e grevistas fazendo marcha na Esplanada dos Ministérios. Tudo acontecendo nesta terceira semana de agosto, em plena seca brasiliense, esquentando o clima na capital federal. Nos três episódios, o PT é o personagem principal.

No primeiro, estará sendo decidido o futuro de lideranças petistas, que podem simplesmente serem tiradas do centro do poder nos próximos anos. No segundo, em jogo a busca da petista Dilma Rousseff pela recuperação econômica do país, que pode selar sua reeleição ou não em 2014. No terceiro, líderes grevistas, boa parte ligada ao partido hoje no poder, reclamando do tratamento dispensado pelo Palácio do Planalto às suas bases sindicais.

No julgamento do mensalão, os ministros começam a proferir seus votos, muito provavelmente, a partir de quinta-feira. Tudo começa com o voto do relator Joaquim Barbosa, que tende a condenar a maior parte dos 38 réus. Ali, contudo, o que realmente de fato interessa ao PT e ao ex-presidente Lula é o destino do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.

A condenação de José Dirceu será o mesmo que registrar, oficialmente, que dentro do Palácio do Planalto funcionava, no governo Lula, um esquema ilegal de financiamento de partidos da base aliada. Além de acabar, de vez, com os planos do ex-chefe da Casa Civil de recomeçar o resgate de sua carreira política. Mas não terá qualquer impacto sobre a presidente Dilma.

Advogados e assessores de ministros do STF avaliam que Dirceu dificilmente escapa de uma condenação. Mas, neste caso, receberia a pena mínima, uma busca do STF de abrandar o resultado do julgamento sobre aquele que, politicamente, é a personagem mais importante da ação penal 470. Só que isto, neste momento, está mais para uma avaliação do que uma tendência real dos votos dos ministros. Ainda não é possível vislumbrar com certeza o veredicto final.

Enquanto isso, um dia antes, na quarta-feira, a presidente Dilma reúne um grupo de empresários para anunciar um pacote de concessões de rodovias e ferrovias. O programa vai tentar gerar investimentos no setor de logística, área crucial para a retomada do crescimento do país. Neste ano, o país vai patinar. Deve crescer, no máximo, 2%, abaixo dos 2,7% do ano passado. A presidente espera que seu pacote, que será complementado com outras ações até setembro, leve a um crescimento de pelo menos 4% em 2013.

O pacote de concessões é uma medida acertada, mas que vem tarde. Poderia ter sido lançado no ano passado, mas só está saindo agora depois que caiu a ficha do Palácio do Planalto. De que a saída da crise econômica passa necessariamente pelo aumento dos investimentos. E que, para isso, o governo precisa do setor privado, já que não tem recursos suficientes para bancar sozinho a conta. Se tivesse, talvez o plano não seria exatamente o que vai ser anunciado, projetando investimento de até R$ 100 bilhões, incluindo aí na conta os portos -cuja medida só será divulgada na próxima semana.

No mesmo dia, os grevistas prometem infernizar a vida do governo, congestionando a Esplanada dos Ministérios. A presidente Dilma tem toda razão ao dizer que o momento é de austeridade fiscal e de priorizar os investimentos. Daí que não pretende e não vai atender a reivindicação dos grevistas na sua totalidade. Deve dar um reajuste aqui e ali e buscar, com isso, acabar com a greve. Mas nada que comprometa a capacidade de investimento do governo federal.

Uma rápida olhada nos relatórios de aumentos de salários concedidos ao funcionalismo público mostra que, da parte deles, há muito choro e pouquíssima razão. De dezembro de 2002 a dezembro de 2012, o governo federal concedeu reajustes reais que variam de 5,55% a 90,36%. O fato é que faltou ao Palácio do Planalto habilidade política para conduzir as negociações e esvaziar as greves.

Basta lembrar que ofertou duas propostas de aumentos salariais para os professores universitários, categoria que realmente precisava de reajuste, mas até hoje não conseguiu acabar com a greve das universidades federais.

Enfim, a semana promete clima quente em Brasília.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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