Fundação ligada à Igreja quer acabar com eleição para reitor na PUC-SP

Mantenedora, presidida por dom Odilo Scherer, enviou proposta de mudança

Campus da PUC no bairro de Perdizes, em São Paulo
Campus da PUC no bairro de Perdizes, em São Paulo - Caio Guatelli/Folhapress
Marina Estarque
São Paulo

A Fundação São Paulo, presidida pelo cardeal e arcebispo dom Odilo Scherer e mantenedora da PUC-SP, enviou uma proposta de alteração do estatuto da universidade que acabaria com a eleição direta para reitor. Caso a mudança seja implementada, o grão-chanceler da universidade, o próprio dom Odilo Scherer, nomearia o reitor.

A proposta, enviada na sexta-feira (31) pelo Conselho Superior da Fundação São Paulo, apresenta uma série de revisões no estatuto, que devem ser discutidas pela comunidade acadêmica. A PUC-SP tem 60 dias para debater as medidas com alunos, professores e funcionários e apresentar uma contraproposta.

Nesta quarta-feira (5) o Conselho Universitário deve se reunir para discutir o tema, segundo a assessoria da universidade. Atualmente, a votação para reitor é feita entre alunos, professores e funcionários, que escolhem uma lista tríplice. Após o pleito, o cardeal aponta o novo reitor dentre os três mais votados.

Tradicionalmente, o grão-chanceler costuma acompanhar a decisão da comunidade acadêmica e escolher a pessoa que ficou em primeiro lugar. Em 2012, entretanto, a reitora Anna Maria Marques Cintra foi nomeada após ter sido a terceira mais votada, fato que originou protestos e greve de estudantes.

Além da escolha do reitor, a proposta da Fundação também pretende eliminar a eleição para outros cargos de gestores acadêmicos, como coordenadores de curso. Outro ponto polêmico é a aposentadoria compulsória de professores aos 75 anos de idade. A universidade afirma que, por enquanto, as medidas são apenas propostas e não há prazo para implementação.

A associação de professores da PUC-SP, Apropuc, disse que ainda não teve acesso ao documento, mas considera as alterações negativas.

“Somos contrários à indicação do reitor ou reitora sem consulta à comunidade, contrários à indicação para os cargos administrativos na universidade e à extinção dos departamentos sem discussão, contrários ao desligamento compulsório do docente aos 75 anos”, afirmou o professor e presidente da Apropuc, João Batista Teixeira da Silva.

Ele destacou ainda a extinção da pró Reitoria de Gestão e Planejamento e a retirada da Editora EDUC da gestão acadêmica na universidade como medidas preocupantes. 

A PUC-SP foi a primeira instituição de ensino superior do Brasil a ter eleição direta para reitor. No início dos anos 1980, ainda durante a ditadura militar, a professora Nadir Kfouri foi eleita para o cargo pela comunidade acadêmica.

“Temos uma trajetória histórica de 40 anos de democracia na universidade, de eleições para os cargos diretivos, que esta proposta de estatuto quer destruir. A eleição direta foi uma conquista, pioneira na época da ditadura", disse Teixeira.

Para o estudante de História Marco Menin, 20, representante discente da Faculdade de Ciências Sociais no Conselho Universitário, as medidas fazem parte de um processo. "A Fundação tem tido uma interferência, inclusive política, cada vez maior na universidade nos últimos anos. Eles batem o martelo sobre tudo que envolve orçamento", afirmou.

Segundo a estudante de Ciências Sociais Luiza Ferrari, 22, da União da Juventude Comunista, os alunos decidiram em reunião, na noite desta segunda-feira (3), fazer um ato no dia 13 contra as alterações no estatuto. "Além disso, os centros acadêmicos, coletivos e estudantes autônomos vão realizar panfletagens em conjunto toda quinta-feira durante os 60 dias", disse.

Procurada, a Arquidiocese de São Paulo não respondeu até a publicação desta reportagem. 

 
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