Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Empresa se desculpa por água no Rio e diz que situação voltará ao normal

Líquido tem saído de torneiras turvo e com gosto de terra; empresa afirma que comprou equipamento

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Rio de Janeiro

Em seu primeiro pronunciamento após a crise na qualidade da água que vem preocupando os moradores do Rio de Janeiro, o presidente da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Estado) se desculpou e afirmou que a situação vai voltar ao normal muito em breve.

"Aproveito para pedir desculpas a toda a população pelos transtornos no nosso sistema de abastecimento de água", disse Hélio Cabral na manhã desta quarta (15), em entrevista coletiva, voltando a sustentar que não há riscos para a saúde da população.

Há mais de dez dias, cariocas de todas as regiões da capital e de algumas cidades da Baixada Fluminense têm relatado que a água distribuída pela empresa está saindo muitas vezes turva e com gosto e cheiro de terra das torneiras, chuveiros e filtros.

São numerosos os relatos de pessoas que passaram mal, apesar de as secretarias municipal e estadual de Saúde ressaltarem que não é possível associá-los ainda a uma suposta água contaminada, principalmente nessa época do ano.

O problema causou ainda uma corrida por água mineral nas regiões afetadas. “Fui em três mercados aqui perto de casa na Barra [da Tijuca, na zona oeste]: um gigante, um médio e um pequeno. Os três não têm água mineral”, afirma, por exemplo, um internauta.

De acordo com o presidente da companhia, foi iniciada a compra de um equipamento e do carvão ativado necessários para retirar a substância orgânica que, segundo a Cedae, tem provocado mudanças nas características do líquido. É a chamada geosmina, produzida quando há uma multiplicação acentuada de algas e bactérias na água.

Água turva que tem saído de torneiras no Rio de Janeiro; empresa diz que equipamento resolverá problema
Água turva que tem saído de torneiras no Rio de Janeiro; empresa diz que equipamento resolverá problema - Saulo Angelo/AM Press & Images/Folhapress

"No Guandu, na semana que vem, com certeza a gente tem água saindo sem geosmina”, disse ele, se referindo à estação de tratamento onde a substância foi detectada na última sexta (10), que abastece mais de 9 milhões dos 13 milhões de moradores da região metropolitana do Rio. O carvão ativado pulverizado é usado logo no início do tratamento, retendo a substância.

Ele ponderou, porém, que não é possível dizer quando a água voltará a sair das torneiras das casas sem alterações porque, dependendo do tamanho dos reservatórios residenciais, eles podem continuar contendo a água com geosmina por bastante tempo, mesmo depois da solução do problema no reservatório de origem.

Segundo o presidente da companhia, o caminhão que levará o equipamento para retirar a geosmina sairá nesta quinta (16) de Jacareí, no interior de SP, e ele deverá ser instalado na semana que vem. "[A fornecedora] prometeu que semana que vem vai estar instalado, aí tem que ligar a parte elétrica, cabo de força. Não posso dizer que vai ser segunda-feira", declarou.

O custo, diz ele, não será repassado ao consumidor porque é baixo em termos de investimentos —R$ 1 milhão da compra do equipamento e mais R$ 2 milhões por mês, se ele for usado 24 horas por dia. Mas a conta de água também não será reduzida por conta do problema dos últimos dias.

Cabral também comentou que será feita uma modernização na estação de Guandu, prevista ainda antes da crise. "Tem equipamentos que estão lá há 80 anos operando, [...] tem painéis de controle analógicos", disse. "Em dois ou três anos teremos um Guandu moderno e atualizado."

A ÁGUA ESTÁ CONTAMINADA?

O gerente de controle de qualidade da água da empresa, Sérgio Marques, repetiu que, apesar de deixar a água com cheiro e gosto de terra, a geosmina não altera sua potabilidade. Ele também negou que a água distribuída pela Cedae tenha a turbidez e a cor escura relatada em alguns bairros.

“Não detectamos mudanças de cor e fluidez. Recebemos reclamação de clientes, e nem na casa de quem estava reclamando, na entrada do sistema, a gente detectou isso”, afirmou. Especialistas, porém, criticam a Cedae por falta de transparência e dizem que ainda restam muitas dúvidas.

A UFRJ (Universidade Federal do RJ) publicou uma nota técnica dizendo que os laudos divulgados pela companhia até a manhã desta quarta não fazem referência à geosmina, "corroborando assim para a permanência da incerteza relacionada à qualidade da água distribuída para a população".

Segundo um grupo de professores da instituição, a geomina realmente não é tóxica, mas pode indicar a presença de uma quantidade muito grande de cianobactérias na água captada para o tratamento, que produzem toxinas muito potentes (as cianotoxinas). 

Nas amostras realizadas e divulgadas pela Cedae, diz a nota, os limites dessas cianotoxinas considerados aceitáveis para que a água possa ser considerada potável estão respeitados.

A universidade diz ainda na nota técnica que existe uma ameaça real à segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. À exceção de Itaboraí, São Gonçalo e Niterói, abastecidos pelo sistema Imunana-Laranjal, os demais municípios da região metropolitana do Rio são atendidos em sua maior parte pelo Guandu, totalizando 9 milhões de habitantes. Com isso, o estado é refém da oferta de água do rio Paraíba do Sul e da qualidade ambiental e sanitária dessa bacia.

Ainda, segundo a nota, "a atual crise que vive o Estado é decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas". "Como resultado, esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 m da barragem principal e da estrutura de captação de água do sistema produtor.”

A universidade destaca que, "face ao incremento dessa contribuição –dado o evidente crescimento populacional e ocupação urbana desordenada–, a ocorrência de eventos de desconformidade em relação ao padrão de qualidade da água para consumo humano como este tende a aumentar”.

A Cedae afirma que a presença de geosmina é comum em estados como São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul, que utilizam há anos um equipamento para retirá-la. No Rio, isso já havia acontecido uma vez em 2004, mas avaliou-se que a medida não seria necessária.

Questionado sobre o motivo de o tratamento com carvão ativo não ter sido instalado antes, Hélio Cabral, que assumiu a Cedae em janeiro de 2019, respondeu: "Realmente, reconheço que se teve em 2004 tinha que ter implantado o equipamento nesse meio tempo [...] Desde 2019 estamos implantando vários investimentos, se tivéssemos diagnosticado isso no ano passado teríamos investido. Peço desculpas por não ter percebido antes."

Em meio à crise, nesta terça (14), a Cedae decidiu retirar Júlio César Antunes do cargo de chefe da estação de tratamento de Guandu. Cabral explicou que ele não foi exonerado e continua fazendo parte da equipe do novo gerente da unidade.

A mudança ocorreu no mesmo dia em que o governador Wilson Witzel (PSC) publicou nas redes sociais que "são inadmissíveis os transtornos que a população vem sofrendo" por causa da água e que determinou apuração da qualidade da água e dos processos de gestão da companhia.

Colaborou Catia Seabra

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