Descrição de chapéu violência São Paulo

Protesto contra morte de imigrante senegalês reúne mais de 100 no centro de SP

Homem morreu na terça (23) após cair de prédio durante operação policial; manifestantes foram recebidos na SSP

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São Paulo

Um protesto contra a morte do imigrante senegalês Serigne Mourballa Mbaye, 36, reuniu mais de cem pessoas na tarde desta quinta-feira (25) no centro de São Paulo. Os manifestantes pedem a investigação do caso e a punição de dois policiais militares que estavam no mesmo apartamento que Mbaye quando ele caiu do 6º andar do prédio.

Amigos do senegalês e imigrantes africanos que frequentam a rua Guaianases, onde ele morreu, dizem que o caso envolve racismo e abuso de autoridade. Os dois PMs entraram no prédio sem mandado judicial.

manifestantes carregam faixa com bandeira do brasil com texto "justiça para Mbaye"
Imigrantes protestam contra a morte de Serigne Mbaye, 36, que caiu do sexto andar de um prédio no centro de São Paulo durante uma operação policial, na terça (23) - Rubens Cavallari/Folhapress

A passeata, que começou por volta das 13h, saiu da rua Guaianases e percorreu várias ruas da região central até chegar à sede da SSP (Secretaria da Segurança Pública), no Largo São Francisco. Dois representantes dos manifestantes foram recebidos na secretaria.

Um dos manifestantes recebidos na SSP foi o vendedor Papa Magaye Gaye, 39, amigo do imigrante morto. Ele fez às autoridades uma denúncia contra um policial que estava na rua Guaianases no dia da morte de Mbaye.

Segundo Gaye e outros senegaleses também ouvidos pela reportagem, há cerca de dois meses um PM agrediu uma imigrante numa praça no Brás, também na região central, e ameaçou os senegaleses de morte. A situação foi relatada por ao menos quatro pessoas.

Gaye e outros imigrantes dizem que esse policial —integrante das Forças Especiais da PM, conforme uma foto exibida à reportagem— participou do confronto entre imigrantes e policiais que ocorreu na rua logo após a morte de Mbaye. Ele não entrou no apartamento, segundo o advogado Edson Santos, que representa Gaye.

"Eles entram nas nossas casas todos os dias, pegam nosso dinheiro", disse o vendedor à Folha. "Na semana passada, um policial quebrou o celular do meu amigo, um iPhone 15, no murro."

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e integrantes do Conselho Municipal de Imigrantes, além de representantes de outras entidades de proteção de direitos, participaram da manifestação.

O protesto terminou por volta das 15h, após o grupo recebido na SSP deixar a reunião. Eles disseram que os representantes da secretaria foram sensíveis às denúncias da comunidade e prometeram providências contra os casos de abuso policial.

Mbaye tinha dois filhos e morava no Brasil desde 2013. Segundo um amigo, ele morou na região sul por cerca de dois anos antes de se mudar para São Paulo.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que representantes do grupo foram recebidos por integrantes da pasta e que "os manifestantes apresentaram suas demandas e foram informados sobre o andamento das investigações das polícias Civil e Militar sobre o caso".

Delegado registrou entrada sem mandado judicial

A entrada de dois policiais sem mandado judicial no edifício Japurá, onde Mbaye estava quando morreu, foi denunciada por moradores e registrada no boletim de ocorrência do caso pelo delegado responsável.

Em depoimento à Polícia Civil, o tenente Fernando Lopes e o cabo Felipe dos Reis disseram que entraram no edifício Japurá, no nº 50 da Guaianases, após abordar três suspeitos na rua. Eles contaram que nada de ilícito foi encontrado, mas um dos suspeitos contou que havia um ponto de comércio de celulares roubados no apartamento 609 do prédio.

No BO, o delegado Sandro Távora, do 2º DP, no Bom Retiro, registra o fato de que os policiais "estranhamente, em período noturno e sem mandado de busca e apreensão, tenham adentrado ao local". Ele diz, no documento, que é "imprescindível que eventuais excessos sejam analisados pelo Poder Judiciário".

Os dois PMs contaram que estavam em frente ao edifício no momento da abordagem aos três suspeitos, e foram ao local seguida. Eles afirmam que a síndica do prédio questionou a presença deles , e que eles teriam respondido que estavam ali para verificar o apartamento.

À Folha a síndica Maria de Lurdes, 67, disse que os PMs entraram sem dizer nenhuma palavra e ignoraram suas reclamações. "Eu falei para eles: 'O que é isso? Aqui é a casa da mãe Joana, por acaso?', mas nem olharam para minha cara", contou. "Eles fazem isso [entrar sem mandado] direto aqui, desde o começo do ano.

Uma vendedora autônoma de 24 anos, que mora no prédio há cerca um ano, disse à reportagem que policiais militares também entraram em seu apartamento sem mandado judicial há cerca de duas semanas, e afirma que essa prática se tornou recorrente desde fevereiro.

Em nota, na quarta (24), a Secretaria da Segurança afirmou que análise das câmeras no uniforme dos policiais mostrou que os moradores autorizaram a entrada deles no imóvel. "Todas as circunstâncias relativas aos fatos são investigadas por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM)."

Mbaye caiu do 6º andar após a entrada dos policiais no apartamento onde estava. Segundo o boletim de ocorrência, o vendedor Bara Ndiaye disse que estava no apartamento 609 com ele para consertar seu telefone que estava com defeito de recarga. Quando os policiais bateram na porta do apartamento, segundo o vendedor, Mbaye "foi para a janela e o chamou para ir junto".

Enquanto Mbaye seguiu em frente e atravessou a janela, apoiando-se numa marquise, Ndiaye estava apoiando-se no peitoril quando foi capturado. O vendedor disse que, depois disso, ouviu um dos policiais dizer que o imigrante havia caído. Ndiaye foi preso por suspeita de participar de um esquema de venda de celulares roubados.

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