Território Yanomami tem quase 10 milhões de hectares e abriga mais de 28 mil indígenas

Região vive explosão de casos de malária, infecções respiratórias e desnutrição

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São Paulo

A Terra Indígena Yanomami foi demarcada em um decreto de 25 de maio de 1992, na gestão do então presidente Fernando Collor de Mello, e possui superfície de 9.664.975,48 hectares e perímetro de 3.370 km, sendo a maior reserva indígena do Brasil.

Ela está localizada nos municípios de Boa Vista, Alto Alegre, Mucajaí e Caracaraí, no noroeste de Roraima, e Santa Izabel do Rio Negro, Barcelos e São Gabriel da Cachoeira, no norte do Amazonas.

Arco-íris na Aldeia Xihopi, na Terra Indígena Yanomami - Christian Braga - 31.mai.2022/ISA

Segundo o relatório final do gabinete de transição, há no local 371 comunidades, com mais de 28,1 mil indígenas, incluindo povos isolados. Também há comunidades do outro lado da fronteira, na Venezuela

Profundo conhecedor dos Yanomami, o antropólogo Bruce Albert explica em seus textos que esses povos remetem sua origem à copulação de Omama com a filha do monstro aquático Tëpërësiki, dono das plantas cultivadas.

"A Omama é atribuída a origem das regras da sociedade e da cultura yanomami atual, bem como a criação dos espíritos auxiliares dos pajés: os xapiripë (ou hekurapë). O filho de Omama foi o primeiro xamã. O irmão ciumento e malvado de Omama, Yoasi, deu origem à morte e aos males do mundo", escreve.

O antropólogo também explica que o etnônimo "yanomami" foi produzido a partir da palavra yanõmami, que, na expressão yanõmami thëpë, significa "seres humanos". Essa expressão se opõe às categorias yaropë (animais de caça), yai thëpë (seres invisíveis ou sem nome) e napëpë (inimigo, estrangeiro, "branco").

Tradicionalmente, os Yanomami vivem da caça e da agricultura, mas o avanço do garimpo vem limitando drasticamente essas atividades, conforme tem denunciado o líder Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, criada para defender o povo indígena.

"O mundo branco quer dinheiro e nós, os povos indígenas, queremos nossa terra, nossa floresta, nossa saúde, nossa língua, nosso costume, nosso conhecimento. Mas branco não quer deixar", disse Kopenawa à Folha em maio de 2022, em entrevista sobre o livro "A Queda do Céu", as mudanças climáticas e a violência enfrentada na terra indígena.

As ameaças também foram divulgadas no relatório de transição do governo. "Configura-se, ali, uma situação de emergência humanitária, com violências sistemáticas, mortes de crianças e mulheres, destruição ambiental e adoecimento. O garimpo ilegal avançou 46% nessa região, em 2021", diz o documento.

A região vive uma explosão de casos de malária, incidência de verminoses facilmente evitáveis, infecções respiratórias e agravamento da desnutrição, especialmente entre crianças e idosos. O quadro de desassistência em saúde no território é agravado pela permanência de mais de 20 mil garimpeiros invasores.

De acordo com o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, nos últimos dias, mais de 1.000 indígenas foram resgatados para não morrer e há subnotificação de casos de doenças.

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