'Ele estava com raiva do mundo', diz professora ferida por aluno em ataque

Ferida com golpes de faca, Ana Célia Rosa avalia que o adolescente agressor é também uma 'vítima do sistema'

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São Paulo

A professora Ana Célia Rosa, 58, gravemente ferida pelo adolescente de 13 anos autor do ataque na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, atribui a violência do episódio a um sentimento de "raiva do mundo" que o aluno nutria.

O ataque realizado na segunda (27) terminou com uma professora morta. Para Ana Célia, o adolescente agressor é também uma vítima.

"Ele estava com raiva do mundo, não era de mim", disse a professora nesta quinta (30), após prestar depoimento no 34º DP (Vila Sônia), que investiga o caso. "Ele é só uma criança, ele é uma vítima do sistema."

Antes do crime, o adolescente deixou uma carta para a família na qual pede desculpas. No bilhete, endereçado à mãe, ao irmão, à tia e à avó, o jovem indica que bullying, tristeza e ódio o levaram a fazer "uma besteira".

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Adolescente autor de ataque em escola de São Paulo deixa o 34º DP (Vila Sônia) após prestar depoimento - Rubens Cavallari - 27.mar.23/Folhapress

Ana Célia dá aulas de história para duas turmas do nono ano da escola Thomazia Montoro e não era professora do agressor, que cursa o oitavo ano. Ela disse que não se sentiu um alvo preferencial. Para ela, qualquer um que estivesse ali em seu lugar seria atacado. "Acho que foi aleatório, mesmo. Quem ele pegasse, ele machucaria."

A docente contou que, assustada com a correria de alunos durante o ataque e com a intenção de socorrer a colega caída no chão —a professora Elisabeth Tenreiro, 71, morreu esfaqueada—, não percebeu que o jovem usava uma máscara de caveira nem que ele se aproximava para golpeá-la.

No chão e atingida na perna, ela viu quando a professora de educação física Cinthia Barbosa entrou na sala e imobilizou o agressor. "Eu só reconheci o rosto dele, o rostinho dele, na hora que a coordenadora tirou a máscara."

Questionada sobre o que sente em relação ao garoto que a esfaqueou, a professora respondeu que sente "dó". Sobre o retorno às aulas, ela disse que pretende voltar a trabalhar no dia 10 de abril.

Ana Célia foi a última professora ferida a falar com a polícia. No total, cerca de 40 pessoas já foram ouvidas na investigação.

Por fim, a professora criticou a exibição de imagens do ataque. Segundo ela, a divulgação de cenas como essas pode motivar outros jovens a praticarem ataques e atos de violência, visão que é compartilhada por especialistas.

QUEBRA DE SIGILO

Nesta quinta, a Polícia Civil também deu início a uma nova frente de investigação após a autorização da Justiça para a quebra dos sigilos telemático e telefônico de aparelhos eletrônicos usados pelo agressor.

Os investigadores terão acesso aos dados do aparelho celular do adolescente e de um HD externo e do videogame Xbox apreendidos na casa da família. Eles apuram, por exemplo, se o jovem teve ajuda ou incentivo de colegas para cometer o crime.

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