Descrição de chapéu Obituário Ana Maria da Penha Braguim Pellim (1952 - 2023)

Mortes: Pela Anvisa, foi inspetora de farmacêuticas estrangeiras

Ana Maria da Penha Braguim Pellim teve farmácia e liderou equipes em laboratórios nacionais e multinacionais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Roberto Pellim
São Paulo

Rosas vermelhas e brancas foram o último pedido da minha mãe, a farmacêutica Ana Maria Pellim. "Quero um velório colorido."

Filha única de um alfaiate e uma dona de casa, nasceu em um cortiço, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo. A infância dura deixou marcas: percebeu logo cedo que, para sair daquela situação, teria de se dedicar ao estudo e ao trabalho.

Destaque na escola pública no Ipiranga, partiu para a USP (Universidade de São Paulo), onde estudou farmácia, com foco em controle de qualidade e boas práticas de fabricação. Liderou equipes em laboratórios nacionais e multinacionais. Era frequentemente a única mulher nas reuniões corporativas dos anos 1970 e 1980, nas quais vencia o machismo reinante com competência e classe.

Ana Maria da Penha Braguim Pellim (1952 - 2023)
Ana Maria da Penha Braguim Pellim (1952 - 2023) - Arquivo pessoal

Teve também drogaria e foi conselheira regional e federal de farmácia, até entrar para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Passou a inspecionar laboratórios que queriam exportar para o Brasil. Perfeccionista, vetou e exigiu mudanças dos que não se adequavam aos padrões.

Essa trajetória a levou a abrir uma consultoria, nos anos 1990, com a qual realizou auditorias e treinamentos em diversos países. Em 2017, quase chorou ao ser homenageada como farmacêutica. Mulher forte, não ia se expor assim, em público. Mas depois, em casa, soltou o sorriso de satisfação. Tinha clientes marcados até dezembro e estava montando a agenda de 2024.

Foi também no caminho entre o Ipiranga e a USP que encontrou José Eugenio, vizinho que cursava física. As caronas para a universidade viraram um casamento no qual entrou na igreja de vestido azul, que gerou dois filhos (eu e o Rodrigo) e que só foi interrompido pelo câncer do meu pai, em 2006.

Naquele mesmo ano, tornou-se avó pela primeira vez, uma luz num momento sombrio. Passou a dividir a agenda com "meus netinhos queridos": Isabela, Letícia, Lucas e Maria Eduarda. Sopros de vida em meio a outras perdas que a marcaram: do pai, Pedro, em 1984; da mãe, Florentina, em 2015; e do meu filho Gael, em 2019, após negligência médica. Nessas vezes chorou sim em público, mas seguiu em frente.

Ao completar 70 anos, decidiu fazer "a grande aventura" —uma viagem de 50 dias para celebrar a vida. Aproveitou sem moderação, até que um inchaço abdominal, na última semana, a preocupou. Chegou ao Brasil, deixou as coisas na casa dela e foi para o hospital.

Era um câncer nos canais biliares. Foram quase três meses de tratamento e internação, que tiraram até a chance de desfazer as malas da Grande Aventura. A morte, a única batalha que não venceu, tinha chegado. Partiu no dia 4 de setembro para botar o papo em dia com aqueles de quem tanto tinha saudade.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.