Usuários relatam falta de maconha em São Paulo

Situação seria causada por grandes apreensões, entressafra da planta e suposto problema de distribuição gerado por racha no PCC

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São Paulo

Usuários de maconha afirmam que a droga está em falta em São Paulo. A situação vem sendo relatada há duas semanas por consumidores e traficantes. Um delegado também confirmou a situação.

A venda e o porte da droga são proibidos pela lei brasileira, incluindo para consumo próprio.

Homem acende baseado durante Marcha da Maconha, em 2023 - Ronny Santos/Ronny Santos - 24.mar.2023/Folhapress

Aos usuários, o artigo 28 da Lei de Drogas prevê advertência sobre os efeitos dos entorpecentes, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Já quem trafica a droga pode pegar de 5 a 15 anos de prisão, além de pagar multa de R$ 500 a R$ 1.500.

Segundo os relatos, o que está em falta é a modalidade conhecida como prensado –produto processado, geralmente misturado a outras substâncias, fazendo dele mais barato. Por isso, é também o tipo mais consumido.

Os motivos da escassez seriam grandes apreensões, a entressafra da planta e um suposto problema de distribuição gerado por um racha na facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Uma estudante que mora em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, afirma que a falta da droga fez ela subir de preço no mercado ilegal. O valor da grama passou de R$ 10 para R$ 19, segundo ela. Além disso, o traficante estabeleceu um limite de quantidade por comprador.

Ela ainda afirmou que passou a consumir outras substâncias devido à escassez da droga, incluindo skunk (uma variedade mais cara e potente da Cannabis), LSD e cogumelos alucinógenos.

Outro usuário disse que tem trocado prensado por outras drogas com amigos.

Segundo um traficante que conversou com a reportagem, o produto tem origem no Paraguai e chega a São Paulo em carros e caminhões —modalidade bastante suscetível a apreensões.

Há ainda outras questões que afetam a disponibilidade da droga na cidade. Neste mês, a maconha está em período entressafra, e qualquer interceptação de carga pode prejudicar o fornecimento, afirma ele.

Ele cita como exemplo uma ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em São Paulo, há uma semana, terminada com mais de 300 quilos da droga aprendidos num carro na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225), em Bauru, interior do estado.

"Essa viagem da maconha do Paraguai até São Paulo é tosca. Ela é feita geralmente por mulas, caminhoneiros ou motoristas de carro", afirma o jornalista Allan de Abreu, autor de "Cocaína: A Rota Caipira" (editora Record), sobre a história do narcotráfico no Brasil.

"Ocorre dessa forma porque a mercadoria é mais barata. Se o transportador for pego, é possível que ela seja reposta com uma certa facilidade", afirma. "Já a cocaína, mais cara, vem de avião."

O delegado de uma unidade especializada em investigação de entorpecentes na capital confirmou o atraso na distribuição de prensado para pontos de tráfico.

Para ele, isso pode estar mesmo associado à entressafra, mas há outra suposição: um recente racha entre lideranças do PCC, responsável pelo tráfico na cidade, pode estar afetando o segmento.

Como mostrou a Folha, um grupo liderado por Roberto Soriano, o Tiriça, passou a disputar o controle da facção com a ala de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe máximo do grupo.

Tiriça é apontado como o responsável por gerenciar o tráfico de maconha dentro do PCC. Por isso, a distribuição da droga teria sido afetada pela disputa.

Já outro delegado que também se dedica a essas investigações vê a entressafra e o aumento das ações de apreensão como mais determinantes para uma possível falta da droga no mercado. Na avaliação dele, o negócio da facção é predominantemente o tráfico de drogas, mas o tráfico é maior do que a facção.

Também foram ouvidos relatos da ausência da maconha barata em pontos de drogas nas regiões do Sacomã e do Jabaquara, ambas na zona sul.

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