PMs são suspeitos de agredir e expulsar moradores de rua de cidade em SC

Caso aconteceu em Itajaí, e grupo foi obrigado a andar 7 km até Balneário Camboriú; batalhão diz que operação foi clandestina

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Curitiba

Policiais militares de Itajaí, no litoral de Santa Catarina, são suspeitos de terem agredido pessoas em situação de rua e ordenado que elas deixassem a cidade. Na sequência, o grupo teria sido obrigado a caminhar por 7 km até o município vizinho de Balneário Camboriú.

O caso aconteceu na madrugada desta terça-feira (31). As próprias vítimas relataram os fatos para assistentes sociais de Balneário Camboriú. O 1º Batalhão da Polícia Militar de Itajaí afirmou que a operação foi clandestina e que vai abrir um inquérito para apurar o caso.

A secretária municipal de Desenvolvimento e Inclusão Social de Balneário Camboriú, Anna Christina Barichello, disse que por volta das 3h sua equipe foi avisada pela Guarda Municipal que dezenas de pessoas em situação de rua tinham sido levadas pela PM até a BR-101, onde foram abandonadas.

Pessoas dormem na estrada
Mais de 30 pessoas em situação de rua são levadas pela PM de Itajaí para a BR-101, na divisa com Balneário Camboriú (SC) - Divulgação/Prefeitura de Balneário Camboriú

Assistentes sociais encontraram o grupo no km 126 da rodovia, na divisa entre os dois municípios. Eram 30 homens e 2 mulheres, com idades entre 21 e 58 anos. Alguns possuíam carrinhos usados em coleta de lixo reciclável.

"Eu cheguei lá perto das 3h30 e vi uma cena horrível. Vários moradores de rua deitados, próximos da BR. Fomos fazer a abordagem e eles relataram humilhações e agressões da PM de Itajaí", diz a secretária.

"Nós recebemos vídeos que mostram eles sendo levados em fila indiana até Balneário. Me chocou muito. Não é desta forma que a gente deve agir", diz a secretária. Nos vídeos, que também circulam em redes sociais, aparecem ao menos seis viaturas da PM fazendo uma escolta.

Em outros vídeos, feitos pela equipe da prefeitura de Balneário, as pessoas em situação de rua aparecem dizendo que os policiais militares chamavam a ação de "Operação Tadeu" e que ouviam ordens para sair da cidade em direção a qualquer lugar, mas que não voltassem a Itajaí.

Uma equipe ligada à prefeitura de Itajaí chegou na divisa dos municípios por volta das 8h30. Em nota, a Secretaria de Assistência Social disse que 18 pessoas ainda estavam no local durante a abordagem e foram encaminhadas a um local para "acolhimento, repouso, alimentação, higiene e atendimento técnico com psicóloga e assistente social".

"Nenhum deles aceitou encaminhamento para comunidade terapêutica ou quis auxílio para contatar familiares para restabelecimento de vínculos. Todos optaram por permanecer em situação de rua", disse a Prefeitura de Itajaí.

A nota do município afirmou ainda que diariamente quase 150 pessoas em situação de rua são atendidas no seu centro de acolhida. "Essas pessoas são recorrentes e são acompanhadas pelas equipes para tentar reverter o quadro em que se encontram, em sua maioria com vínculos familiares rompidos e com dependência química".

Procurado, o 1º Batalhão de Polícia Militar de Itajaí disse que vai apurar o caso.

"Não se tratava de uma operação policial institucional e integrante de planejamento prévio, tendo sido feita à revelia e sem conhecimento do comando do batalhão", diz trecho da nota, que é assinada pelo comandante do 1º BPM, tenente coronel Ciro Adriano da Silva.

"As operações pela Polícia Militar que tem como foco as pessoas em situação de rua são realizadas em conjunto com outros órgãos, em especial a Assistência Social, a fim de assegurar as garantias fundamentais e dar o correto encaminhamento dentro do rol de direitos que estas pessoas possuem", continua a nota.

O Ministério Público de Santa Catarina afirma que a Promotoria de Itajaí instaurou procedimento para apurar o caso. Além disso, as promotorias que tratam de crimes militares vão encaminhar nesta quarta (1º) um pedido de informações à Corregedoria-Geral da PM. O Necrim (Núcleo de Enfrentamento aos Crimes de Racismo e Intolerância) do Ministério Público catarinense também diz que vai acompanhar os desdobramentos.

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