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Como fenômeno raro na Antártica baixou as temperaturas no Brasil

Índice que mede intensidade de 'anel' formado por áreas de alta e baixa pressão ao redor da Antártica está em um valor recorde negativo

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Londres | BBC News Brasil

A onda de frio que atingiu o Brasil na última semana não deve ir além de quinta-feira, dia 15 de agosto. Apesar de as variações de temperatura como essa serem comuns nesta época do ano, o frio que está sendo sentido em grande parte do país é resultado de um fenômeno raro que está acontecendo na Antártica.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), esta é primeira massa de ar frio que conseguiu avançar sobre todos os estados das Regiões Centro-Oeste e Sudeste do país em 2024.

A imagem mostra uma mulher vista de costas, segurando um guarda-chuva azul. Ela está em uma rua movimentada, onde outras pessoas também caminham. O ambiente parece urbano, com prédios ao fundo e um semáforo verde visível. A mulher usa um suéter escuro e o clima parece nublado
Como fenômeno raro na Antártica baixou as temperaturas no Brasil - Getty Images via BBC

No Sul, os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm previsão de geada para esta quarta-feira (14/08), e alguns locais do país registraram a temperatura mais baixa do ano, como foi o caso do Rio de Janeiro, que marcou 8,3°C na última terça-feira.

O que está causando o frio no Brasil?

De acordo com a meteorologista Maria Assunção Silva Dias, as baixas temperaturas atuais estão ligadas a uma espécie de 'anel' formado por áreas de alta e baixa pressão ao redor da Antártica.

A intensidade desse anel é medida por um índice chamado "oscilação Antártica".

"Quando esse índice está negativo no inverno, os efeitos no Brasil são principalmente chuvas e frio associadas a frentes frias."

"E atualmente, o índice está em um valor recorde negativo. Normalmente, ele varia entre +2 e -2, mas agora, para se ter uma ideia, a escala do gráfico vai até -4 e ele superou esse limite, está em -4,4, o que é algo inusitado", explica Silva Dias, que é doutora e mestra em Ciências Atmosféricas pela Colorado State University e diretora de meteorologia da Rhama Analysis.

Esse cenário, aponta a especialista, é realmente raro.

"Desde os anos 1980, não havia um registro tão negativo do índice de oscilação Antártica."

Silva Dias explica que o índice costuma mudar de sinal a cada 15 dias ou 30 dias, alternando entre positivo e negativo, o que altera as consequências no clima.

"A principal consequência que estamos observando agora é a formação de um cinturão de baixas pressões."

A baixa pressão que afeta o Brasil é chamada de ciclone extratropical.

"Trata-se uma corrente de vento intenso na estratosfera, que age como age como um 'cinturão', que normalmente ajuda a segurar o ar frio apenas nas regiões polares, impedindo que ele se espalhe para áreas mais quentes", explica Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Mas devido ao aquecimento global, aponta Avila, há um enfraquecimento do vórtice polar, fazendo com que a massa de ar frio, que geralmente circula apenas na região Antártica, suba para a América do Sul.

"Esse ciclone, associado ao índice recorde da oscilação Antártica, está gerando ventos persistentes que trazem frio para o Sudeste, Centro-Oeste e até partes da Amazônia. Como o ciclone está parado, o frio persiste por vários dias, afetando regiões amplas do Brasil", complementa Silva Dias.

Aquecimento global influencia eventos extremos

As especialistas consultadas pela reportagem apontam que muitos dos eventos meteorológicos extremos que estamos presenciando podem já ser um reflexo das mudanças climáticas.

"Estamos vivendo tempos de extremos notáveis, e é possível que estejamos no início de uma nova era climática em que esses extremos se tornem cada vez mais comuns", afirma Silva Dias.

Esses eventos climáticos extremos, tanto no Brasil quanto no mundo, diz, estão interligados.

"A atmosfera não tem fronteiras, e alguns fenômenos, como o El Niño, afetam todo o planeta. Entretanto, nem sempre o impacto é o mesmo em todos os lugares. Precisamos avaliar cada fenômeno para entender se ele é resultado de condições locais ou se está realmente interligado com eventos em outras partes do mundo."

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