Descrição de chapéu acidente aéreo

Saiba como é feita a investigação da FAB sobre a queda do avião da Voepass

Cenipa, órgão da Força Aérea Brasileira, produz relatório com recomendações para evitar novos acidentes

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Brasília

O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) concluiu na manhã desta segunda-feira (12) a chamada primeira fase do trabalho de investigação, com a coleta de dados no local do acidente aéreo que deixou 62 mortos em Vinhedo, no interior de São Paulo.

Todo o material recolhido agora será analisado nos laboratórios do órgão, em Brasília, antes da produção de um relatório final.

Esse documento não vai apontar uma única causa do acidente. O objetivo principal é trabalhar com uma série de fatores que contribuíram com o acidente e que possuem o mesmo grau de influência que culminaram na tragédia. O relatório então faz recomendações para tentar evitar a repetição de tragédias.

Avião da companhia aérea Voepass cai sobre condomínio em Vinhedo, no interior de São Paulo - Bruno Santos - 10 ago. 2024/Folhapress

"O Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) não trabalha com causa de acidente, mas com fatores contribuintes. Causa se refere a um fator que se sobressai, que seja preponderante, e a investigação SIPAER não elege um fator como o principal. Ao contrário, trabalha com uma série de fatores contribuintes que possuem o mesmo grau de influência para a culminância do acidente", afirma o Cenipa, em seu site.

Ou seja, a investigação se dá em três etapas: coleta de dados no local; análise dessas informações; e produção do relatório.

A investigação do Cenipa, órgão ligado à Força Aérea Brasileira, não terá o intuito de responsabilizar criminalmente os eventuais responsáveis pelo acidente aéreo. Essa atribuição pertence a outras autoridades, como a Polícia Federal e a Polícia Civil estadual, que farão suas próprias investigações.

A legislação brasileira determina que a investigação do Cenipa ocorra de maneira independente. O órgão da Força Aérea, contudo, tem a obrigação de comunicar as autoridades de segurança caso descubra indícios de crime em sua apuração.

Não há um prazo para a conclusão do relatório final do Cenipa, que depende da complexidade da apuração e das condições materiais dos equipamentos colhidos, como as caixas-pretas. O órgão, porém, já apontou que pretende concluir o documento preliminar em até 30 dias.

"É uma investigação holística, basicamente dividida em três pilares: nós analisamos o fator humano, dentro do seu aspecto fisiológico e aspecto psicológico. Por isso precisamos de médicos e psicólogos", disse o chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, em entrevista a um podcast da Força Aérea, no fim do ano passado.

"O segundo pilar é o fator operacional. É uma análise da interação do ser humano com outro ser humano dentro do avião, seja ele piloto, copiloto, tripulante; a interação do ser humano com a meteorologia e o meio ambiente e ainda a interação do ser humano piloto, tripulante com a ergonomia da aeronave. E por último o fator material: a nossa investigação é tão profunda que nós conseguimos regressar até o momento em que o engenheiro estava em sua mesa de projetos projetando o sistema", completou.

O relatório final será publicado no site do órgão. A seguir os principais pontos da investigação:

  • Investigação no local

Após a ocorrência do acidente, o Cenipa envia equipes de sua unidade regional que tem jurisdição para atuar na área para iniciar os trabalhos de coleta de dados. Um dos objetivos principais é recolher as duas caixas-pretas (que na verdade são laranjas) com os dados do voo e os áudios das conversas na cabine. Os peritos ainda buscam outras peças e componentes do avião, analisam a preservação do local, se houve alterações após o ocorrido, entre outros pontos.

  • Uso de drones e reconstrução da cena

Os profissionais também costumam usar drones que fotografam a imagem do local. Essas imagens são transferidas para softwares do laboratório do Cenipa, que reconstruem as imagens em 3D. Assim os investigadores podem pesquisar e ir atrás de informações que não foram recolhidas na atividade de campo.

  • Análise dos dados

A análise dos dados é feita no laboratório do Cenipa. Essa é a fase mais demorada da investigação, dependendo das condições dos equipamentos e da capacidade de extrair as informações. As caixas-pretas são extremamente resistentes, podendo aguentar uma temperatura de mil graus Celsius por até uma hora. Caso elas tenham sido danificadas, a conclusão do relatório preliminar pode levar mais tempo.

  • Simulação do voo

Uma das atividades nessa etapa de análise dos dados é tentar produzir uma simulação do voo, com o uso de tecnologia, dos dados aeronáuticos e das gravações da cabine. Então os membros da equipe de investigação, como médicos, psicólogos e engenheiros, analisam a situação para tentar buscar fatores que possam ter contribuído para o acidente.

  • Pilares da investigação

A investigação busca avançar em três frentes: fator humano, incluindo aspectos fisiológicos e psicológicos; fatores operacionais; e fatores materiais. Por isso participam dos trabalhos profissionais como aviadores, médicos, psicólogos, pedagogos, profissionais com experiência em processos de regulação de aviação civil e engenheiros aeronáuticos, aeroespaciais e mecânicos. As equipes também podem pedir laudos específicos para outras entidades, como o ITA (Instituto de Tecnologia Aeronáutica).

  • Produção do relatório do acidente

As equipes de investigação então produzem um relatório sobre o acidente com recomendações para evitar tragédias futuras. Em algumas ocasiões são formuladas hipóteses, as quais são fundamentadas em pareceres técnicos e suportadas por dados factuais. Na conclusão da investigação são determinados os fatores contribuintes para a ocorrência, abrangendo os diversos aspectos inseridos nas áreas dos fatores humanos, operacional e material.

  • Ausência de responsabilização

O relatório final não aponta responsabilidade pelo acidente e não culpa um ou mais atores. Durante esse processo não há apuração do "contraditório", ouvindo as partes para que se defendam. No entanto, caso os investigadores se deparem com indícios de crimes, eles devem informar as autoridades de segurança responsáveis pela investigação no âmbito criminal.

  • Prazos para apresentação do relatório

É padrão que um relatório preliminar seja apresentado num prazo de 30 dias após o acidente. A investigação, porém, deve prosseguir para avançar nos fatores contribuintes e produzir as recomendações. No caso de investigações que ultrapassem um ano, é padrão a apresentação de um relatório intermediário com o detalhamento do andamento da apuração e eventuais questões de segurança de voo identificadas.

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