Bolsonaro anuncia Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação

Nome de colombiano naturalizado brasileiro foi anunciado por presidente eleito em redes sociais

Ricardo Vélez Rodríguez
Ricardo Vélez Rodríguez, anunciado como ministro da Educação por Bolsonaro - Reprodução/Facebook
Brasília e São Paulo

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação do futuro governo. O anúncio foi feito por ele pelas redes sociais.

"Gostaria de comunicar a todos a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo autor de mais de 30 obras, atualmente professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, para o cargo de ministro da Educação", disse Bolsonaro.

"Vélez é professor de filosofia, mestre em pensamento brasileiro pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, doutor em pensamento luso-brasileiro pela Universidade Gama Filho, pós-doutor pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, Paris, com ampla experiência docente e gestora", afirmou o presidente eleito.

Rodríguez foi chamado às pressas para conversar com Bolsonaro após reação de evangélicos ao vazamento, na quarta (21), de que Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, havia aceitado convite de Bolsonaro.

Durante o dia, Bolsonaro afirmou que o procurador Guilherme Schelb era um dos cotados para a vaga. Eles chegaram a se reunir na Granja do Torto nesta quinta, criando expectativa de que seria anunciado. 

Indicado como ministro da Educação, Rodríguez é formado em filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana e em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá. Ele foi professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) durante 28 anos.

Nascido em 1943, ele é autor de livros como "A Grande Mentira - Lula e o Patrimonialismo Petista" (Vide Editorial). A sinopse do título diz: "O PT conseguiu potencializar as raízes da violência, que já estavam presentes na formação patrimonialista do nosso Estado e que se reforçaram com o narcotráfico, mediante a disseminação ao longo dos últimos treze anos, de uma perniciosa ideologia que já vinha inspirando a ação política do Partido dos Trabalhadores: a 'revolução cultural gramsciana'".

A escolha de Rodríguez contou com o respaldo do escritor Olavo de Carvalho que, em outubro, publicou nas redes sociais que era o colombiano quem deveria assumir a Educação. Ele também é apoiado pelos filhos políticos do eleito, em especial do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que acompanhou a conversa.

O anúncio agradou integrantes da bancada evangélica, para os quais o novo ministro tem um perfil não associado à esquerda. “É um excelente nome. A expectativa é de que ele coloque a educação brasileira nos trilhos e que dê prioridade ao direito constitucional da família de educar”, disse o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), para quem o colombiano impedirá que “a esquerda continue manipulando a educação”.

O futuro ministro foi recebido na tarde desta quinta por Bolsonaro, na Granja do Torto. Esta foi a primeira vez que eles se encontraram. O general Augusto Heleno, que chefiará o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), também estava presente.

O nome do professor já estava cotado para assumir o ministério desde a campanha. Ele foi procurado por assessores de Bolsonaro na tarde de quarta, depois que a bancada evangélica vetou o nome de Mozart. 

Nos bastidores do governo de transição, o nome de Rodríguez já era visto como favorito, mas Bolsonaro também procurou Schelb para fazer um aceno à bancada evangélica, que o apoiou durante a campanha e se sentiu desprestigiada com as indicações ministeriais. O procurador era ainda defendido pelo pastor Silas Malafaia, amigo do eleito.

A decisão saiu no início da noite, quando o presidente eleito já se preparava para sair de casa para ir ao casamento de seu futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O eleito também conversou nesta quinta com o senador eleito Izalci Lucas (PSDB-DF), indicado pela bancada evangélica para o MEC.

Ainda não foi definido pelo governo de transição qual a estrutura do ministério que será assumido por Rodríguez. A equipe ainda decide se vai unificar a pasta com Cultura e Educação e se Ensino Superior ficará com o MEC ou com Ciência e Tecnologia, que será comandado pelo astronauta Marcos Pontes.

BLOG

Em seu blog, Rodríguez havia escrito um post, com o título Um Roteiro para o MEC, no dia 7 de novembro, em que afirma que já havia sido indicado para o ministério e que havia aceitado a indicação.

De acordo com o texto, ele diz que seu nome foi indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, pensador conservador que é um dos gurus do bolsonarismo. "Amigos, escrevo como docente que, através das vozes de algumas pessoas ligadas à educação e à cultura (dentre as quais se destaca o professor e amigo Olavo de Carvalho), fui indicado para a possível escolha, pelo Senhor Presidente eleito Jair Bolsonaro, como ministro da Educação."  

No mesmo post,  Rodríguez faz críticas ao modelo de gestão que teria se implantado no MEC, à  "doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de 'revolução cultural gramsciana' e à  educação de gênero.

O futuro ministro da Educação critica também o Enem. "Na linha dos pré-candidatos ao cargo de ministro da Educação foram aparecendo, ao longo das últimas semanas, propostas identificadas, uma delas, com a perpetuação da atual burocracia gramsciana que elaborou, no INEP, as complicadas provas do Enem, entendidas mais como instrumentos de ideologização do que como meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino." 

As críticas de Rodríguez ao Enem e ao Inep, órgão do do MEC responsável pela prova, encontram eco nas críticas feitas pelo próprio Bolsonaro.  Logo após a realização da primeiro dia de provas deste ano, o presidente eleito criticou uma questão da prova que tratava do "dialeto secreto" utilizado por gays e travestis e disse que sua gestão no MEC "não tratará de assuntos dessa forma".

Na mesma semana, em vídeo publicado na internet, Bolsonaro  afirmou que em seu governo “vai tomar conhecimento da prova antes” da realização do Enem pelos estudantes, medida que confronta critérios técnicos e de segurança do exame.

REPERCUSSÃO

Especialistas ouvidos pela Folha dizem que Rodríguez é pouco conhecido entre entidades que trabalham com educação, e a falta de experiência em gestão no setor público será um obstáculo adicional. 

Segundo Priscila Cruz, presidente executiva do movimento Todos pela Educação, ele terá pouco tempo para montar um diagnóstico e estabelecer que tipo de política vai priorizar. 

“Não o conhecia, mas, pelo que pude ver, é uma pessoa que tem um alinhamento ideológico com o presidente eleito. É um acadêmico, o que é bom de um lado, mas não tem experiência em gestão pública. Isso coloca para ele um desafio profissional em muito pouco tempo, pois ele tem um mês para entender a estrutura do MEC e definir muita coisa”, afirma.

Segundo Priscila, o que a área demanda no país seria mais claro para quem já teve vivência na gestão educacional, seja na esfera federal, estadual ou municipal. "O fato de o futuro ministro não ter essa proximidade com a gestão coloca uma pressão adicional sobre ele.” 

“Ele é uma pessoa da teologia, que nunca gerenciou nada no setor público e que terá que administrar um dos maiores orçamentos da União”, disse Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Segundo ela, Rodríguez é um intelectual, que até pode ter atuação com a educação superior, mas que não tem experiência com o ensino fundamental e a educação de base. 

“Ele está distante em qualquer aspecto da gestão educacional, e há um risco de uma pessoa que não entenda da área querer modificar vários avanços, que, mesmo lentos, ocorreram nos últimos anos. Há um risco de se querer jogar a criança com a água do banho.” 

Para Costin, o Brasil tem educação de baixa qualidade devido a razões históricas, que precisam ser entendidas e levadas em consideração. Ela cita como exemplo o fato de o país ter sido o último a universalizar o acesso ao ensino fundamental.

"Como a escolaridade dos pais tem forte influência no sucesso educacional dos filhos, ocorreram impactos no aprendizado das crianças. Apesar disso, algumas ações foram iniciadas para tentar tentar modificar esse panorama, como a criação da base comum curricular", diz. 

O sociólogo Simon Schwartzman afirmou ter pouco a comentar sobre Rodríguez. “Sei que ele é um filósofo, mas em matéria de educação não tenho conhecimento sobre ele ter experiência. Sei das posições ideológicas dele, mas acho que experiência em gestão pública não tem”, disse. 

ENTRAVE

O anúncio do novo ministro da Educação ocorre um dia após a reação da bancada evangélica à indicação do educador Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna. Mozart é tido como moderado entre funcionários do ministério, mas para os evangélicos não seria alinhado com o Escola sem Partido, bandeira de campanha de Bolsonaro.

Nesta quinta, uma reunião entre Mozart e o presidente eleito foi cancelada. Com a pressão por uma desistência do educador, o colombiano Ricardo Vélez  Rodríguez havia sido chamado às pressas para conversar com Bolsonaro. O nome do professor já circulava entre os cotados para o Ministério da Educação. 

Durante o dia, Bolsonaro havia se reunido com o procurador Guilherme Schelb, que também é evangélico. Ligado ao pastor Silas Malafaia, a possível indicação de Schelb havia agradado à bancada evangélica. 

A escolha de Rodríguez ​chama atenção pelo fato de ter nascido na Colômbia. Porém, de acordo com o artigo 87 da Constituição, que dispõe sobre a escolha dos nomes para o primeiro escalão do Executivo federal, "os ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de 21 anos e no exercício dos direitos políticos".Por brasileiros entende-se tanto os natos como os naturalizados. Somente o Ministério da Defesa requer que o titular seja nascido no Brasil. Rodríguez se naturalizou brasileiro em 1997.

Os cargos que precisam ser ocupados exclusivamente por brasileiros natos são o de presidente e vice-residente da República, de presidente da Câmara e do Senado, de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), de diplomata e de oficial das Forças Armadas.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto, o futuro ministro da Educação Ricardo ​Vélez Rodríguez não é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele atuou na instituição por 28 anos, mas encerrou seu vínculo em 2013.

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