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Com bloqueios, nova reitora da UFRJ prevê cortes em serviços

Médica vai se tornar a primeira reitora mulher da instituição em quase cem anos

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Rio de Janeiro

Prestes a se tornar a primeira reitora mulher da UFRJ em quase cem anos, a médica Denise Pires Carvalho, 54, promete gerir a universidade com diálogo e, ao mesmo tempo, pragmatismo. "Mas vou ter que fazer terapia para não me frustrar, porque na gestão pública as coisas demoram", brinca ela.

O primeiro motivo de frustração pode estar perto. Eleita em abril pela comunidade acadêmica, Denise já estuda cortes nos serviços de limpeza e segurança para contornar os bloqueios de até 41% no orçamento de manutenção feitos pelo Ministério da Educação.

A médica Denise Pires Carvalho, que deve ser nomeada reitora da UFRJ pelo presidente Bolsonaro
A médica Denise Pires Carvalho, que deve ser nomeada reitora da UFRJ pelo presidente Bolsonaro - Pedro Teixeira - 11.mar.19/Ag. O Globo

"No momento a questão orçamentária será o principal desafio: como manter o restaurante universitário aberto, contas de água e luz pagas? Temos mais de 1.200 laboratórios e 9 unidades hospitalares que precisam funcionar 24 horas", diz.

Ela, porém, evita falar sobre o tema antes de ser nomeada formalmente e assumir o lugar do antecessor, Roberto Leher, em 2 de julho. O presidente Jair Bolsonaro prometeu que o faria na segunda (20), mas até agora a decisão não foi publicada no Diário Oficial da União nem há previsão para tal.

"Tomei conhecimento a respeito dela pela lista tríplice, bem como por amigos mais chegados. É a pessoa adequada para estar à frente da UFRJ", discursou Bolsonaro em um evento no Rio, completando que, com a escolha de uma mulher, poderia ser chamado de "homemfóbico".

Aguardando a nomeação "com bastante prudência", a nova reitora diz que faria cortes em segurança e limpeza mesmo sem o bloqueio recente, porque já vinha ocorrendo um contingenciamento de verbas federais desde 2014.

Segundo a atual gestão —cujo controle de gastos Carvalho critica— , o orçamento, que era de R$ 582 milhões naquele ano, caiu para R$ 361 milhões em 2019, em valores corrigidos. A médica herdará uma UFRJ com déficit de cerca de R$ 170 milhões.

Mesmo com as contas no vermelho, ela diz que a prioridade da administração, até o meio de 2022, será diminuir a evasão de alunos. "Faremos um diagnóstico: quais cursos têm maior evasão? Os estudantes saem porque não gostaram? Devemos aumentar a mobilidade entre cursos?".

Carvalho também assumirá a reconstrução do Museu Nacional, consumido por um incêndio em setembro de 2018, que passa pela elaboração de um novo projeto. Enquanto isso, a diretoria do museu reclama de falta de dinheiro para a busca de peças sob os escombros.

O museu foi um dos temas debatidos pela reitora eleita com membros do MEC em reunião na quarta (22) em Brasília. Na pauta também estava a internacionalização da universidade, que ela pretende ampliar, assim como parcerias com empresas privadas.

Denise Carvalho fez toda a carreira na UFRJ, se aprofundando na área de endocrinologia. Cursou graduação (medicina), mestrado (biofísica), doutorado (biofísica) e especialização (medicina interna) na universidade. Também fez pós-doutorado em Paris, em 1995, e em Nápoles, em 2006. 

Hoje é pesquisadora e professora titular do Instituto de Biofísica —do qual já foi a primeira diretora mulher— e dá aulas para a graduação e a pós. Ocupou outros cargos de chefia na UFRJ até chegar a coordenadora acadêmica da pró-reitoria de graduação.

Carvalho é descrita por amigos como competente, compromissada e acessível. "Ela sempre foi uma aluna exemplar. E mesmo com todo o reconhecimento e inserção na pesquisa, nunca deixou de dar aula na graduação", elogia o diretor de medicina da UFRJ, Roberto Medronho.

Atividades como bancas, palestras e congressos foram abolidas da agenda, mas a sala de aula vai permanecer. Ela já chegou a lecionar para a filha mais nova no curso de medicina --a jovem se forma neste ano. A mais velha também fez graduação na UFRJ, em ecologia, e mora no exterior.

Foi a segunda vez que Denise Carvalho se candidatou à vaga de reitora, sempre na oposição. Ela e seu vice, o professor de economia Carlos Frederico Rocha, foram eleitos pela comunidade acadêmica no primeiro turno, com 26% dos votos, considerando o sistema de ponderação.

Eles venceram duas outras chapas, lideradas por Roberto Bartholo Junior e João Felippe Mathias, ambos da Coppe (instituto de engenharia).

Depois, Carvalho foi escolhida por 82 dos 90 votantes do Colégio Eleitoral da UFRJ para aparecer em primeiro lugar na lista tríplice enviada a Bolsonaro. A confirmação da indicação acadêmica para a reitoria não é obrigação legal, mas é tradição.


Raio-x da UFRJ, que completa 100 anos em 2020

  • 399 cursos de graduação, mestrado e doutorado
  • 67 mil estudantes
  • 4.000 docentes
  • 9.000 servidores técnico-administrativos
  • 4 campi (dois no Rio, Macaé e Duque de Caxias)
  • 1.200 laboratórios
  • 13 museus
  • 9 hospitais universitários
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