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Ricardo Podval e Luciana Branco

Uma provocação aos pais que cada vez mais não são presentes na vida das crianças

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Comportamento social no pulso do Varejo

O Dia dos Pais é a quarta data em importância no varejo, perdendo de lavada para Dia das Mães, Natal e Dia dos Namorados. Pesquisas qualitativas realizadas por grandes marcas mostram que o consumidor, quando compra, costuma escolher o presente de última hora ou dar “lembrancinhas” para o pai. Reciclar produtos que se tem em casa para presentear os pais também faz parte do repertório de comportamento dos filhos no Brasil.

A desvalorização da data tem a dizer muito sobre a paternidade no país. Dados do IBGE de 2015 mostram que 80% das crianças brasileiras têm uma mulher como principal responsável. Oitenta por cento. Seria assustador se fosse a maioria, mas estamos falando da imensa maioria dos brasileiros que cresce entendendo que responsabilidade é uma qualidade majoritariamente feminina. O mesmo instituto mostra que há hoje no Brasil 5,5 milhões de brasileiros de até 30 anos sem o nome do pai no registro de nascimento.

A imagem condicionante dos papéis sociais pode levar à compreensão de que os homens não são tão reconhecidos como responsáveis principais pelas crianças, pois estão fora de casa, trabalhando, enquanto as mulheres têm mais tempo para se dedicar aos cuidados familiares. Engano. 

A parcela de lares chefiados por homens no Brasil já é inferior a 40% do total de 69,8 milhões de domicílios existentes no país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE em 2017, o número de lares chefiados por homens era inferior a 40%. Ou seja: mais da metade dos lares são também chefiados por mulheres que, portanto, somam a responsabilidade financeira aos cuidados do dia a dia das crianças.

A legislação trabalhista também não colabora com os pais que trabalham e desejam criar vínculos mais coesos com seus filhos. No Brasil, a licença-paternidade é de apenas cinco dias. Funcionários de empresas cadastradas no programa Empresa Cidadã têm 20 dias de folga quando um filho nasce.

O desequilíbrio de responsabilidades, sejam elas da ordem do tempo ou do dinheiro, há muito pesa sobre as mulheres. O exemplo de uma estrutura desequilibrada de cuidado, vínculo e responsabilidades financeiras naturaliza nas novas gerações um comportamento prejudicial a toda a sociedade. 

Parece óbvio, mas ainda é necessário dizer: um filho é corresponsabilidade de mãe e pai. Na complexidade das relações familiares contemporâneas, cada família pode criar o modelo equilibrado para sua própria existência de forma saudável. Afinal, o desequilíbrio é insustentável —e reverbera atravessando gerações.

Dentro desse contexto social de atualização de comportamento, é animador ver que grandes marcas no Brasil usaram seu poder de comunicação para convidar a sociedade, e especialmente os pais, à reflexão sobre essa lacuna de responsabilidade que há de ser ocupada. Johnnie Walker, campanha que tenho a alegria de assinar; Casas Bahia e Brahma.

Cada uma com seu tom de voz e estética mexeu na ferida aberta há muitos séculos. Machucados que seguem doendo nos filhos e, portanto, contribuindo para uma sociedade carente de afeto e cuidado.

Aos pais, um convite: que pai você ainda pode ser? Que novo passo você pode dar para ocupar melhor esse lugar de honra na vida de uma pessoa? Qual nova responsabilidade você pode assumir? Sem perder a piada: garanto que, além de um presente melhor nesta data de varejo, você poderá experimentar uma existência muito mais orgulhosa.

Ricardo Podval

Diretor-presidente e fundador do Civi-Co, parceiro do Prêmio Empreendedor Social

Luciana Branco

Jornalista e fundadora do hub de comunicação [ EM BRANCO ]

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