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Como cuidar da saúde quando há fumaça intensa e prolongada

Incêndios florestais e agropecuários pioram qualidade do ar e especialistas aconselham a evitar exposição

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Ribeirão Preto

Com qualidade do ar considerada péssima, Manaus vive há semanas sob ondas de fumaça, tendo vivido o mês com a maior quantidade de incêndios nos últimos 25 anos para a região (cerca de 15 mil em todo o Amazonas).

A poluição gerada por incêndios com queima de vegetação, seja florestal, agropecuária ou rasteira, é mais tóxica que a sujeira atmosférica observada em grandes cidades.

Homem de máscara cirurgica perto do porto de Manaus
Homem de máscara cirurgica perto do porto de Manaus - Bruno Kelly/Reuters

Juntamente com partículas de solo e materiais biológicos, esses gases liberados podem conter vestígios de produtos químicos, metais, plásticos e outros materiais sintéticos que o fogo possa ter encontrado e queimado pelo caminho, e também uma mistura de poluentes atmosféricos perigosos como hidrocarbonetos aromáticos ou chumbo.

João Salge, pneumologista do Fleury Medicina e Saúde, destaca que o material particulado de carvão presente na fumaça pela queima da madeira é o mesmo da queima de combustíveis em centros urbanos, mas com o agravante de ser uma situação extrema, aumentada em grande quantidade de uma hora para outra.

"Esse material particulado é derivado de queima de biomassa, então são partículas de carbono aglomeradas. Quanto menor o tamanho, mais profundamente isso chega no pulmão, porque vence as barreiras de filtragem natural que a gente tem nas vias aéreas", diz o médico.

A fumaça traz material particulado que pode chegar a 2,5 microgramas por metro cúbico. Segundo Salge, isto consiste em um material bem fino, capaz de adentrar alvéolos e, portanto, de acessar a corrente sanguínea.

A médica geriatra Carla Núbia Borges, presidente da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Geriátrica (ABNPG) e professora da Universidade Católica de Pernambuco, reforça que a situação que está ocorrendo no Norte do país traz imenso prejuízo à saúde.

"Os efeitos da fumaça, principalmente nos idosos, são extremamente intensos e podem causar doenças respiratórias, cardiovasculares e problemas imunológicos", diz. A fumaça inalada em quantidade pode provocar dificuldade em respirar, tosse seca, broncoespasmo —principalmente em quem já tenha problemas respiratórios prévios ou crônicos—, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), pneumonias, doença fibrocística pulmonar e danos cardiovasculares.

"São patologias que acometem a superfície respiratória, que ficam ainda mais prejudicadas quando em contato com partículas nocivas. Pode também, a longo prazo, aumentar o risco de infarto e provocar câncer, como o de pulmão", diz Borges. A fumaça pode também agravar casos de rinite, alergias e infecções de repetição.

Estudos nos Estados Unidos associaram a fumaça de incêndios florestais a maiores taxas de ataques cardíacos, derrames e paradas cardíacas, além de significativo aumento de visitas a pronto-socorros por problemas respiratórios e baixas imunológicas.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) Norte Americano destaca também crianças e gestantes como grupo de risco, sendo que um estudo feito na Califórnia concluiu que gestantes expostas à fumaça de incêndios florestais tiveram comprometimento da função placentária por alteração das células Hofbauer fetais e do estado imunológico.

O pneumologista Salge diz que usar máscara não traz grande proteção em caso fumaça. "Esse material particulado é dissolvido no ar e essas partículas estão muito pequenas, então as máscaras não são uma barreira para esse tipo de material, talvez para partículas maiores. O ideal é umidificar os ambientes tanto quanto possível e evitar a exposição nos horários mais críticos", afirma o médico.

A geriatra Borges reforça a importância também de manter a hidratação e o tratamento de doenças prévias, bem como evitar atividades fora de casa. Se não houver como evitar a saída ou a fumaça estiver muito próxima do local em que se está, a médica sugere o uso de máscaras N95, para ao menos reduzir o dano.

Segundo a CDC dos EUA, após aspirar fumaça de incêndio, a pessoa deve estar atenta a sintomas como tosse, chiado no peito, olhos ardentes, seios da face e nariz irritados, cansaço, dor de cabeça, batimento cardíaco rápido e dor no peito.

Vale lembrar que os efeitos da exposição à fumaça podem persistir por anos. Uma pesquisa australiana demonstrou que as taxas de doenças cardíacas após contato direto com fumaça podem permanecer elevadas durante dois anos e meio e que, para doenças respiratórias, o risco sobe para cinco anos.

Para Salge, encerrar a fonte da poluição seria a medida urgente mais eficaz a se cobrar em termos de prevenção.

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