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Cresce uso de contraceptivos na África Subsaariana; preferência é por método de longa duração

Na última década, número de mulheres na região usando contracepção chegou a 66 milhões

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Stephanie Nolen
Goaso (Gana)

Em um dia movimentado no Centro de Saúde de Kwapong, na área rual de Gana, Beatrice Nyamekye colocou implantes contraceptivos nos braços de meia dúzia de mulheres e deu a outras oito ou nove uma injeção hormonal de três meses para prevenir a gravidez. Algumas procuraram preservativos ou pílulas anticoncepcionais, mas a maioria queria algo mais duradouro.

"Elas gostam mais dos implantes e injeções", diz Nyamekye, uma enfermeira de saúde comunitária. "Isso as liberta da preocupação, e é privado. Elas nem precisam discutir isso com um marido ou parceiro."

A agitação no centro de Kwapong é ecoada por toda Gana e grande parte da África Subsaariana, onde as mulheres têm a menor taxa de acesso à contracepção do mundo: apenas 26% daquelas em idade reprodutiva na região estão usando um método contraceptivo moderno —diferente dos métodos da tabelinha ou coito interrompido—, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês), que trabalha com saúde reprodutiva e materna.

Sandra Dadjan, à esquerda, administrando uma injeção contraceptiva de três meses para sua cliente Mary Amoako no Centro de Saúde Kwapong no distrito de Asumafo South, região de Ahafo, Gana, em 17 de julho de 2023
Métodos como implantes hormonais e injeções estão alcançando áreas remotas na África, proporcionando mais discrição e autonomia - Natalija Gormalova/The New York Times

Mas isso está mudando à medida que mais mulheres conseguem obter métodos que lhes proporcionam um método acessível e discreto de autonomia reprodutiva. Na última década, o número de mulheres na região usando contracepção moderna quase dobrou para 66 milhões.

"Fizemos progressos, e estamos crescendo: você verá um grande número de mulheres ganhando acesso em um futuro próximo", diz Esi Asare Prah, que gerencia a defesa de direitos no escritório de Gana da MSI, uma organização sem fins lucrativos de saúde reprodutiva.

Três fatores estão impulsionando a mudança. Primeiro, mais meninas e mulheres estão se educando: elas têm mais conhecimento sobre contraceptivos, muitas vezes por meio das redes sociais que alcançam até os cantos mais distantes da região. E elas têm ambições maiores para carreiras e experiências, que serão mais fáceis de realizar se adiarem ter filhos.

Em segundo lugar, a variedade de opções contraceptivas disponíveis melhorou, à medida que fabricantes de medicamentos genéricos trouxeram injeções hormonais e implantes mais acessíveis para o mercado.

Por fim, estradas e planejamento melhores tornaram possível levar a contracepção para áreas rurais, como esta, a nove horas de carro do porto na capital, Acra, de onde os produtos foram enviados por fabricantes da China e do Brasil.

O acesso melhorado resulta em ganhos tangíveis para as mulheres. Em uma clínica movimentada da MSI na cidade de Kumasi, a diretora da operação, Faustina Saahene, afirma que mulheres muçulmanas apreciam os implantes e DIUs (dispositivos intrauterinos) por sua discrição, o que lhes permite espaçar suas gravidezes sem desafiar abertamente maridos que desejam que tenham muitos filhos.

"Sua educação, sua carreira, até o prazer sexual: ter filhos interrompe", diz Saahene antes de conduzir outra cliente pelas portas da sala de exames.

Em toda a região, o controle sobre o acesso à contracepção foi em grande parte retirado das mãos dos médicos, apesar da resistência das associações médicas, que estão preocupadas com a perda de uma fonte de receita confiável. Em muitos países, agentes de saúde comunitários vão de porta em porta com pílulas anticoncepcionais e aplicam injeções no local. Uma injeção autoadministrada está cada vez mais disponível em lojas, onde jovens mulheres podem comprar uma sem o risco de julgamento.

A África Subsaariana tem a população mais jovem e de crescimento mais rápido do mundo; estima-se que quase dobre para 2,5 bilhões de pessoas até 2050.

Apesar de todo o progresso atual, a ONU relata que 19% das mulheres em idade reprodutiva na região tinham necessidade contraceptiva não atendida em 2022, último ano para o qual há dados, o que significa que elas queriam adiar ou limitar a procriação, mas não estavam usando nenhum método moderno.

Gifty Awuah, à esquerda, cabeleireira, no distrito de Asumafo South, região de Ahafo, Gana, em 17 de julho de 2023
Awuah, agora com três filhos, diz que o planejamento familiar não estava disponível na comunidade antes de ela engravidar pela primeira vez - Natalija Gormalova/The New York Times

Problemas de fornecimento também influenciam. Em um período recente de três meses, a clínica de Kwapong ficou sem suprimentos, exceto pílulas e preservativos.

Isso é um sinal de como é difícil levar a contracepção para lugares como este, em um sistema no qual agências de saúde globais, governos, empresas farmacêuticas e empresas de transporte muitas vezes têm mais influência sobre quais contraceptivos as mulheres podem escolher do que as próprias mulheres.

A maior parte dos produtos de planejamento familiar na África é adquirida pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional ou pela UNFPA, com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates. Esse modelo remonta a mais de meio século, a uma época em que as nações ricas buscavam controlar as populações em rápido crescimento nos países pobres.

As grandes agências globais de saúde investiram na expansão do acesso ao planejamento familiar como um complemento lógico para a redução da mortalidade infantil e a melhoria da educação das meninas. Mas a maioria dos governos na África não incluiu isso em seus próprios orçamentos, mesmo que tenha proporcionado enormes ganhos para a saúde das mulheres, níveis educacionais, participação econômica e bem-estar.

Gifty Awuah, 33, que trabalha em um pequeno salão de cabeleireiro à beira da estrada em Kwapong, recebe uma injeção regular a cada três meses. Ela teve seu primeiro filho enquanto ainda estava na escola. "Quando engravidei aos 17 anos, não foi planejado —o planejamento familiar não era acessível como é agora", diz ela. "Você tinha que viajar para a cidade e pagar. Muito dinheiro estava envolvido."

Ela teve que sair da escola quando engravidou. Se tivesse as opções que tem agora, sua vida poderia ter sido diferente. "Se fosse como agora, eu não teria engravidado", afirma. "Eu teria avançado na vida, teria estudado, seria juíza agora, ou enfermeira."

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