KLAUS RICHMOND
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SANTOS

Jair Ventura, 38, se diz persistente. Como jogador, o novo treinador do Santos, viu a carreira ser interrompida precocemente em 2005, aos 26 anos, por uma lesão no joelho. Antes disso, conta ter vivido "o verdadeiro futebol". Trabalhou sem receber, andou por clubes desconhecidos e por países como Grécia, Holanda, França e Gabão.

Fora dos gramados não foi diferente. Após mais de uma década como preparador físico, auxiliar e técnico interino, chega ao Santos em alta.

Até agora, é a principal contratação da diretoria do presidente José Carlos Peres. Apesar do trabalho elogiado no Botafogo, clube que classificou para a última Libertadores, na qual chegou até as quartas de final, sendo eliminado pelo campeão Grêmio, ele quer mais. Ainda não conquistou nenhum troféu desde que se tornou técnico.

"Vivo um novo momento, mas encaro com naturalidade. Procuro ser equilibrado sempre. Tenho muita sede de títulos. Quero conquistar, conversamos a todo tempo sobre títulos", disse o filho de Jairizinho, o Furacão da Copa de 1970, à Folha.

Jair acumula participações em conquistas, mas não tem nenhuma para chamar oficialmente de sua. Dirigiu como interino o Botafogo em três jogos na conquista da Série B do Brasileiro, em 2015, e em uma partida na campanha vitoriosa do Estadual do Rio, em 2010. Pela seleção brasileira, conquistou torneios no cargo de auxiliar-técnico.

Na primeira rodada, o Santos venceu o Linense por 3 a 0. O time volta a campo nesta segunda (22) contra o Bragantino, na Vila Belmiro. "Falta a cereja do bolo para mim."

Expectativa
Vivo um novo momento, mas encaro isso com naturalidade, pois sou um cara equilibrado. Tanto na vitória quanto na derrota, procuro ser sempre a mesma pessoa. Sem euforia quando ganha nem depressão quando perde. Não me considero o pior treinador do mundo, não me escondo debaixo de uma mesa.

Procuro, como gestor de pessoas, passar confiança aos atletas. É isso o que quero para a minha carreira. Já me sinto em casa aqui no Santos.

Busca pelo primeiro título
Os treinadores vivem de títulos aliados a grandes trabalhos. Não adianta ter um título, mas não conseguir dar sequência a um trabalho. Tenho muita sede de ganhar. Quero conquistar, conversamos a todo tempo sobre títulos. Os jogadores querem muito também. Quando unimos isso, a tendência é sermos competitivos. Falta a cereja do bolo para mim.

Estudos
São 13 anos nessa carreira, fiz o meu primeiro curso para treinador em 2005. No segundo semestre, comecei o curso de educação física [na Universidade Estácio de Sá]. Procurei fazer psicologia e análise de desempenho, também, tudo voltado ao futebol. Tirei a licença pela CBF e tinha como plano de carreira a licença europeia para trabalhar fora do país. Isso, claro, antes de eu ser efetivado [como técnico principal do Botafogo, em agosto de 2016].

Sou o mais jovem da Série A, mas nunca estarei pronto, pois vivemos sempre aprendendo, sempre em evolução. Quando você acha que já sabe tudo, está estagnado. Não vou conquistar os meus jogadores pelos meus cabelos brancos, mas pelo meu conhecimento e pela minha transparência, falando sempre a verdade.

Relação com os jogadores
Essa é a parte mais difícil, porque não são só os atletas. É preciso lidar com a imprensa, o estafe, a diretoria, a torcida... Ou seja, são muitas pessoas para saber como se comportar. Acaba sendo até mais importante do que o próprio campo.

Existem treinadores com excelentes treinos, que têm leitura de jogo, mas não possuem o conjunto. É importante o conjunto, fazer o dia a dia saudável e competitivo.

Vida curta como atleta
Não me vejo como um [ex-jogador] injustiçado. Fiz o que tinha que ser feito, o meu melhor, mas isso não foi suficiente. Não sou um cara que gosta de transferir responsabilidades, nenhum treinador teve culpa por eu não ter acontecido.

Fiz um teste em 2000 com o Tite, no Caxias, e ele me mandou embora. Hoje brinco que arrumou um concorrente para a carreira, digo que ele foi um visionário. Corri atrás, vivi o verdadeiro futebol. O cara que trabalha em time pequeno e não recebe, que bebe água da bica, que treina com poucas bolas. Sou muito persistente, por isso estou aqui. Tentei demais a carreira como jogador, mas as coisas não aconteceram. Acho que Deus pensou: você vai conseguir de outra maneira.

Trabalhar na Europa
Digo que não penso só jogo a jogo, mas trabalho a trabalho. Estou feliz no Santos, minha meta é conquistar um título aqui. Não penso muito no amanhã, procuro focar sempre no meu presente. O Santos é minha Europa, é o melhor que eu tenho. Quero conquistar títulos aqui, marcar a minha carreira, a minha história e a desse grupo. Queremos deixar um legado. Hoje, não sonho em treinar um clube europeu.

Relação com o pai
Meu pai [Jairzinho, artilheiro da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970] é o grande responsável pela minha formação como homem. É um cara leal, que fala a verdade e aprendi isso com ele. Nem todos estão dispostos a isso porque a verdade machuca.

Depois que assumi o meu primeiro grande trabalho, em 2016, saímos para jantar, e sugeri não falarmos de futebol quando estivermos juntos. É um acordo que selamos, pois não aguentava mais ir a algum canto e falar de futebol. Falamos da família, do PIB e de tudo o que está acontecendo no mundo.

Cobrança
A cobrança é sempre grande na vida de um treinador. Sempre haverá pressão em um clube como o Santos, assim como no Botafogo. Esperava por isso já em 2005, quando comecei a estudar educação física. Estou feliz, sei das minhas dificuldades. O Santos vem forte, focado e motivado. Respeitamos os adversários, mas brigaremos por títulos.

Robinho e Gabigol
A minha opinião é de campo. Existem vários nomes, então não me sinto à vontade para falar de jogadores que não estão no Santos. O Robinho é um craque, um cara com uma história linda no clube. É um excelente jogador, com quem todo treinador gostaria de contar.

[Sobre o Gabriel] já temos ideias [de como usá-lo], mas é a mesma situação do Robinho. Outro craque, outro cara formado no Santos, com uma passagem linda. Mas como vou usá-lo e se vou ajudá-lo a voltar para a seleção, assim que for apresentado passo tudo direitinho. Temos sempre ideias.

Esquema tático
O meu sistema predileto vai ser sempre adaptado às características dos jogadores que tenho. No Botafogo, joguei no 4-4-2 quadrado, losango, no 4-3-3, no 4-2-3-1 e no 4-1-4-1. Só não joguei no 3-5-2. Tudo isso em um ano e meio de trabalho.

Não fico preso ao esquema, querendo adaptar o jogador sem característica dentro de algo que me sinto confortável. Tem treinadores que gostam, que tem seu sistema predileto. O meu vai ser sempre aquele que os jogadores conseguirem me dar.

Técnico favorito
Não tenho, são várias concepções. Falava do [Diego] Simeone [técnico do Atlético de Madri] porque era similar ao jogo que tinha no Botafogo, mas aqui já é diferente. Vai de acordo com o que você tem, respeitando a característica do seu elenco. Existem muitas maneiras de vencer, creio que precisamos usar o que temos de melhor.

Mudanças na equipe
Já estamos trabalhando, implementando novidades táticas, coisas que não foram visíveis. Isso vai com tempo, entrando em situações ensaiadas. Acredito muito no trabalho, em não engessar os jogadores, mas dar subsídios para eles usarem durante o jogo. Penso muito em todos os momentos.

Nome
Jair Zaksauskas Ribeiro Ventura

Nascimento
19 de março de 1979, no Rio

Clubes como jogador
São Cristóvão, Bonsucesso, Bangu, Mulhouse (FRA), Mesquita, Madureira, América-RJ

Clubes como auxiliar
Botafogo, seleção brasileira sub-17 e CSA

NA TV
Santos x Bragantino
20h - Pay-per-view

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