Descrição de chapéu Copa do Mundo

Grupo punk Pussy Riot invade final da Copa em protesto contra Putin

Banda feminista, famosa por criticar governo russo, quer mais liberdade de expressão

Igor Gielow Fábio Aleixo
Moscou

Ativistas ligadas à banda punk feminista russa Pussy Riot invadiram o campo da final da Copa do Mundo no começo do segundo tempo, interrompendo brevemente o jogo entre França e Croácia. É a primeira vez que o grupo consegue fazer um protesto contra o governo na frente de seu maior alvo, o presidente Vladimir Putin, que está na tribuna de honra do Estádio Lujniki.

A Fifa disse que está investigando como os ativistas conseguiram entrar em campo, mas não fez comentários sobre o protesto em si.

Segundo agências de notícias, a polícia acusou os integrantes do Pussy Riot de duas queixas administrativas, o que na Rússia é menos grave do que ofensas criminais. São elas a invasão do campo e o uso ilegal de uniformes iguais ou semelhantes ao de autoridades policiais.

O zagueiro croata Lovren e um guarda retiram protestante de campo durante a final da Copa do Mundo
O zagueiro croata Lovren e um guarda retiram protestante de campo durante a final da Copa do Mundo - Alexander Nemenov/AFP

​Os ativistas foram identificados como Olga Kuratcheva, Olga Pakhtusova,  Nika Nikulshina e Piotr Verlizov. 

Segundo a agência Reuters, uma das integrantes do Pussy Riot disse por telefone que estava detida numa delegacia. Usualmente, nesses casos as pessoas são fichadas e têm de apresentar à Justiça depois, mas como ela já foi condenada no passado, é incerto o que vai acontecer.

Na delegacia, a integrante filmou comentários de um policial, que disse lamentar “não ser 1937” —ano marcado pelos expurgos promovidos pelo ditador Josef Stálin na então União Soviética.  ​

Aos 7 minutos, dois homens e duas mulheres vestidos com ternos, gravata e chapéu, imitando policiais, entraram no campo. Eles foram contidos pelos seguranças da Fifa, e um, Piotr Verlizov, se atracou com o zagueiro croata Dejan Lovren, que o jogou no chão e cobrou explicações pela interrupção. Não havia nenhuma forma de identificação que permitisse aos espectadores entender do que se tratava a manifestação —que foi vaiada pelo estádio todo.

Segundo comunicado postado em redes sociais pelo Pussy Riot, a intenção do grupo é protestar contra a falta de liberdade de expressão na Rússia de Vladimir Putin. Pede a libertação de presos como o cineasta Oleg Sentsov, que está em greve de fome. Também reivindica o fim do que chama de casos judiciais fabricados contra opositores do governo.

Elas também quiseram homenagear o poeta soviético Dmitri Prigov, cuja morte completa 11 anos nesta segunda (16). Crítico do Estado totalitário comunista, ele criou versos centrados na imagem do policial, em alusão ao poder do governo. Foi detido pela polícia secreta diversas vezes, e internado em manicômio em 1986. Por isso as ativistas escolheram a fantasia de policial.

“As policiais entraram no jogo”, disse o comunicado do grupo. O Pussy Riot ganhou fama mundial em 2012, quando invadiu a Catedral do Cristo Salvador, em Moscou, para cantar uma música de protesto contra o apoio explícito da Igreja Ortodoxa Russa à campanha presidencial de Putin. Elas acabaram condenadas por vandalismo e três integrantes foram para a cadeia, sendo soltas no ano seguinte.

Em várias ocasiões a banda foi atacada por apoiadores de Putin, como durante um show realizado em Sochi durante a Olimpíada de Inverno de 2014. O grupo se define como um coletivo, com um número variável de integrantes, girando em torno de dez jovens.

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