Campeonato Paulista começa, de novo, sob influência direta da Covid-19

Estaduais e esporte mundial convivem e duelam com coronavírus pelo terceiro ano seguido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Santos

Primeiro torneio do calendário do futebol brasileiro em 2022, a Copa São Paulo de juniores teve início em 2 de janeiro e logo se chocou com a variante ômicron do coronavírus. As infecções se tornaram numerosas, o que levantou questionamentos sobre a possibilidade de maiores restrições.

Clubes como Palmeiras, São Paulo e Botafogo foram só os primeiros com casos confirmados de jovens atletas com Covid-19. O Comercial precisou afastar sete jogadores diante do Chapadinha-MA, e o Atlético Mineiro chegou a 12 baixas contra o Andirá-AC.

"Fizemos um protocolo sobre um céu de brigadeiro para a Copinha, mas fomos surpreendidos por esse crescimento acelerado", disse à Folha o médico da FPF (Federação Paulista de Futebol), Moisés Cohen.

O cenário levou a federação a adotar protocolos mais rígidos em sua principal competição, o Campeonato Paulista, iniciado neste domingo (23). Na partida de abertura, o Palmeiras derrotou o Novorizontino, em Novo Horizonte, por 2 a 0.​

Zé Rafael comemora com companheiros e torcedores o primeiro gol do Palmeiras; limitado a 70%, público ficou aglomerado na arquibancada - Palmeiras/Divulgação

​Zé Rafael e Dudu marcaram os gols da partida, que, como todas do certame até segunda ordem, teve público limitado a 70% da capacidade do estádio.

Pelo terceiro ano consecutivo, o principal estadual do Brasil é realizado sob tensão e incertezas ligadas à pandemia. Em 2020, foi paralisado por quatro meses e retomado sem público. Em 2021, foi integralmente realizado com arquibancadas vazias.

"Respeitamos e cumpriremos sempre todo o protocolo apresentado, mas esperamos que as coisas corram de maneira diferente neste ano. Os dois últimos foram muito prejudiciais aos clubes em termos financeiros", afirmou o presidente do Mirassol, Edson Ermenegildo.

"Ficamos sem categorias de base. Reativamos tudo agora, jogamos a Copinha. Teremos o sub-15 e o sub-17", acrescentou o dirigente, procurando manter o otimismo, mas sem deixar de exibir temor. "Esperamos não recuar."

Na semana do início do Paulista, um rígido protocolo foi definido pelo comitê médico da FPF. Entre jogadores, integrantes de comissões técnicas, delegados e árbitros, quem não estiver com o quadro vacinal completo terá e assinar um termo de risco.

Haverá também a exigência de testes do tipo PCR antígeno realizados com antecedência máxima de 24 horas em relação aos jogos. Só não precisarão ser submetidos aos exames aqueles que tiveram Covid-19 a partir de 1º de janeiro. O período de afastamento dos infectados será de dez dias a partir do teste positivo.

A FPF espera evitar a tensão nos bastidores registrada nos dois últimos anos. Em 2021, a entidade mostrou descontentamento e discordou publicamente de recomendações do governo estadual e do Ministério Público paulista. Nesse cenário, partidas foram levadas para fora de São Paulo, e o presidente Reinaldo Carneiro Bastos precisou se defender ao ser chamado de negacionista.

"O futebol sabe a situação que vivemos. Não somos cegos, negacionistas [...] Se o futebol causar danos, seremos os primeiros a parar. Mas a ciência e a medicina indicam que o futebol tem feito a parte, por isso não recebemos a decisão do governo com naturalidade", disse Carneiro Bastos, em março do último ano.

A situação melhorou ao longo de 2021, e o ano terminou sem limitação de público nos estádios. Mas a variante ômicron mudou o cenário e provocou novas restrições, vistas em eventos esportivos ao redor do mundo.

O episódio mais rumoroso se deu na Austrália, que cancelou o visto do tenista Novak Djokovic e o deportou. Dono de 20 títulos de Grand Slam, o sérvio foi impedido de disputar o Australian Open por não estar vacinado contra a Covid-19.

"Fui dar um curso em Davos [na Suíça], com todas as doses em dia. Para entrar, porém, precisei ser testado. E a cada dois dias repetia novamente os testes. Temos que obedecer, são regras. A medida [veto a Djokovic] foi acertada. O exemplo foi ruim", opinou Moisés Cohen.

Na Alemanha, o campeonato nacional de futebol foi retomado com portões fechados em 7 de janeiro. Antes mesmo do anúncio do governo local, clubes como o Bayern e o Red Bull Leipzig se anteciparam e passaram a atuar sem público.

A federação do país fez um apelo para que os atletas ficassem com a vacinação em dia e tomassem a dose de reforço. Já na Inglaterra, 16 jogos da Premier League foram adiados em dezembro, inclusive os do "boxing day", tradicional rodada do dia 26.

"Muito provavelmente, será necessário inserirmos as bolhas novamente. A medida imediata precisa ser a de tirar o público do estádio, pois o grau de transmissão é muito alto e a previsão é para mais de 1 milhão de casos diários. Se atingirmos isso, chegamos ao lockdown", afirmou à Folha o neurocientista Miguel Nicolelis.

Na NBA, entre dezembro e janeiro, mais de uma dezena de jogos foi afetada por surtos que deixaram equipes sem um mínimo de oito jogadores disponíveis para as partidas –os elencos contam com 15 atletas.

"As testagens e o rigor precisam aumentar também nos protocolos. A prioridade é não sobrecarregarmos o sistema hospitalar", clamou Nicolelis.

Todos os quatro grandes do estado se apresentaram com casos em seus elencos. O maior surto se deu no São Paulo, com 14 casos. Santos e Palmeiras registraram números semelhantes. O Corinthians sofreu menos sofreu baixas, com três casos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.