Luís Roberto deve assumir lugar de Galvão como voz da seleção na Globo, mas com menos autonomia

Jogos do Brasil em torneios menores devem ter outros narradores; emissora não comenta mudanças

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São Paulo

Diante da anunciada saída de Galvão Bueno da Globo ao final da Copa do Qatar, em dezembro próximo, a sucessão do principal locutor de esportes do país abre uma bolsa de apostas com alto teor especulativo: quem seria o seu sucessor a partir de 2023?

Todas as fichas, neste momento, estão em Luís Roberto, não por acaso, o único narrador que acompanhará Galvão ao Qatar para a transmissão in loco de jogos pela Globo no mundial.

A maioria das partidas será narrada diretamente de estúdios no Brasil, entre Rio e São Paulo, contando também com Cléber Machado e Renata Silveira pela TV aberta. A lista completa foi oficialmente anunciada na sexta-feira (5).

Os narradores da Globo Galvão Bueno e Luís Roberto; emissora carioca não planeja criar um sucessor do veterano com a mesma concentração de poder e relevância conquistada por ele - João Miguel Júnior/Globo

Luís Roberto já tem sido tratado como segundo locutor da casa há pelo menos dois anos, período de grandes transformações no esporte da emissora. Mas a única seara de Galvão assegurada a ele, por enquanto, é a narração de jogos da seleção brasileira.

A Globo não planeja criar um sucessor do veterano com a mesma concentração de poder e relevância conquistada por ele. Competições mundiais de outras modalidades, com menos holofotes que o futebol, poderão abarcar outras vozes, lembrando ainda que a emissora nem tem mais os direitos de transmissão da Fórmula 1, evento que também ajudou a alavancar o estrelato de Galvão.

Além disso, nessa passagem de bastão, vale a mesma premissa que determinou a substituição de Faustão por Luciano Huck, e, mais anteriormente, de Jô Soares por Pedro Bial. Em resumo, os astros de hoje acumulam menos autonomia que os de ontem.

A Globo reduz, dessa forma, o poder de barganha adquirido por suas grandes grifes, tornando-se menos refém de seus talentos superlativos.

No esporte, o processo de mudança começou com a autonomia da área em relação ao jornalismo, no final de 2017. O segmento passou a ser um terceiro pilar no grupo, ao lado do entretenimento, conceito que também passaria a marcar presença na cobertura esportiva de modo mais evidente.

Pesa ainda, para a escolha por Luís Roberto, o esvaziamento da relevância de São Paulo em relação ao Rio de Janeiro nos investimentos hoje em vigência na Globo, no campo esportivo.

Em conversa com profissionais da área, a reportagem apurou que até os estúdios de Belo Horizonte estão mais aptos que os de São Paulo a abraçar grandes transmissões neste momento.

A percepção da predominância carioca é corroborada pela lista de nomes anunciados para irem ao Oriente Médio na cobertura in loco da Copa. Entre os narradores e comentaristas escalados para viajar ao Qatar, os representantes da sede paulista serão apenas dois: o comentarista Caio Ribeiro, pela Globo, e o narrador Milton Leite, pelo SporTV.

Há um mês, a emissora rescindiu o contrato de Walter Casagrande Jr., também de São Paulo –colunista da Folha–, que figurava como o principal comentarista de futebol da casa desde a Copa do Penta, em 2002.

A Folha tem procurado a Globo insistentemente, por meio de sua assessoria de imprensa, em busca de informações sobre as escolhas a serem feitas após a saída de Galvão Bueno, mas não obteve resposta sobre o assunto até agora.

O Grupo Globo, como um todo, tem acenado com a perspectiva de ampliar a diversidade na frente e por trás das telas, e isso vale também para o esporte. Assim, a movimentação de profissionais neste momento passa por essa questão.

Embora esteja escalada para trabalhar do Brasil em novembro, Renata Silveira será a primeira mulher a integrar uma equipe de narradores de uma Copa do Mundo na TV aberta.

Mas convém ressaltar que a sucessão de Galvão Bueno não será afetada diretamente por essa proposta, já que Luís Roberto ficará com o segmento mais visado por audiência e anunciantes, com voz sobre o futebol da seleção brasileira.

Embora o sucessor não vá acumular a mesma concentração de poder de Galvão, podendo ser mais facilmente substituído quando necessário, convém que a casa tenha um nome hierarquicamente superior aos demais, até para fins comerciais: os anunciantes se sentem mais confiantes em investir em alguém em quem a empresa também demonstra apostar como prioridade.

Em 2018, quando a Globo trouxe Gustavo Villani da Fox Sports, muito se falou em seu nome como substituto de Galvão, e o assunto era já tratado com esses mesmos parâmetros de alguém que seria ungido ao posto de narrador das principais competições transmitidas pela emissora sem, no entanto, ganhar o mesmo poder do antecessor.

Mas Villani não avançou na conquista de espaço, até pelos critérios determinados pela atual direção de esportes da Globo.

Esse é o cenário do momento, lembrando que a emissora terá alguns meses para retomar o fôlego de grandes transmissões, que serão marcadas pela volta da Libertadores, em 2023.

Mas até a Olimpíada de Paris, em 2024, ainda haverá prazo para testar outras alternativas disponíveis para a sucessão de Galvão Bueno em todos os campos esportivos.

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