Cristiano Ronaldo luta contra adeus melancólico da Copa em meio a chiliques, recordes e polêmicas

Responsável por mudar o patamar da seleção portuguesa, camisa 7 já não é mais unanimidade

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Doha (Qatar)

Quando olhou para a beira do gramado e viu seu número aparecer na placa de substituições, Cristiano Ronaldo explodiu de raiva.

Ainda faltavam 30 minutos e mais os acréscimos da partida contra a Coreia do Sul, pela última rodada da fase de grupos, quando Fernando Santos resolveu tirar o capitão português.

Ele passou a braçadeira para o zagueiro luso-brasileiro Pepe e foi flagrado pelas imagens oficiais da Fifa dizendo algo como "que pressa do caralho de me tirar."

Era mais uma polêmica para a lista do camisa 7 no Qatar. Naquela que deverá ser a última Copa do Mundo dele, tem sido assim desde os dias que antecederam a estreia lusitana na competição.

Cristiano Ronaldo treina nesta segunda (5), véspera do jogo contra a Suíça
Cristiano Ronaldo treina nesta segunda (5), véspera do jogo contra a Suíça - Patricia de Melo Moreira/AFP

Desta vez, nem o técnico português colocou panos quentes. "Se eu já vi [a reação dele no jogo]? Vi. Se eu gostei? Nada. Não gostei nada mesmo."

Na véspera do confronto com a Suíça nesta terça-feira (6), pelas quartas de final, às 16h (de Brasília), em Lusail, o comandante evitou cravar o atacante como titular. "Vou colocar a equipe que eu acho que tem que jogar o jogo."

Seria uma grande surpresa, no entanto, se o jogador perdesse a posição na equipe mesmo não sendo mais uma unanimidade como costumava ser.

O jornal português A Bola fez uma enquete sobre a escalação de Cristiano Ronaldo e, segundo a publicação, 70% dos torcedores acreditam que ele deveria começar o jogo com os suíços no banco.

O periódico não divulgou o número de participantes da votação, portanto, não é possível saber o tamanho da amostra, mas a porcentagem chama atenção por se tratar do camisa 7, o maior ídolo do país e responsável por mudar o patamar da seleção portuguesa.

Foi com ele que a nação conseguiu conquistar os dois primeiros títulos de sua história, a Eurocopa de 2016 e a Nations League de 2019.

Na campanha da Euro, curiosamente, ele também começou a competição questionado, à época, por suas atuações ruins. Na estreia, contra a Islândia, foi anulado no empate por 1 a 1. Na rodada seguinte, perdeu um pênalti no 0 a 0 contra a Áustria.

Só deslanchou a partir da terceira partida, quando fez dois gols no empate com a Hungria, por 3 a 3, resultado que classificou Portugal para a fase seguinte como terceiro de sua chave —ele também se tornou o primeiro jogador a marcar em quatro edições da Euro.

A partir dali, ele se transformou no herói da conquista. Deu o sangue pelo time mesmo quando não pôde jogar, como na decisão contra a França. Ele se machucou aos 24 minutos e deixou o gramado chorando.

Mas não se conteve no banco de reservas. Empenhado a ajudar o time, atuou quase como um segundo técnico ao lado de Fernando Santos. A torcida reconheceu o papel dele, sobretudo na hora de passar confiança ao atacante Éder, que entrou no final da partida e ouviu do camisa 7 a profecia de que seria dele o gol do título. Foi.

No Qatar, esse papel de liderança tem sido menos notável. Pelo contrário, Cristiano Ronaldo tem causado mais problemas do que soluções para o time.

A saída conturbada dele do Manchester United, às vésperas do início do Mundial, contaminou o elenco lusitano durante a preparação no Oriente Médio.

Enquanto o time tentava se concentrar na busca pelo inédito título, o litígio do jogador com o clube inglês dominava as manchetes dos jornais da Europa e reverberava entre os atletas portugueses em Al Shahaniya, onde a delegação está hospedada.

A enxurrada de perguntas sobre o assunto deixava os outros jogadores incomodados.

Causou, inclusive, um desconforto com o meia Bruno Fernandes, que além de companheiro do atacante na seleção, também é atleta do United. A despeito do problema, os dois mostraram boa sintonia nos jogos contra Gana e Uruguai.

Diante dos africanos, Cristiano Ronaldo se transformou no primeiro jogador a marcar em cinco Copas do Mundo. Contra os sul-americanos, Bruno fez os dois gols da vitória.

Com a classificação antecipada para as oitavas de final, a situação parecia contornada. O cenário só mudou, novamente, por causa do próprio Cristiano Ronaldo.

A reação destemperada após a substituição no jogo com a Coreia colocou em xeque a capacidade dele de unir o grupo em torno do objetivo de ganhar o Mundial.

Tudo isso justamente num momento inédito da carreira do craque. Pela primeira vez, ele disputa uma Copa na condição de desempregado.

Desde a rescisão com o Manchester United, não houve nenhuma proposta formal de grandes clubes da Europa. Por enquanto, apenas times de centros alternativos estão tentando contratar o jogador.

Segundo o jornal espanhol Marca, ele estaria a caminho de fechar com o Al-Nassr, da Arábia Saudita.

Apesar da boa oferta financeira, esportivamente não é o que o jogador esperava. Na última janela de transferência, por exemplo, ele tentou sem sucesso sair do United porque o time não disputa nesta temporada a Champions League.

Se não fizer uma boa campanha no Qatar, principalmente no decisivo jogo com os suíços, o cenário para ele deverá ficar ainda mais difícil.

Aos 37 anos, Cristiano Ronaldo luta para evitar um fim de carreira melancólico, longe dos grandes palcos do futebol mundial.

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