Leal se sente estrangeiro em sua terra


da Reportagem Local

José Saramago pode até vender bem por aqui, assim como o conjunto pop português Madredeus não faz feio. Mas, para o brasileiro, português mesmo é Roberto Leal.

O cantor de "Bate o Pé" é disparado o português mais citado pelos brasileiros: 15% das lembranças, à frente de Pedro Álvares Cabral (9%) e do poeta Camões (4%).

E Roberto Leal nem tão português é. Nasceu na antiga metrópole, na aldeia de 200 habitantes de Val da Porca, mas chegou ao Brasil com 13 anos e aqui construiu sua carreira, após ser sapateiro e vendedor de doces em São Paulo.

O sucesso veio no fim da década de 70. ""Bate o Pé" é uma chula, ou xote, para os brasileiros", explica. Aos 47 anos, o cantor atualmente divide seu tempo entre o restaurante Marquês de Marialva, que adquiriu há um ano e meio (bacalhau ao forno a R$ 45), e o programa musical que leva seu nome na CNT/Gazeta, nas noites de quinta.

Mas antes de se tornar gourmet, Roberto Leal viveu oito anos em sua terra natal. "Me senti um estrangeiro quando voltei", conta.
A viagem foi em 90, catapultada pelo sucesso em Portugal da novela "Sassaricando", que tinha uma canção de Leal na trilha. A estadia foi marcada por confusões com a Igreja Universal do Reino de Deus.

Logo de cara, Roberto negociou a aquisição de duas rádios locais em Lisboa. "Eu não faço parte da igreja, mas desisti do negócio e repassei as rádios a um bispo amigo meu. O "Jornal Independente", o qual estou processando, me acusou de ser testa-de-ferro da igreja."

Cinco anos depois, Leal se recusou a participar de um ato de artistas contra a aquisição de um antigo teatro pela mesma igreja. Mesmo assim, o cantor trouxe na bagagem para o Brasil, segundo a Associação Fonográfica Portuguesa, dois discos de ouro (mínimo de 20 mil cópias). (IVAN FINOTTI)

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