Leia sobre a Mostra do Redescobrimento - Brasil + 500

Índios entregam carta de protesto a Fernando Henrique


Caio Guatelli/Folha Imagem

FHC assiste a dança de índios ao lado do presidente português, Jorge Sampaio

Tribos que participaram da abertura de mostra na Bienal dizem que "não estão comemorando nada"

da Folha de S.Paulo

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu na noite deste domingo uma carta de protesto de índios xavantes e mehinakus. A carta foi entregue a FHC logo após os índios terem dançado para o presidente brasileiro e o de Portugal, Jorge Sampaio, na abertura da "Mostra do Redescobrimento" -megaexposição de arte que se realiza em comemoração dos 500 anos do Brasil.

A carta, que foi entregue ao presidente junto com uma fita de vídeo, um livro e um CD, diz que os índios "não estão comemorando nada". "Esta não é a nossa comemoração", diz o texto, assinado pelos índios Eurico, xavante, e Ciucartec, mehinaku, e distribuído pela ONG Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas.

Em tom cordial, mas firme, a carta ressalta que os índios compareceram à cerimônia "sem rancor e sem raiva", mas alerta que os territórios demarcados para os indígenas "continuam sendo ameaçados pelos projetos de desenvolvimento que não levam em consideração nosso pensamento e nossa vida".

O presidente FHC não leu a carta, nem viu direito os demais objetos que lhes foram entregues, passando-os à sua assessoria.

A carta afirma também que "o povo brasileiro não conhece o povo indígena". Termina afirmando que os índios estavam ali com o objetivo de realizar "um ritual de passagem para transformar este lugar num país onde nosso povo possa viver".

Confronto marca comemoração
As comemorações dos 500 anos do Brasil foram marcadas no sábado por confrontos entre policiais e manifestantes na BR-367, que liga Porto Seguro a Santa Cruz Cabrália (BA) e terminaram com 141 pessoas detidas.

A PM avançou sobre os índios, que fugiram na direção de Santa Cruz Cabrália. Alguns reagiram, disparando flechadas e jogando pedras. A polícia perseguiu os manifestantes por cerca de um quilômetro, soltando bombas, até dispersar totalmente o protesto.

No momento do conflito, Gildo Terena, 18, da tribo terena de Campo Novo (MT), ficou em frente à barreira policial pedindo para que parassem de jogar bombas e foi agredido pelos policiais. O índio teve traumatismo no maxilar direito, segundo o médico José Caires, do Sindicato dos Médicos da Bahia.

O chefe da Casa Militar do governo baiano, Cristovam Rios, afirmou que as prisões foram feitas sob a acusação de alteração da ordem pública e que a operação foi feita com a "aquiescência e o conhecimento" do general Alberto Cardoso (Segurança Institucional).

Presidente da Funai pede demissão
O presidente da Funai, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, afirmou que a repressão policial a índios nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento na Bahia demonstraram "temor ao povo" por parte do governo.

Marés confirmou que entrega nesta segunda-feira (24) ao ministro da justiça José Gregori, sua carta de demissão, em razão do "fracasso" da festa em Porto Seguro.

O presidente demissionário disse que a Funai foi excluída das negociações para o esquema de segurança nos festejos em Porto Seguro após se manifestar contra a destruição de um monumento de protesto erguido por índios na região. "A política de proteção à festa foi altamente repressiva", disse. Segundo ele, a passeata dos índios começou como "uma manifestação bonita e livre".

"As comemorações ontem (sábado, 22) mostraram bastante o que é o Brasil desde o descobrimento. Iniciou com a destruição de um monumento indigena e terminou com a repressão policial".

Ele criticou a atuação do ministro da Justiça e disse que "faltou apoio" na defesa dos índios. Marés está à frente da Funai há cinco meses.



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