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30/09/2003
-
13h34
da BBC, em Bogotá
A influência do narcotráfico e as negociações de paz com o governo da Colômbia têm levado grupos paramilitares de direita no país a lutarem entre si, em combates que deixaram cerca de 400 mortos nos quatro últimos meses.
A negociação com o governo promete desmobilizar 13 mil combatentes.
Há quatro meses, o bloco Metro, com influência no estado de Antióquia, onde fica a cidade de Medellín, vem passando por um processo de aniquilação por outros três grupos, integrantes das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a maior organização de paramilitares do país.
A briga, cujo saldo está em mais de 400 mortos, começou quando o comandante do Metro, Carlos Mauricio García Fernández, apelidado de Rodrigo Doble Cero, se negou a participar das negociações e fez uma série de denúncias contra integrantes das AUC.
"Rodrigo tem afirmado que não participa dos diálogos porque se trata de uma negociação com narcotraficantes e não está em discussão nenhum tipo de reforma política ou distribuição de riquezas", afirma o cientista político Mauricio Romero, que acaba de lançar um livro sobre o fenômeno paramilitar colombiano.
"Insatisfeitos, outros blocos tentam diminuir militarmente a força de Doble Cero para amenizar o impacto das suas denúncias", declara.
Escobar
Romero explica que, dentro das AUC, está o principal inimigo de Doble Cero, Diego Fernando Murillo, conhecido como Don Berna, um antigo chefe de segurança de setores do narcotráfico e considerado o sucessor de Pablo Escobar.
Don Berna é acusado por Doble Cero de comandar 70% das AUC e 60% do narcotráfico no país.
Já o bloco Metro, de acordo com o seu comandante, é o único grupo ilegal armado colombiano que não depende do dinheiro das drogas.
"Não é uma briga entre anjos. Doble Cero e seu bloco utilizam a extorsão, o seqüestro, a cobrança de impostos nas zonas em que têm influência. Também são conhecidos violadores de direitos humanos e responsáveis por massacres de camponeses", afirma Romero.
"Mas, agora é ele também quem critica os laços que têm setores da polícia e do Exército com as AUC de Carlos Castaño, chefe político, e Salvatore Mancuso, comandante militar."
"De acordo com Doble Cero, alguns comandantes das Forças Armadas Colombianas (Farc) e da política de Antioquia protegem as AUC e têm interesse em acabar com seu grupo".
Falta de autoridade
Na última semana, em uma entrevista em uma escola de Antioquia, Doble Cero afirmou que seus inimigos estão desesperados e criticou a ausência das autoridades militares para acabar com os combates.
"Estamos combatendo há vários dias e ninguém aparece. Parece que estão fazendo vistas grossas, esperando que eles acabem conosco", disse Doble Cero, 38.
"As AUC e o bloco Central Bolívar lançaram uma ofensiva final, desesperada contra meus homens. Parece que o prazo dado por eles está se acabando, estão com o tempo contado", declarou.
Álvaro Valéncia, ex-comandante do Exército, não acredita que as AUC contem com a colaboração de militares colombianos.
Na avaliação dele, as forças militares ainda não agiram porque a situação não está clara.
"É preciso esperar para que as coisas se esclareçam, para poder decidir qual a conduta mais apropriada", diz Valéncia.
"No momento, acho que as autoridades militares devem intervir entre estes grupos hostis e evitar que ocorra uma confrontação armada total", afirma.
Facções
Segundo Rodrigo, dentro das AUC há várias tendências: a tropa, os chefes que não se envolveram com o narcotráfico e os narcotraficantes que compraram o comando da organização.
De acordo com ele, as autodefesas se transformaram em um cartel armado do narcotráfico.
O comandante paramilitar diz que, na negociação com o governo, alguns querem retirar-se do conflito e desfrutar das suas propriedades, enquanto outros querem apenas institucionalizar a corrupção do narcotráfico.
"Os narcotraficantes tinham poder econômico. Através das autodefesas conseguiram um exército rural", afirma Doble Cero. "Agora, com nossa ideologia como escudo, buscam poder político local e nacional", diz.
Doble Cero, que se uniu às Autodefesas em 1989, é considerado um inimigo por seus antigos aliados de luta contra a guerrilha desde maio passado, quando Carlos Castaño exigiu que ele participasse das negociações com o governo e foi sentenciado de morte.
Desde então, perdeu o controle de 37 dos 45 municípios que comandava em Antioquia.
"No incio, Doble Cero criticou os diálogos de paz com o governo, afirmando que estavam contaminados pelos interesses do narcotráfico", lembra o sociólogo e cientista político Ricardo García.
"Em seguida, mudou de posição e pediu para negociar em separado. O discurso dele é parecido com o da guerrilha, porque ele também diz que a negociação deveria incorporar elementos politicos", diz.
Contra-reforma agrária
O paramilitar dissidente diz que o narcotráfico origina um processo de contra-reforma agrária.
Com o dinheiro recebido das drogas, os traficantes compram terras dos camponeses e isso gera mais refugiados internos.
Rodrigo denuncia que, do dinheiro que ganham as AUC com narcotráfico, apenas 5% vai para o conflito. O resto é usado para comprar terras.
Alfredo Rangel, considerado o melhor analista militar na Colômbia, diz que os grupos paramilitares são muito diferentes entre si e contam com fontes de financiamento distintas.
"Não há unidade nacional. Eles não têm um projeto paramiliar único", salienta Rangel.
"O que está ocorrendo agora é uma disputa por controles territoriais entre grupos que têm expectativas distintas diante da possibilidade de desenvolver um processo de desmobilização com o governo nacional", diz.
Na avaliação de Rangel, os grupos que querem se desmobilizar tentam antes ganhar o controle das áreas onde atuam blocos que eles consideram adversários.
Com as suas últimas ações militares, eles tentam acabar com eles, para consolidar uma presença nestas zonas e ter mais força na negociação com o governo, diz o analista.
Especial
Leia mais sobre o conflito na Colômbia
Paramilitares da Colômbia divergem sobre paz e narcotráfico
VALQUÍRIA REYda BBC, em Bogotá
A influência do narcotráfico e as negociações de paz com o governo da Colômbia têm levado grupos paramilitares de direita no país a lutarem entre si, em combates que deixaram cerca de 400 mortos nos quatro últimos meses.
A negociação com o governo promete desmobilizar 13 mil combatentes.
Há quatro meses, o bloco Metro, com influência no estado de Antióquia, onde fica a cidade de Medellín, vem passando por um processo de aniquilação por outros três grupos, integrantes das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a maior organização de paramilitares do país.
A briga, cujo saldo está em mais de 400 mortos, começou quando o comandante do Metro, Carlos Mauricio García Fernández, apelidado de Rodrigo Doble Cero, se negou a participar das negociações e fez uma série de denúncias contra integrantes das AUC.
"Rodrigo tem afirmado que não participa dos diálogos porque se trata de uma negociação com narcotraficantes e não está em discussão nenhum tipo de reforma política ou distribuição de riquezas", afirma o cientista político Mauricio Romero, que acaba de lançar um livro sobre o fenômeno paramilitar colombiano.
"Insatisfeitos, outros blocos tentam diminuir militarmente a força de Doble Cero para amenizar o impacto das suas denúncias", declara.
Escobar
Romero explica que, dentro das AUC, está o principal inimigo de Doble Cero, Diego Fernando Murillo, conhecido como Don Berna, um antigo chefe de segurança de setores do narcotráfico e considerado o sucessor de Pablo Escobar.
Don Berna é acusado por Doble Cero de comandar 70% das AUC e 60% do narcotráfico no país.
Já o bloco Metro, de acordo com o seu comandante, é o único grupo ilegal armado colombiano que não depende do dinheiro das drogas.
"Não é uma briga entre anjos. Doble Cero e seu bloco utilizam a extorsão, o seqüestro, a cobrança de impostos nas zonas em que têm influência. Também são conhecidos violadores de direitos humanos e responsáveis por massacres de camponeses", afirma Romero.
"Mas, agora é ele também quem critica os laços que têm setores da polícia e do Exército com as AUC de Carlos Castaño, chefe político, e Salvatore Mancuso, comandante militar."
"De acordo com Doble Cero, alguns comandantes das Forças Armadas Colombianas (Farc) e da política de Antioquia protegem as AUC e têm interesse em acabar com seu grupo".
Falta de autoridade
Na última semana, em uma entrevista em uma escola de Antioquia, Doble Cero afirmou que seus inimigos estão desesperados e criticou a ausência das autoridades militares para acabar com os combates.
"Estamos combatendo há vários dias e ninguém aparece. Parece que estão fazendo vistas grossas, esperando que eles acabem conosco", disse Doble Cero, 38.
"As AUC e o bloco Central Bolívar lançaram uma ofensiva final, desesperada contra meus homens. Parece que o prazo dado por eles está se acabando, estão com o tempo contado", declarou.
Álvaro Valéncia, ex-comandante do Exército, não acredita que as AUC contem com a colaboração de militares colombianos.
Na avaliação dele, as forças militares ainda não agiram porque a situação não está clara.
"É preciso esperar para que as coisas se esclareçam, para poder decidir qual a conduta mais apropriada", diz Valéncia.
"No momento, acho que as autoridades militares devem intervir entre estes grupos hostis e evitar que ocorra uma confrontação armada total", afirma.
Facções
Segundo Rodrigo, dentro das AUC há várias tendências: a tropa, os chefes que não se envolveram com o narcotráfico e os narcotraficantes que compraram o comando da organização.
De acordo com ele, as autodefesas se transformaram em um cartel armado do narcotráfico.
O comandante paramilitar diz que, na negociação com o governo, alguns querem retirar-se do conflito e desfrutar das suas propriedades, enquanto outros querem apenas institucionalizar a corrupção do narcotráfico.
"Os narcotraficantes tinham poder econômico. Através das autodefesas conseguiram um exército rural", afirma Doble Cero. "Agora, com nossa ideologia como escudo, buscam poder político local e nacional", diz.
Doble Cero, que se uniu às Autodefesas em 1989, é considerado um inimigo por seus antigos aliados de luta contra a guerrilha desde maio passado, quando Carlos Castaño exigiu que ele participasse das negociações com o governo e foi sentenciado de morte.
Desde então, perdeu o controle de 37 dos 45 municípios que comandava em Antioquia.
"No incio, Doble Cero criticou os diálogos de paz com o governo, afirmando que estavam contaminados pelos interesses do narcotráfico", lembra o sociólogo e cientista político Ricardo García.
"Em seguida, mudou de posição e pediu para negociar em separado. O discurso dele é parecido com o da guerrilha, porque ele também diz que a negociação deveria incorporar elementos politicos", diz.
Contra-reforma agrária
O paramilitar dissidente diz que o narcotráfico origina um processo de contra-reforma agrária.
Com o dinheiro recebido das drogas, os traficantes compram terras dos camponeses e isso gera mais refugiados internos.
Rodrigo denuncia que, do dinheiro que ganham as AUC com narcotráfico, apenas 5% vai para o conflito. O resto é usado para comprar terras.
Alfredo Rangel, considerado o melhor analista militar na Colômbia, diz que os grupos paramilitares são muito diferentes entre si e contam com fontes de financiamento distintas.
"Não há unidade nacional. Eles não têm um projeto paramiliar único", salienta Rangel.
"O que está ocorrendo agora é uma disputa por controles territoriais entre grupos que têm expectativas distintas diante da possibilidade de desenvolver um processo de desmobilização com o governo nacional", diz.
Na avaliação de Rangel, os grupos que querem se desmobilizar tentam antes ganhar o controle das áreas onde atuam blocos que eles consideram adversários.
Com as suas últimas ações militares, eles tentam acabar com eles, para consolidar uma presença nestas zonas e ter mais força na negociação com o governo, diz o analista.
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