Publicidade
Publicidade
06/08/2005
-
14h31
da BBC Brasil
No centro da cidade de Hiroshima, no Parque da Paz, encontra-se a Chama da Paz, que só será apagada quando o mundo se vir livre de toda e qualquer arma nuclear. Mas, considerando a situação política global, ela ainda continuará acesa por muito tempo.
As potências nucleares não demonstram o interesse de se desfazerem totalmente de seus arsenais, como se verificou na revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), em maio, e outros países aparentemente teriam interesse em ter seus próprios estoques.
Embora não seja o contexto de uma guerra mundial ou de uma Guerra Fria, ainda existe a ameaça de que se repita uma nova catástrofe como a de Hiroshima, na avaliação de especialistas da área.
"Apenas os atores são diferentes", diz um diplomata brasileiro envolvido na área de não-proliferação nuclear.
"A preocupação não é com Estados Unidos, Rússia ou China. Esse risco está aparentemente afastado. O risco é de um erro operacional, como um acidente em que uma bomba seja disparada por acaso. Cresce também a preocupação da comunidade internacional com outros atores que tenham acesso a armas nucleares, sejam países ou atores não-estatais, como terroristas."
O perigo é que a tecnologia ou a própria bomba "caiam nas mãos erradas", resume o embaixador Antônio Guerreiro, diretor-geral do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty.
Mercado negro
Se de um lado países ou militantes extremistas buscam tecnologia ou armas nucleares, de outro existe um movimentado mercado negro de informações e produtos.
Um dos casos mais recentes foi o cientista paquistanês Abdul Qadeer Khan, que confessou a venda ilegal de tecnologia para Líbia, Irã e Coréia do Norte --países que estão na mira da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Em 2001, a polícia russa prendeu três homens tentando vender a compradores da Turquia 1,7 quilo de urânio-235 --material usado para construir uma bomba atômica.
A chance de que uma bomba atômica "caia nas mãos erradas", no entanto, diminui à medida que essas próprias bombas são eliminadas. O estoque de armas nucleares é, atualmente, bem menor do que no passado.
Na época da Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia tinham, respectivamente, cerca de 32 mil e 45 mil mísseis. Hoje não passaria de em torno de 10 mil e 16 mil.
Os países trabalham inclusive na reciclagem desse material. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam as antigas armas nucleares russas para gerar energia.
Mas o término total desses estoques é impossível, na avaliação de alguns analistas, como Ian Hoare Lacy, diretor da Associação Nuclear Mundial, em Londres. "Não acredito que seja algo realista banir todo o arsenal nuclear existente", diz.
Controle
A solução, portanto, é um rígido controle do arsenal e da tecnologia nuclear, sugerem em coro os especialistas e diplomatas envolvidos em negociações de não-proliferação.
Para Lacy, o TNP, assinado na década de 70, foi eficiente no cumprimento de suas tarefas. "Por causa dele hoje não temos 15 ou 20 potências nucleares", argumenta.
No entanto, o acordo precisa de melhorias, como diz Guerreiro, destacando que energia nuclear para fins pacíficos é um direito de todos os países.
"O que nós temos que fazer é assegurar que essas tecnologias não sejam utilizadas na fabricação de armas nucleares. Para isso existe a AIEA, e é importante que os países adotem os controles de exportação, previstos em resolução do Conselho de Segurança da ONU, para que essas tecnologias de armas nucleares não caiam nas mãos de grupos propensos a praticar o terrorismo."
Henry Sokolski, diretor-executivo do Centro de Educação para Política de Não-Proliferação, em Washington, vai além.
Para ele, é preciso limitar os países que tentam enriquecer urânio, mesmo que para fins pacíficos, já que, no futuro, ele diz, nada impediria que os governos tomassem uma decisão política de construir armas.
A produção própria de combustível nuclear não é nem ao menos economicamente vantajosa, Sokolski argumenta, citando inclusive o caso da unidade de enriquecimento de urânio montada em Rezende, no Estado do Rio de Janeiro.
"Se os países lêem o seus direitos de ter energia nuclear para fins pacíficos e fazendo seu próprio combustível nuclear --o que lhes aproxima de dias de ter um arsenal-- ninguém poderá confiar no outro", afirma.
"Essa suspeita mútua vai dar lugar, em algum momento, à guerra. Essa guerra não será lutada como a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, mas, sim, do modo que conhecemos Hiroshima. Será lutada com munição nuclear."
Ameaça nuclear é diferente, mas ainda existe
ADRIANA STOCKda BBC Brasil
No centro da cidade de Hiroshima, no Parque da Paz, encontra-se a Chama da Paz, que só será apagada quando o mundo se vir livre de toda e qualquer arma nuclear. Mas, considerando a situação política global, ela ainda continuará acesa por muito tempo.
As potências nucleares não demonstram o interesse de se desfazerem totalmente de seus arsenais, como se verificou na revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), em maio, e outros países aparentemente teriam interesse em ter seus próprios estoques.
Embora não seja o contexto de uma guerra mundial ou de uma Guerra Fria, ainda existe a ameaça de que se repita uma nova catástrofe como a de Hiroshima, na avaliação de especialistas da área.
"Apenas os atores são diferentes", diz um diplomata brasileiro envolvido na área de não-proliferação nuclear.
"A preocupação não é com Estados Unidos, Rússia ou China. Esse risco está aparentemente afastado. O risco é de um erro operacional, como um acidente em que uma bomba seja disparada por acaso. Cresce também a preocupação da comunidade internacional com outros atores que tenham acesso a armas nucleares, sejam países ou atores não-estatais, como terroristas."
O perigo é que a tecnologia ou a própria bomba "caiam nas mãos erradas", resume o embaixador Antônio Guerreiro, diretor-geral do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty.
Mercado negro
Se de um lado países ou militantes extremistas buscam tecnologia ou armas nucleares, de outro existe um movimentado mercado negro de informações e produtos.
Um dos casos mais recentes foi o cientista paquistanês Abdul Qadeer Khan, que confessou a venda ilegal de tecnologia para Líbia, Irã e Coréia do Norte --países que estão na mira da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Em 2001, a polícia russa prendeu três homens tentando vender a compradores da Turquia 1,7 quilo de urânio-235 --material usado para construir uma bomba atômica.
A chance de que uma bomba atômica "caia nas mãos erradas", no entanto, diminui à medida que essas próprias bombas são eliminadas. O estoque de armas nucleares é, atualmente, bem menor do que no passado.
Na época da Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia tinham, respectivamente, cerca de 32 mil e 45 mil mísseis. Hoje não passaria de em torno de 10 mil e 16 mil.
Os países trabalham inclusive na reciclagem desse material. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam as antigas armas nucleares russas para gerar energia.
Mas o término total desses estoques é impossível, na avaliação de alguns analistas, como Ian Hoare Lacy, diretor da Associação Nuclear Mundial, em Londres. "Não acredito que seja algo realista banir todo o arsenal nuclear existente", diz.
Controle
A solução, portanto, é um rígido controle do arsenal e da tecnologia nuclear, sugerem em coro os especialistas e diplomatas envolvidos em negociações de não-proliferação.
Para Lacy, o TNP, assinado na década de 70, foi eficiente no cumprimento de suas tarefas. "Por causa dele hoje não temos 15 ou 20 potências nucleares", argumenta.
No entanto, o acordo precisa de melhorias, como diz Guerreiro, destacando que energia nuclear para fins pacíficos é um direito de todos os países.
"O que nós temos que fazer é assegurar que essas tecnologias não sejam utilizadas na fabricação de armas nucleares. Para isso existe a AIEA, e é importante que os países adotem os controles de exportação, previstos em resolução do Conselho de Segurança da ONU, para que essas tecnologias de armas nucleares não caiam nas mãos de grupos propensos a praticar o terrorismo."
Henry Sokolski, diretor-executivo do Centro de Educação para Política de Não-Proliferação, em Washington, vai além.
Para ele, é preciso limitar os países que tentam enriquecer urânio, mesmo que para fins pacíficos, já que, no futuro, ele diz, nada impediria que os governos tomassem uma decisão política de construir armas.
A produção própria de combustível nuclear não é nem ao menos economicamente vantajosa, Sokolski argumenta, citando inclusive o caso da unidade de enriquecimento de urânio montada em Rezende, no Estado do Rio de Janeiro.
"Se os países lêem o seus direitos de ter energia nuclear para fins pacíficos e fazendo seu próprio combustível nuclear --o que lhes aproxima de dias de ter um arsenal-- ninguém poderá confiar no outro", afirma.
"Essa suspeita mútua vai dar lugar, em algum momento, à guerra. Essa guerra não será lutada como a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, mas, sim, do modo que conhecemos Hiroshima. Será lutada com munição nuclear."
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice