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09/09/2005 - 08h21

Esperando quem mesmo?

da BBC Brasil

Dia 5 de agosto de 1955. Primeira noite da versão inglesa da peça Esperando Godot, de Samuel Beckett. Foi no Arts Theatre, em Londres.

Num canto do palco, duas figuras maltrapilhas, ambas de chapéu coco. São Vladimir e Estragon. Vladimir diz, "Ninguém vem. Ninguém vai. É horrível." Da platéia, alguém berra, "Apoiado! Apoiado!" Muitos na platéia concordam.

Há murmúrios cada vez mais altos. Chegam aos apupos. Outra parte da platéia aplaude. Godot chegara. Definitivamente.

Clique para ouvir esta crônica na voz de Ivan Lessa

Samuel Beckett escrevera a peça de dois atos em francês nos anos 40, En atttendant Godot. Deixou na gaveta, não deu muita confiança. Parece que não levava muita fé nela.

Hoje, passados 50 anos, a peça virou referência obrigatória a a tudo, ora bolas! Não dizem que é "um clássico moderno"? Então? Embora ninguém, nem mesmo o próprio Samuel Beckett, tenha explicado de que se tratava. Isso fica por conta do freguês, ou espectador.

Muitos juram que a interação de suas personagens simboliza o tédio e a falta de sentido da vida. E que seu absurdismo é uma forma superior de existencialismo.

No entanto, quem pegar uma boa montagem da peça, ou seja, uma montagem que mantenha as coisas bem simples, e que não venha com a alma de chapéu na mão e de fraque, poderá se divertir um pouco.

É importante evitar qualquer contato com qualquer foto de Beckett. Com aquela cara de ave de rapina, ele não parece uma pessoa com a disposição de divertir outra.

Desta forma, no meu entender, assistir Esperando Godot é mais difícil do que montar e dirigir o espetáculo. Em primeiro lugar, é preciso esquecer tudo que se leu ou que se ouviu falar a respeito.

De que é, nas entrelinhas de seus silêncios e suas pausas, um esquete de teatro-revista, ou que seja um referencial a Buster Keaton, irmãos Marx e a dupla do Gordo e do Magro.

Deixar em casa principalmente, junto com o binóculo de ópera, a noção de que todas as personagens são variações de Carlitos e sua trupe de atores.

Desatenção especial deve ser dada ao fato de que, na França, Chaplin é conhecido como Charlot e que nisto reside o mistério de quem é o famoso e desaparecido Godot.

De qualquer forma, mesmo que o distinto e a distinta odeiem teatro hermético, Esperando Godot já justificou sua existência legando ao mundo uma das mais citadas resenhas da peça.

A honra pertence ao crítico Vivian Mercier, que assim resumiu a peça em dois atos: "Esperando Godot é uma peça onde nada acontece duas vezes".
 

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