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22/12/2005 - 12h23

Coca não pode ser legal só para Coca-Cola, diz Morales

da BBC Brasil

O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, disse em uma entrevista exclusiva à BBC que é preciso "revalorizar" a folha de coca e acusou a multinacional americana Coca-Cola de comprar o produto, apesar de agricultores da região andina do país não terem autorização de exportar a folha.

Morales insiste que a empresa compra a coca, apesar das informações de que o produto saiu da fórmula do refrigerante em 1929.

"Se já retiraram esse ingrediente da Coca-Cola, então por que seguem comprando?", questionou, em entrevista a Luis Fernando Restrepo, da BBC Mundo. "Não é possível que a coca seja legal para a Coca-Cola e ilegal para a comunidade andina. É preciso revalorizar a folha."

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor baseou sua campanha na liberdade de ter plantações de folha de coca. Qual é, afinal, sua proposta sobre esse tema?

Evo Morales - Temos que racionalizar a produção de folha de coca. Fizemos um estudo sobre a industrialização da folha de coca. Até agora conseguimos obter conhecimentos científicos sobre a folha de coca com muitas investigações.

Vamos apoiar isso e se querem ampliar a produção, então, teremos que fazer estudos a respeito.

Muitos temem que essas folhas de coca terminem no processamento da cocaína. Como se pode controlar isso?

Morales A coca na Bolívia é legal, lamentavelmente é legal para a Coca-Cola, mas não é para que a zona andina a envie ao exterior. Não estamos falando de cultivo livre da coca, mas sim da horta de 40 metros quadrados. Essa é uma forma de racionalizar a produção.

Acreditamos que a folha de coca deve sair da lista de venenos das Nações Unidas, há estudos da Organização Mundial da Saúde que demonstram que a coca não é veneno e mais, faz bem ao ser humano.

Mas nesse momento existe um consumo tão grande em seu país para que seja legalizado esse consumo interno tão volumoso?

Morales - A coca é legal na Bolívia. Quem diz que é ilegal? Estou falando da comunidade internacional, e repito, não é possível que a coca seja legal para a Coca-Cola e ilegal para a comunidade andina. É preciso revalorizar a folha.

Dizem que a coca foi retirada da fórmula da Coca-Cola desde 1929...

Morales - Mas quem compra a coca da Bolívia e do Peru? Com pretextos, há quatro anos continuavam comprando a folha. Se já retiraram esse ingrediente da Coca-Cola, então para que seguem comprando? Seu pretexto deve ser para outros fins. Imagina-se, então, como o governo dos Estados Unidos compra a coca, mas para outros fins.

Com relação ao tema dos hidrocarbonetos, alguns dizem que é preciso mais clareza. Falou-se em expropriação, que haveria uma nacionalização. Como será essa nova forma de controle dos hidrocarbonetos?

Morales - Dissemos que se Evo Morales ganhasse, iríamos exercer o direito de propriedade. Não vamos nacionalizar a tecnologia ou os bens das transnacionais.

Como será essa nacionalização?

Morales - Vamos nacionalizar os direitos de propriedade. Se as petroleiras quiserem ser sócios, que sejam, mas não podem ser patrões. Temos todo o direito, histórico e moral, de exercer o direito de propriedade. Vai acabar que continuem tendo a propriedade na boca do poço.

Esses contratos, foi demonstrado, são nulos de pleno direito. Se é preciso fazer outros contratos, que sejam feitos, mas com equilíbrio.

O que queremos é garantir que vão recuperar seu investimento e seus ganhos acumulados, mas sempre com equilíbrio. O Estado boliviano tem que se beneficiar principalmente desse recurso natural.

A partir de quando começaria essa revisão de contratos?

Morales - Primeiro temos que tomar posse como governo e logo organizar as equipes correspondentes.

Mas sim, vamos ser radicais contra empresas petroleiras contrabandistas ou delinqüentes que não pagam impostos.

O senhor se sentaria para conversar com as empresas petroleiras que nesse momento estão em seu país para chegar a um acordo?

Morales - O diálogo está sempre aberto, mas questões ilegais ou com as leis não se negocia. Qualquer diálogo ou negociação é possível, mas sempre sujeito às leis bolivianas.

O senhor não tem concordado com a autonomia que vem sendo exigida por moradores de algumas regiões do país. Como vai lidar com os governadores, já que alguns são a favor da mudança?

Morales - As autonomias são a luta dos estados indígenas. Há muito tempo temos lutado por nossa autodeterminação. Há a questão da autonomia para os povos, as comunidades indígenas, as províncias, as regiões, (mas) não (deve haver) autonomia para a burguesia.

Queremos autonomia com solidariedade, com reciprocidade, mas fundamentalmente com redistribuição das riquezas e dos recursos naturais.

Isso quer dizer que, se amanhã, a Província de Santa Cruz quiser sua autonomia, ela seria concedida?

Morales - Isso dependerá de uma Assembléia Constituinte, que definirá que classe de autonomia queremos. Aí vai se definir que classe de autonomia teremos na Bolívia.

O senhor pode explicar melhor que tipo de autonomia poderia ser concedida?

Morales - Já disse, não (queremos) autonomia para a burguesia, (queremos) autonomia para os povos, para os povos indígenas, autonomia com solidariedade, reciprocidade e redistribuição de riquezas.
 

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